Brasil registrou 5 denúncias de antissemitismo por dia em 2024, diz relatório
As organizações contabilizaram 1.788 denúncias no ano passado, contra 1.410 em 2023, um crescimento de 27%

Foto: Agência Brasil
O Brasil registrou uma média de 4,9 denúncias por dia de antissemitismo em 2024, maior do que a média de 3,9 observada em 2023, ano dos ataques terroristas do Hamas a Israel que desencadearam a guerra hoje em curso. As informações são do Relatório do Antissemitismo no Brasil, elaborado pela Confederação Israelita do Brasil (Conib) e pela Federação Israelita do Estado de São Paulo (Fisesp).
As organizações contabilizaram 1.788 denúncias no ano passado, contra 1.410 em 2023, um crescimento de 27%. Em 2022, antes do conflito, foram 397 denúncias, uma média diária de 1,1.
"O antissemitismo é histórico e existe no mundo todo. No entanto, o Brasil foi o país que apresentou a maior taxa de crescimento do antissemitismo após os ataques de 7 de outubro", afirmou Claudio Lottenberg, presidente da Conib, no evento de lançamento do relatório.
O aumento das denúncias ocorre principalmente no meio digital. Se em 2022 os casos de antissemitismo online e offline eram semelhantes (202 e 192, respectivamente), no ano seguinte o número de denúncias no ambiente virtual quase triplicou em comparação com os casos offline (1049 e 363).
Em 2024, essa proporção se reduziu, mas se manteve próxima de três vezes, o que explica as enormes variações proporcionais em comparação com 2022 e com os meses de 2023 anteriores à guerra: o total de denúncias em 2024 foi 4,5 vezes maior do que em 2022.
O documento lista uma série de exemplos de casos de antissemitismo, de agressões verbais a apologias do nazismo, como cartazes festejando Hitler e um episódio em que um homem cuspiu em judeus em São Paulo e gritou "Heil Hitler" e "Heil Hamas".
Há também casos associados à pintura de um mural em um prédio com os dizeres "Palestina livre do rio ao mar", slogan que, segundo o relatório, "trata de uma reivindicação pela eliminação do Estado de Israel, e por consequência, dos judeus que ali habitam", uma vez que "observando o mapa de Israel e da Palestina, o único rio é o Jordão e o único mar é o Mediterrâneo".
"Ainda que muitos militantes pela causa palestina contestem que este é o único significado do slogan, ele faz uso desta ambiguidade e não explicita que não seja este o seu sentido. Por consequência, ele serve como um chamado à eliminação de Israel e dos israelenses e é frequentemente assim que é interpretado tanto por judeus e israelenses quanto por militantes pela causa palestina", diz o texto.
O relatório destaca também exemplos de publicações em redes sociais que chamam judeus de ratos e nojentos, e outra que fala que judeus "comemoram a morte de Jesus bombardeando a Palestina". O X é a plataforma predominante das denúncias, com quase 50% dos casos registrados online.
O levantamento considera válidas as denúncias que chegam por formulários de instituições judaicas, como a Conib e Fisesp, ligações telefônicas, emails, relatos presenciais a essas entidades e mensagens via WhatsApp e Telegram.
"Uma vez recebida, cada denúncia é registrada e avaliada. Caso seja identificada como duplicada ou não se enquadre na definição de antissemitismo adotada pela Aliança Internacional para a Memória do Holocausto (IHRA), a ocorrência é arquivada", diz o relatório na seção metodológica.
"O enfrentamento ao antissemitismo passa, necessariamente, pelas esferas da educação e da política. Ou seja, pela compreensão do seu funcionamento e repertório histórico, somado a políticas de proteção e repressão ao antissemitismo. É nesses sentidos que o relatório pretende atuar", afirmou Bruno Cardoni, coordenador do projeto de combate ao antissemitismo da Conib, durante evento de divulgação da pesquisa.
O relatório afirma ainda que, uma vez validadas, as denúncias são classificadas e então podem receber sugestões de ações, como orientação para um boletim de ocorrência, ou são encaminhadas a autoridades competentes, entre outras indicações.
A publicação traz parte da pesquisa Global 100 da Liga Antidifamação (ADL, na sigla em inglês) correspondente ao Brasil, na qual são analisados sentimentos direcionados a judeus.
Segundo a pesquisa, 68% dos brasileiros têm "opiniões favoráveis sobre os judeus", parcela mais alta do que a média regional de 49%. A pesquisa ainda indica que 26% da população adulta brasileira mantêm "crenças antissemitas significativas", número também abaixo da média global de 46%.
A pesquisa indica ainda que 75% dos brasileiros acreditam que os judeus sejam mais leais a Israel do que ao Brasil.