Cadeira escondida no quadro da Mona Lisa transforma o significado da obra-prima de da Vinci
Pintura de 1503 de Leonardo da Vinci é a obra de arte mais famosa do mundo
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Foto: The Art Archive / Musée du Louvre Paris
Escondida mas à vista de todos, a cadeira em que a Mona Lisa, de Leonardo da Vinci, está sentada pode ser a seta que aponta o caminho para os significados mais profundos do retrato emblemático feito em 1503, estrelado por Lisa del Giocondo, uma mulher de 24 anos, mãe de cinco filhos e esposa de um rico comerciante de seda florentino.
A cadeira da obra de arte mais famosa do mundo parece ser o aspecto mais esquecido da pintura. Ainda que seja a única coisa que a modelo de Leonardo agarra com a mão.
Durante séculos, nossa atenção se concentrou em outra parte do pequeno painel de óleo sobre choupo que Da Vinci nunca terminou por completo e sobre o qual, acredita-se, ele continuou a trabalhar obsessivamente até sua morte em 1519.
A preocupação com o sorriso inescrutável de Mona Lisa é quase tão antiga quanto a pintura. O fascinante mistério do sorriso de Mona Lisa e como Leonardo magicamente o aproveitou para criar "algo mais divino do que humano" e ainda "nada mais e nada menos do que vivo" acabaria sendo muito intenso para muitos.
Em um material divulgado pela BBC, o escritor e historiador renascentista Giorgio Vasari, em sua sua célebre obra Vidas dos mais destacados pintores, escultores e arquitetos, destacou que o sorriso de Mona lisa parecia ser a própria pele. " A boca, com a sua abertura e as suas pontas unidas pelo vermelho dos lábios às tonalidades da carne do rosto. Pareciam, na verdade, não serem cores, mas a própria pele (...) do fundo da garganta, se você olhasse com atenção, dava para ver a batida do pulso".
Já para Alfred Dumesnil, crítico de arte francês do século 19, o paradoxo da pintura é completamente paralisante. O "sorriso é cheio de atrativos, mas é a atração traiçoeira de uma alma doente que retrata a loucura. Este olhar, tão suave mas ganancioso como o mar, devora."
De acordo com o mito popular, Maspero, que supostamente terminou seus dias se jogando da janela de seu quarto de hotel em Paris, foi levado a uma distração destrutiva pelos sussurros mudos dos lábios extasiados de Mona Lisa.
Em um artigo sobre Da Vinci, em 1869, o escritor vitoriano Walter Pater escreveu que acredita que é a "delicadeza" com que as mãos e pálpebras da Mona Lisa foram pintadas, nos paralisa e hipnotiza para que acreditemos no poder sobrenatural da obra. "Todos nós conhecemos o rosto e as mãos da figura, naquele círculo de pedras fantásticas, como em uma luz fraca sob o mar."
Ainda segundo a publicação da BBC, virando ligeiramente o olhar para a esquerda, é possível ver que Mona Lisa não está sentada em um banquinho qualquer, mas no que é popularmente conhecido como cadeira pozzetto, ou "pequeno poço". O pozzetto introduz um simbolismo sutil na narrativa que é tão revelador quanto inesperado.
Ao colocar a Mona Lisa dentro de um "pequeno poço", Da Vinci a transforma em uma dimensão sempre flutuante do universo físico que ela ocupa.
Para o historiador da arte e especialista em obras de Da Vinci, Martin Kemp, detectou uma conexão fundamental entre a representação da Mona Lisa e a geologia do mundo em que ela habita.