Brasil registra aumento de mais de 150% em internações por infarto em 14 anos
Alta foi similar entre homens e mulheres, mas pacientes do sexo masculino têm incidência muito maior
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
O Brasil, em 14 anos, registrou um aumento de mais de 150% das internações por infarto em todo o país. O levantamento foi feito pelo Instituto Nacional de Cardiologia (INC) e considerou o período entre 2008 e 2022.
O estudo considera números do Sistema de Internação Hospitalar do Datasus, banco de dados do Ministério da Saúde. As informações, portanto, levam em conta todos os pacientes que utilizaram hospitais públicos ou privados por meio de convênio.
Isso já representa de 70% a 75% dos pacientes de todo o país, mas, como não reflete o dado completo de internações, esse número pode ser ainda maior. Segundo a cardiologista Marianna Andrade, o cenário é preocupante, mas pode ser ainda pior, já que a expectativa é de que as taxas cresçam a cada ano.
“Para os próximos anos, no ritmo em que estamos, não há qualquer indicativo de que esse crescimento seja interrompido ou revertido. Mas a divulgação de dados como esses é muito importante, porque serve de alerta, tanto em termos de políticas públicas, quanto para a própria população, do caminho que estamos seguindo”, ressaltou a médica, que é diretora estadual de Prevenção Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), em entrevista ao Farol da Bahia.
O estudo contou separadamente os pacientes do sexo masculino e feminino e constatou um equilíbrio no aumento das internações por gênero. Entre os homens, no entanto, a média mensal é muito maior. A alta foi de 5.282 para 13.645, representando uma elevação de 158,32%. Já entre as mulheres, a taxa cresceu de 1.930 para 4.973, correspondendo a um aumento de 157,59%.
Fatores
Segundo Marianna Andrade, o envelhecimento da população e o aumento da obesidade entre os brasileiros são dois fatores preponderantes para o aumento nas internações por infarto.
“O envelhecimento é um fator preponderante, porque o infarto é muito mais recorrente em pessoas a partir dos 63. E a obesidade, que também é um destaque, tem muito a ver com o estilo de vida que a população costuma ter atualmente, com sedentarismo, estresse, ansiedade. Outro ponto é o fato de ainda não termos total controle sobre fatores como colesterol, hipertensão e diabetes”, explicou a especialista.
A obesidade é o caso do professor Wilton Maia, que passou por um grande susto em 2013, quando sofreu um infarto aos 57 anos, e ficou três semanas internado. Após o caso e um “ultimato” do médico que o atendeu, ele mudou os hábitos e hoje tem uma vida saudável. Desde então, ele não teve nenhum outro ataque cardíaco, mas continua a se consultar com o cardiologista a cada seis meses.
“Senti uma dor muito forte no coração e avisei a minha esposa que não conseguia respirar. Ela prontamente chamou o Samu e eu fui levado para o hospital. Cheguei a ficar desacordado, mas a equipe médica me salvou. O cardiologista que me atendeu disse que se eu tivesse chegado lá minutos depois, poderia ter morrido. E ele me disse que se eu não mudasse meus hábitos, tinha boas chances de sofrer um novo infarto e não resistir”, relatou.
O infarto do miocárdio consiste na morte das células de uma região do músculo do coração, que é causada quando há a formação de um coágulo, responsável por interromper o fluxo sanguíneo súbita e intensamente. Normalmente o ataque cardíaco acomete pessoas idosas, porém, apesar de raro, é cada vez maior a presença da condição em pessoas mais jovens. O estudo, no entanto, não detalha a porcentagem por idade das vítimas de infarto entre 2008 e 2022.
Prevenção
De 2017 a 2022, 7.368.654 brasileiros morreram vítimas de doenças cardiovasculares. Este número torna essa a principal causa de óbitos entre adultos no país.
Para reverter este cenário, a cardiologista Marianna Andrade aponta que é preciso reeducar a população, para que haja uma cultura de iniciar desde cedo a prevenção a doenças futuras.
“É importante que os hábitos saudáveis sejam preservados desde a infância. Então, a criança precisa ser ativa, fazer alguma atividade física, se alimentar bem, com comida de verdade, com verduras, com frutas. Não adianta deixar para mais tarde. E mais: quando um paciente já sofreu infarto, ele precisa mudar imediatamente o modo de vida, abandonar o sedentarismo e sempre se consultar com um cardiologista, porque o risco de reincidência é alto se o corpo permanecer no mesmo estado de saúde”, detalhou a profissional.