Câncer que tirou a vida de Bruno Covas é associado a inflamação por excesso de peso
Aos detalhes...
Foto: Arquivo
O excesso de peso pode ter sido um dos fatores que contribuíram para o surgimento do tumor em Bruno Covas. Para quem não sabe ele tem histórico de obesidade. Segundo a oncologista Ignez Braghiroli, da diretoria da SBOC (Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica) e coordenadora do Comitê de Tumores Gastrointestinais, esse tipo de câncer está relacionado a inflamações crônicas causadas pelo excesso de peso. “O tumor justamente nessa transição entre o esôfago e o estômago está muito relacionado à obesidade e à doença do refluxo, porque [esses fatores] geram uma inflamação do esôfago que é fator de risco para a formação de tumores”, afirma. Em 2017, o político mudou drasticamente a alimentação e encarou uma dieta que o fez perder cerca de 20 kg. A especialista destaca a importância de bons hábitos alimentares para evitar casos de câncer gástrico. “Por isso falamos de educação alimentar para diminuir o sobrepeso e justamente diminuir essa inflamação que, em última instância, também diminui as chances de evoluir para um câncer maligno”, explica. Além disso, a oncologista destaca que o diagnóstico tardio pode contribuir para que tumores malignos no trato digestivo sejam mais agressivos em pessoas com menos de 50 anos.
A demora na identificação do câncer, inclusive, pode facilitar a ocorrência de metástase, quando o tumor se espalha para outros órgãos e regiões do corpo.
No caso de Covas, quando o problema foi identificado, há menos de dois anos, a doença já havia atingido os linfonodos do fígado e, recentemente, se espalhou para os ossos e para o próprio fígado. No começo deste mês, ele foi internado e chegou a ser intubado após os médicos detectarem um sangramento no local do primeiro tumor. “Não acho que [a agressividade] seja somente pelo diagnóstico tardio, mas certamente esse é um fator que contribui para isso. Se a pessoa tem um sintoma de refluxo, o que é muito comum, é muito menos provável que o médico pense em uma doença maligna, até pela raridade em pessoas mais jovens”, avalia a médica. A identificação tardia do câncer pode impedir, inclusive, uma intervenção cirúrgica capaz de reduzir sua gravidade. Isso porque, segundo explica Ignez, quando ocorre metástase é mais difícil fazer a cirurgia para a retirada do tumor. “Não é que é impossível fazer a cirurgia quando o tumor já saiu de onde nasceu, pode ser que a pessoa tenha uma doença muito lenta e, nesses casos, podemos tentar a cirurgia como uma opção. Infelizmente não é assim com a maioria das pessoas. [Se identificado na fase inicial] eventualmente começamos com a quimio, fazemos a cirurgia e mais um pouco de quimio”, explica. De acordo com a especialista, o avanço rápido do câncer mesmo durante o tratamento, como no caso do prefeito, faz parte da evolução natural de um tumor maligno no estômago, sobretudo quando há metástase. “A quimio não tem o poder, exceto em raras exceções, de fazer com que essa doença vá embora completamente, então esta não é uma evolução inesperada. É muito variável de pessoa para pessoa, mas a tendência é que essa doença vá crescendo. Infelizmente não é algo que a gente consiga controlar ainda”, afirma. A oncologista ressalta que, em alguns casos, o paciente diagnosticado com câncer gástrico consegue conviver com a doença de forma controlada, até mesmo sem a necessidade de realizar quimioterapia, mas que essa não é a regra entre pacientes oncológicos deste tipo. “Tenho um paciente que, há dois anos, não precisa fazer quimio, a doença está parada no intestino. Mas no geral essa não é a regra, o tumor é mais agressivo, tende a ir crescendo, melhora com a quimio, mas depois de um tempo volta a crescer e é preciso voltar com o tratamento”, afirma.