BC intensifica alta de juros, eleva Selic a 11,25% ao ano e cita incerteza nos EUA
Decisão pelo aumento mais agressivo da Selic veio em linha com a expectativa consensual do mercado financeiro
Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central decidiu nesta quarta-feira (6) intensificar o ritmo de alta de juros e elevou a taxa básica (Selic) em 0,5 ponto percentual, de 10,75% para 11,25% ao ano.
No comunicado, o colegiado disse que o ambiente externo permanece "desafiador", apontando como principal fator a incerteza nos Estados Unidos, logo após a vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos.
Segundo o comitê, a conjuntura econômica incerta "suscita maiores dúvidas sobre os ritmos da desaceleração, da desinflação e, consequentemente, sobre a postura do Fed [Federal Reserve, o banco central dos EUA]".
Houve unanimidade entre todos os membros do comitê. Essa foi a primeira decisão do colegiado desde a aprovação de Gabriel Galípolo para chefiar o BC em 2025. A transição de comando da autoridade monetária vai até o fim do ano, quando termina o mandato de Roberto Campos Neto, em meio à escalada de juros.
A decisão pelo aumento mais agressivo da Selic veio em linha com a expectativa consensual do mercado financeiro. Levantamento feito pela Bloomberg mostrou que a alta de 0,5 ponto era a projeção unânime dos economistas consultados.
O ciclo de subida teve início na última reunião, em setembro, quando o Copom optou por um movimento mais gradual, de elevação de 0,25 ponto percentual -primeiro aumento feito no terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Com a segunda alta consecutiva, a Selic se iguala ao nível em que se encontrava em março deste ano. Na época, contudo, a trajetória dos juros seguia em direção oposta, com o processo de flexibilização em curso.
Neste ano, o Copom tem só mais uma rodada de reuniões, nos dias 10 e 11 de dezembro. Em 2025, sete dos nove membros da cúpula do BC terão sido nomeados por Lula -três novos nomes serão indicados até o fim de 2024.
Nas últimas semanas, analistas passaram a apostar em um choque maior de juros para levar a inflação em direção à meta devido a diversos fatores, entre eles risco fiscal e depreciação cambial.
A cotação do dólar usada pelo Copom no encontro anterior foi de R$ 5,60 -na última sexta-feira, a divisa fechou a R$ 5,869, maior valor desde maio de 2020. Nesta quarta, a moeda norte-americana oscilou com a reação dos investidores à vitória de Trump.
O câmbio já vinha apresentando bastante volatilidade nos últimos dias por fatores domésticos, com a expectativa dos agentes econômicos ao anúncio do pacote de medidas de corte de gastos, que até agora não ocorreu. Como mostrou a Folha de S.Paulo, uma ala do governo Lula defende adiar a divulgação do plano para a próxima semana para evitar que o impacto positivo fique diluído.
A incerteza dos economistas sobre os rumos das contas públicas do país também gerou reflexo nas expectativas de inflação, que seguem cada vez mais distantes da meta perseguida pela autoridade monetária.
O alvo central do BC é 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Isso significa que o objetivo é considerado cumprido se oscilar entre 1,5% (piso) e 4,5% (teto).
Segundo dados do último boletim Focus, os analistas projetam que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) feche o ano em 4,59%, acima do teto da meta. Para 2025 e 2026, as estimativas estão em 4,03% e 3,61%, respectivamente.
A resiliência da atividade econômica também colocou pressão extra sobre a decisão do Copom. Com os efeitos defasados da política monetária sobre a economia e o sistema de meta contínua de inflação, o BC já trabalha com o IPCA de 2026 na mira.