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Baianos celebram Santa Bárbara nesta segunda; conheça a história desta data

O historiador Rafael Dantas explica a origem da devoção à santa em Salvador

Por Liz Barretto
Ás

Baianos celebram Santa Bárbara nesta segunda; conheça a história desta data

Foto: Amanda Oliveira

Marcando o início dos festejos de dezembro, a Festa de Santa Bárbara enche as ruas do Centro Histórico de Salvador e movimenta a cidade no dia 4. Considerado patrimônio cultural imaterial da Bahia pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC), o festejo se inicia na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, no Largo do Pelourinho, e reúne mais de 10 mil pessoas.

Comemorada há mais de 380 anos, a festa é herança do passado colonial. No século XVII, uma família de origem portuguesa cultuava a imagem da Santa em um morgado na região do comércio, que se tornou o mercado de Santa Bárbara.

Do Comércio ao Pelô

O historiador Rafael Dantas destaca que o local sediou as primeiras celebrações dedicadas à santa. “Uma família de portugueses leva a antiga imagem da santa para um morgado na região do comércio, antigo mercado de Santa Bárbara, e é lá onde acontecem as primeiras demonstrações das festas à santa na cidade de Salvador, que acontecem neste local até o século XIX”, afirmou.

O antigo mercado sofreu um incêndio e a imagem precisa ser transferida. A festa passa a acontecer na Igreja de Corpo Santo, no mercado de Santa Bárbara, localizado na Baixa dos Sapateiros, e, por problemas estruturais, a imagem é doada para Igreja de Rosário dos Pretos, de onde saem os cortejos até hoje.

Nesta Igreja, as devoções à santa não se resumem ao final do ano. São feitas missas em homenagem a esta figura toda última quarta-feira do mês. No mês de novembro, a frequência passa a ser semanal e por fim, no mês de dezembro, é comemorado o tríduo, nos dias 1º e 2, às 18h; e no dia 3, às 9h.

Lázaro Muniz, capelão da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, conta sobre o grupo dedicado à Santa Bárbara. “Existe o grupo Devoção em Santa Bárbara que completa esse ano 25 anos de devoção e se reúne nas últimas quartas de cada mês. Ao longo do ano, existem atividades e missas e vamos nos movimentando para que a festa sempre aconteça com mais carinho, dignidade e devoção acima de tudo”, destaca o padre.

No dia festivo (4), a programação terá início com a alvorada e repique de sinos, às 6h. A Missa campal será às 8h, presidida pelo capelão Lázaro Muniz. Depois disso, a procissão sai da Igreja e percorre as ruas de Salvador.

O religioso também ressalta a importância da divindade para os fiéis. “Há mais de 30 anos a irmandade recebeu esse presente e esse comprometimento de continuar com a devoção. A figura da santa é muito especial, porque ajuda a viver a fé. Uma jovem que entregou sua vida pela causa de Cristo e tem essa relação profunda com o testemunho e o martírio”.

Uma história de fé

Segundo a história de Santa Bárbara. Ela era filha única de Dióscoro, um homem rico que a trancou em uma torre devido ao medo da sociedade corrupta. Ao atingir a juventude, ela saiu do confinamento e conheceu o cristianismo, decidindo dedicar-se a essa fé. No entanto, sua escolha desagradou Dióscoro, que condenou a filha a morte por se recusar a renunciar a Cristo.

Ao ser decapitada, um raio teria atingido o lugar e matado seu pai, estabelecendo a relação com a proteção contra raios e trovões. A santa também é considerada padroeira dos artilheiros, dos mineiros e de todos que trabalham com fogo. Essa conexão com as tempestades levou à sincretização de Santa Bárbara com a orixá Iansã, nas religiões afro-brasileiras.

O sincretismo é resultado da imposição da cultura colonial sobre os povos escravizados e da resistência destes, que continuaram a cultuar seus orixás. Para Adriano Sampaio, apresentador do Podomblé, o sincretismo é um elemento da cultura baiana, mas é preciso destacar que as santas representam coisas diferentes.

“A representatividade de Iansã estava escondida por trás da imagem de Santa Bárbara. Foi a resistência negra que fez com que o Candomblé se entranhasse na perspectiva das Igrejas católicas. Não podemos nos desvencilhar da cultura, mas podemos nos afirmar e separar uma coisa da outra. A gente pode ir para a festa, sabendo que é de Santa Bárbara e gostar de Iansã, mas não é preciso fazer esta associação”, afirmou.

Rafael Dantas, pesquisador em iconografia, reconhece a presença das religiões de matriz africana na composição do festejo e ressalta que são duas figuras distintas. “É uma festa que tem um sincretismo muito forte com Iansã. Mas temos que lembrar que Santa Bárbara é uma coisa e Iansã é outra divindade. São signos e elementos diferentes, mas que estão presentes em Salvador, carregados de axé, de fé e de simbolismos”, ressalta o historiador.

No percurso da procissão, estão o Largo do Pelourinho, Terreiro de Jesus, Praça da Sé, Praça Municipal, Ladeira da Praça e a sede do Corpo de Bombeiros, onde a santa é homenageada por ser a padroeira desses combatentes.

Padroeira dos bombeiros

A devota de Santa Bárbara e subtenente do Corpo de Bombeiros, Marly Nery, afirma que sua relação com a divindade se iniciou antes de sua entrada na corporação. “Eu sempre gostei de participar da festa. Acompanhava a procissão, as missas campais no pelourinho. Ela é um dos pilares da minha vida. Quando chego no quartel eu rezo por ela, peço proteção, e ela nunca me falta”, relata a bombeira.

Por ser a padroeira da entidade, o Corpo de Bombeiros se envolve na organização e realização da procissão, que em parte do percurso entra na sede do 1º Batalhão de Bombeiros Militar, localizado na Barroquinha.

“Todos os anos fazemos parte dos planejamentos da festa e realizamos reuniões com outros órgãos. Durante parte do cortejo, um integrante do corpo participa segurando o andor. A procissão entra no quartel, a santa vem da Igreja de Rosário dos Pretos e se encontra com a imagem daqui”, destaca Marly.

A subtenente acredita que a data é um momento de união e contato com a comunidade. “Participam desse momento não só os bombeiros, mas toda comunidade do entorno, e os devotos, que vêm de todos os cantos. É muito emocionante chegar aqui e encontrar aquela miscigenação de pessoas festejando Santa Bárbara”, acrescentou.

No quartel também é servido o tradicional Caruru aos devotos. Ano passado, o ato não pôde ser feito por conta dos casos de Covid-19 no estado, mas que em 2023 volta a fazer parte da procissão.

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