Bolsonaro divulga documentos com detalhes da invasão de hacker no sistema eleitoral em 2018
Invasor revelou em reportagem ter tido acesso a diversos documentos sigilosos e redes de diversos estados
Foto: Reprodução
Na entrevista ao programa "Pingo nos Is", da Jovem Pan, que ocorreu na noite dessa quarta-feira (4), o presidente Jair Bolsonaro prometeu que divulgaria documentos que comprovam, com base em informações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), "que o sistema eleitoral brasileiro foi invadido" em 2018, ano que em que foi eleito presidente do país. O chefe do Executivo pauta sobre a importância da adoção do voto impresso, formato que, segundo ele, é auditável e confiável.
Conforme prometido, ele publicou em suas redes sociais documentos que foram apresentados no inquérito aberto pela Polícia Federal em 2018, no qual informa sobre um hacker que invadiu a rede e servidores da rede interna do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de Pernambuco, bem como de toda a Justiça Eleitoral. Os acessos ocorreram entre 18 a 21 de abril de 2018, por diversas vezes durante todo o dia.
O tema se tornou público após uma reportagem publicada pelo site TecMundo, em novembro de 2018, onde o hacker revela ter tido acesso à rede interna do TSE por vários meses, inclusive ter obtido milhares de códigos-fontes, que lhe permitiram invadir documentos sigilosos, credenciais e até ao login de um dos ministros, Sérgio Banhos.
O documento compartilhado por Bolsonaro, destinado ao secretário de Tecnologia da Informação do TSE, Giuseppe Janino, detalha minuciosamente todos os acessos feitos pelo atacante, que logo depois migrou para os bancos de dados entre regionais, ou seja, sistemas da Bahia, Goiás e São Paulo, também foram alvos. [Confira aqui o documento completo]
O texto também diz que houve tentativas de invasão na Justiça Eleitoral do Acre, Paraná, Ceará, Bahia e Paraíba.
O presidente Jair Bolsonaro também disponibilizou o documento em que Janino responde o TSE, após a reportagem do TecMundo, e afirma que com relação ao conteúdo revelado pelo jornalista, foi possível afirmar uma série de acessos de código-fonte "possivelmente da versão usada nas Eleições 2018, porém sem as assinaturas da Cerimônia de Lacração", "senhas para oficialização dos sistemas Candidaturas e Horário Eleitoral utilizadas para a Eleição Suplementar 2018 de Aperibé/RJ", o manual técnico da impressora de votos, entre outros. [Confira aqui o documento completo]
No documento, Giuseppe Janino ainda esclarece as consequências para cada sistema invadido. Entre eles, a alteração de dados dos partidos e candidatos (até mesmo sua exclusão) do processo eleitoral, que segundo ele, afetaria somente a Eleição Suplementar do RJ; copiar os dados dos eleitores e candidatos que alimentam as urnas, no entanto, sem adulterações.
Ainda no texto, ele frisa a urgência de abertura de inquérito policial e tramitação do processo.
TSE rebate acusações de Bolsonaro
O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, divulgou uma nota para rebater as acusações do presidente Bolsonaro e esclareceu que o código-fonte em questão é "assinado digitalmente e lacrado", sendo anulada a possibilidade de adulteração.
Barroso ainda pontuou que as urnas eletrônicas não são conectadas à internet, e que isso impede a interferência no processo de votação e apuração. " Por essa razão, é possível afirmar, com margem de certeza, que a invasão investigada não teve qualquer impacto sobre o resultado das vantagens", escreve.
Confira a nota na íntegra
1. O episódio de 2018 foi divulgado à época em veículos de comunicação diversos. Embora objeto de pesquisa sigiloso, não se trata de informação nova.
2. O acesso indevido, objeto de investigação, não representa qualquer risco à integridade das alterações de 2018. Isso porque o código-fonte dos programas utilizados passa por sucessivas verificações e testes, aptos a identificar qualquer alteração ou manipulação. Nada de ocorrências anormais.
3. Cabe acrescentar que o código-fonte é acessível, a todo o tempo, aos partidos políticos, à OAB, à Polícia Federal e a outras entidades que participam do processo. Uma vez assinado digitalmente e lacrado, não existe a possibilidade de adulteração. O programa simplesmente não roda se vier a ser modificado.
4. Cabe reiterar que as urnas eletrônicas jamais entram em rede. Por não serem conectadas à internet, não são passíveis de acesso remoto, o que impede qualquer tipo de interferência externa no processo de votação e apuração. Por essa razão, é possível afirmar, com margem de certeza, que a invasão investigada não teve qualquer impacto sobre o resultado das vantagens.
5. O próprio TSE encaminhou à Polícia Federal as informações necessárias à apuração dos fatos e prestou as informações disponíveis. A investigação corre de forma sigilosa e nunca se comunicou ao TSE qualquer elemento indicativo de fraude.
6. De 2018 para cá, o cenário mundial de cybersegurança se alterou, sendo que novos cuidados e camadas de proteção foram introduzidos para aumentar a segurança de todos os sistemas informatizados.
7. Por fim, e mais importante que tudo, o TSE informa que os sistemas usados ??nas Eleições de 2018 estão disponíveis na sala-cofre para os interessados, que podem analisar tanto o código-fonte quanto os sistemas lacrados e constatar que tudo transcorreu com Precisão e Lisura.