Economia

Bahia registrou mais de 630 mil empreendimentos femininos no último ano

As empreendedoras mulheres recebem menos apoio para a gestão de seus negócios em território baiano do que os empreendedores homens

Por Paulo Neto
Ás

Bahia registrou mais de 630 mil empreendimentos femininos no último ano

Foto: Arquivo pessoal

O Dia Mundial do Empreendedorismo Feminino é celebrado nesta terça-feira (19). Dados do Data Sebrae, plataforma online e gratuita que reúne estudos e pesquisas com as principais informações estratégicas sobre os pequenos negócios brasileiros, apontam que só no último ano as mulheres registraram 633,36 mil  negócios na Bahia.

Embora exista um número significativo de empreendedoras baianas, a pesquisa revela que as mulheres recebem menos apoio para a gestão de suas pequenas empresas. Cerca de 34% dessas empreendedoras recebem suporte de fornecedores e clientes, em contrapartida aos 43% dos empreendedores homens que também são apoiados.

Os números também demonstram que elas possuem uma média de rendimento mensal 16% menor do que eles. A média do rendimento mensal para as mulheres é de R$ 2.360, contra R$ 2.737 dos homens.

Um estudo do Mckinsey Global Institute, que fornece informações para auxiliar a tomada de decisões sobre as questões econômicas e empresariais mais críticas para as empresas e líderes políticos do mundo, explica que a promoção da igualdade de condições de trabalho promoveria um incremento de cerca de 30% do produto interno bruto (PIB) brasileiro. A análise aponta que mulheres geram emprego e oportunidades para outras mulheres, a partir de uma rede de aprendizado e crescimento.

A empreendedora Josenice Lima, de 37 anos, começou o próprio negócio para juntar dinheiro para sair da casa dos pais e financiar o casamento. A partir daí começou a fazer o cabelo de clientes, e percebeu que poderia transformar o pequeno empreendimento em uma empresa sólida, capaz de criar oportunidades para outras mulheres.

Ela recebeu orientação de outras donas de negócios que a ajudaram na gestão estratégica e marketing, que foram fundamentais para o crescimento do negócio. Conhecida como Jô Lima, ela relatou que o esposo era quem cuidava dos dois filhos do casal, enquanto ela tocava a empresa. A empreendedora também buscou apoio do Sebrae, que capacita os micro e pequenos empreendedores como ela.

“Decidi buscar apoio no Sebrae, onde conheci Thamires Maciel. Ela me ajudou a construir uma marca sólida e estratégica, o que transformou meu negócio. Além disso, recebi incentivo de pessoas incríveis como Rosângela Gonçalves e Taiane Almeida, que acreditaram no meu potencial desde o início.”

 

Desafios para o empreendedorismo feminino

Jô Lima enumerou os maiores desafios enfrentados ao começar a administrar o empreendedorismo em Salvador, confira:

• Segurança: ela atribui principalmente a dificuldade a quem empreende na área da beleza. Segundo Jô, os salões e estúdios de beleza, quando localizados em ruas movimentadas, embora atraiam mais clientes, também ficam mais expostos ao risco de violência. As profissionais acabam precisando investir um valor alto em segurança privada, como câmeras, sistemas de alarme e até mesmo seguranças contratados, o que eleva os custos do negócio;

• Falta de acessibilidade na formação: os melhores cursos costumam ser caros e inacessíveis para quem está começando. Além disso, o tempo necessário para frequentar formações também pode ser um obstáculo, especialmente para profissionais que já têm uma agenda cheia;

• Infraestrutura urbana e mobilidade: em algumas áreas da cidade, a falta de transporte público eficiente e a dificuldade de estacionamento implicam no acesso dos clientes aos salões e estúdios. Muitos clientes desistem de marcar serviços devido à dificuldade de chegar ao local. O trânsito intenso, também afeta a pontualidade de profissionais e clientes, o que impacta na qualidade do atendimento. Por causa das dificuldades, muitas empreendedoras precisam se adaptar ao atendimento a domicílio;

• Cultura do preço baixo: a mentalidade de que o serviço mais barato é sempre a melhor opção também foi citada pela empreendedora. Segundo ela, o pensamento gera uma desvalorização do trabalho oferecido pelos profissionais. Muitas empreendedoras precisam buscar um equilíbrio delicado entre preço e qualidade, para não perder os clientes que priorizam o custo. Jô ainda diz que “os clientes precisam entender que um preço justo reflete o investimento em formação, produtos de qualidade e um ambiente seguro”.

• Gestão do tempo: as mulheres geralmente acumulam mais responsabilidades domésticas e familiares, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A carga adicional muitas vezes limita as possibilidades de se dedicarem integralmente aos negócios;

• Acesso ao crédito: dados do Sebrae indicam que 47% das mulheres empreendedoras têm dificuldades para obter linhas de crédito, comparado a 38% dos homens.

 

A porta dos negócios para as mulheres

Jô Lima detalhou a importância do projeto Sebrae Delas – programa que tem como objetivo aumentar a probabilidade de sucesso de ideias e negócios liderados por mulheres – durante a própria trajetória.

“Eles não só me deram apoio, mas também me ofereceram uma plataforma para ser ouvida e me abriram portas que eu nunca imaginei atravessar. Com a ajuda do Sebrae, consegui 'virar a chave' do meu negócio.”

Outra empreendedora, Any Santos, de 33 anos, também viveu uma jornada difícil até estabilizar o próprio negócio. Adotada aos 12 anos, na cidade de Maraú, ela teve acesso á educação tardiamente. Ao concluir o ensino médio, precisou escolher entre cursar a faculdade ou trabalhar, e teve que optar pelo trabalho. Após uma demissão, ela passou a vender geladinho e bolo de pote, mas os lucros não eram suficientes e decidiu buscar oportunidades na capital baiana.


Any Santos é empreendedora | Foto: arquivo pessoal

 

Já em Salvador, passou por algumas experiências de trabalho, sendo a última como gerente de loteria, onde ficou em torno de três a quatro anos em um ambiente de muita pressão e cobranças. A empreendedora disse que começou a sentir a saúde mental afetada e foi quando tomou a decisão de buscar outra oportunidade e começou a formação em massoterapia. Realizou os primeiros atendimentos em casa, aos fins de semana cobrando R$ 50 pelas sessões.

“Comecei atendendo em casa nos finais de semana, nas minhas folgas, em um quartinho dentro de casa mesmo. Comecei cobrando R$50, pois tinha muitas crenças limitantes dentro de mim, eu já era uma boa profissional, já tinha conhecimento, mas as crenças me limitavam, eu não conseguia crescer e eu ficava com muito medo, ‘Vou largar o certo pelo duvidoso’ essas crenças que acredito que todo empreendedor tem quando vai fazer uma transição de carreira.”

A empreendedora disse que a maioria das pessoas próximas a ela criticaram a decisão, mas uma amiga, Mariene Paiva, investiu no empreendimento e comprou os primeiros materiais para iniciar o negócio. Any também citou a “desinformação” como um grande desafio para as empreendedoras que estão começando, por não saberem de onde buscar ajuda no momento inicial. Por essa motivação, decidiu investir em cursos e mentoria, para ajudar as empreendedoras que estão começando.

 

A importância dos cursos e mentoria no empreendedorismo feminino

Any relatou que criou o curso “Gestão de tempo para as mulheres”. Ela divulgou que esse tipo de conhecimento é importante para auxiliar as mulheres a gerirem o tempo em meio às demandas pessoais e profissionais, a partir do reconhecimento das demandas mais urgentes para tornar a rotina mais produtiva.

A empreendedora ministra uma mentoria com o objetivo de direcionar as novas empreendedoras sobre o caminho a ser trilhado, o valor dos preços a ser cobrado e o posicionamento no mercado. A mentoria é denominada “Visionárias da Massagem 360”, na mentoria é trabalhado o início do projeto, desde o empreendimento, a carreira e já informando sobre os desafios que devem ser superados. 

Ela concluiu o relato dizendo que sempre busca informar as demais mulheres sobre a sua história de vida para servir como inspiração para não desistirem. Além de incentivar que as mulheres “não tenham medo de começar”.

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