Brasil tem que mostar que tem "vontade política de conter o desmatamento", diz Noruega
País é o maior doador do Fundo Amazônia

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O advogado Sveinung Rotevatn, 33 anos, ministro do Clima e Meio Ambiente da Noruega, disse, em entrevista ao Valor Econômico, que para o Fundo Amazônia voltar a operar, é preciso que o governo brasileiro dê “sinais políticos claros de que a ilegalidade não será tolerada” e que “tem vontade política de conter o desmatamento”. Segundo ele, o contribuinte, o governo e o Parlamento noruegueses estão “profundamente preocupados” com os níveis de desmatamento da Amazônia que vêm sendo registrados e com a vulnerabilidade dos povos indígenas. O mundo dos negócios e os investidores financeiros “temem pela sua reputação e pelo risco financeiro, quando o tema é o desmatamento da floresta”.
A Noruega é o maior doador do Fundo Amazônia, que recebeu mais de R$ 3,4 bilhões desde sua criação, em 2008, e aloca recursos em projetos de desenvolvimento sustentável na região desde que o desmatamento esteja sob controle. O país é responsável por contribuir com mais de 90% dos recursos e tem a Alemanha como parceira.
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, interferiu, em 2019, no Fundo Amazônia alegando irregularidades dos projetos geridos pelo BNDES. Porém, as acusações não foram comprovadas. Com isso, o fundo deixou de funcionar e os repasses dos doadores foram congelados. “É uma situação muito infeliz”, diz o ministro norueguês sobre o congelamento do mecanismo. Ele afirma estranhar a intenção de Salles de tirar as ONGs do conselho. “É uma proposta bastante peculiar porque o envolvimento da sociedade civil no Fundo Amazônia foi parte do desenho original feito pelo Brasil. E esta arquitetura, com a participação da sociedade civil, foi um dos motivos que fizeram com que achássemos que a iniciativa era uma boa ideia”, disse Rotevatn.
Atualmente, a Noruega continua sendo um parceiro ativo de várias instituições no Brasil, mesmo com a paralisação do Fundo Amazônia. O país tem ajudado em projetos de pagamentos de serviços ambientais de produtores rurais que não derrubam florestas que poderiam legalmente desmatar, por exemplo. Rotevatn reconhece que os países ricos fizeram erros aos se desenvolver de modo insustentável. “Mas aprendemos com eles. Acho importante não repetir os mesmos erros em países atualmente em desenvolvimento.”