Candidata à deputada federal, Maria Marighella defende levante pela refundação do Brasil
Em entrevista ao Farol da Bahia, Marighella reforça a vitória de Lula no primeiro turno e acredita em virada de Jerônimo para Governo da Bahia
Foto: Felipe Iruatã
Neta do guerrilheiro Carlos Marighella e eleita vereadora de Salvador pelo PT em 2020, Maria Marighella disputa uma vaga na Câmara Federal nas eleições desse ano.
Maria faz parte do ManifestA ColetivA, movimentação cidadã de ocupação da política institucional que afirma a cultura no centro da sociedade. Combativa, ela integra a bancada de oposição na Câmara Municipal de Salvador e tece duras críticas ao ex-prefeito e atual candidato ao governo da Bahia, ACM Neto.
Em entrevista ao Farol da Bahia, Marighella nega a existência de uma terceira via, reforça a vitória de Lula no primeiro turno, acredita em uma virada do candidato do PT ao governo da Bahia, Jerônimo Rodrigues e afirma a importância de ter novamente uma Marighella na Câmara Federal.
As últimas pesquisas tem indicado uma vitória do ex-presidente Lula no primeiro turno. Na sua avaliação, as pesquisas antecipam o resultado do dia 2 ?
Não há espaço para terceiras vias e as pesquisas expressam esse dado. O presidente Lula é um horizonte de democracia. Lula é um Estadista, reposiciona e engrandece o debate político no país. Um Brasil soberano, com direitos para as trabalhadoras e trabalhadores, que enfrente com urgência a fome, e garanta comida e dialogue com a pluralidade do que somos. É com essa emoção e esperança das forças progressistas brasileiras, que iremos eleger Lula presidente no 1º turno.
O ex-presidente Lula tem um grande capital político no Nordeste, em especial, na Bahia. Ainda assim, ACM Neto defende que a eleição presidencial não deve pautar o eleitor baiano na escolha do governo. Você concorda ?
As ações do governo Bolsonaro e do bolsonarismo incidem nas vidas das baianos e dos baianos. Um governo que nos colocou de volta ao mapa da fome, ao desemprego, que adiou a compra de vacinas e não enfrentou a pandemia. Que ataca direitos de toda a nossa população. A fala de ACM Neto não nos surpreende. Parte de alguém que compôs e dialogou com as forças que deram o golpe, se alinhou e liberou sua bancada para eleger Lira na Câmara Federal. Diálogou com o centro e suas emendas e recorreu à extrema direita para fazer passar suas pautas econômicas.
É com medo da lembrança, que não só fez campanha para Bolsonaro, como teve vários integrantes de seu partido compondo esse governo, que ele prega neutralidade. Esse ano temos a missão de derrotar Bolsonaro, o bolsonarismo e todos seus cúmplices que continuam sem defender a nossa democracia.
Jerônimo Rodrigues também tem crescido nas últimas pesquisas. É possível reverter esse favoritismo de ACM Neto?
Temos 13 dias, com um grande percentual de eleitores entrando agora na reflexão de que Bahia queremos construir, que projeto de país e estado defendemos, quem iremos colocar nos parlamentos. Temos um caminho aberto para reivindicarmos um projeto para uma Bahia de direitos e com justiça social. Faremos com que Jerônimo, ao lado de Lula, tenha a capacidade de fazer um governo que dialogue com os movimentos sociais, atenda e acolha a pluralidade de vidas do nosso estado. É essa percepção e esse movimento que as pesquisas começam a demonstrar.
Maria, qual legado você deixa como vereadora e como você entra para a vida política e quais suas propostas para à Câmara Federal?
Quando eu nasci, ainda na ditadura civil-militar, meu avô, Carlos Marighella tinha sido assassinado. Meu pai, Carlinhos Marighella (Carlos Augusto Marighella), estava preso em razão de uma operação comandada pelo Coronel Brilhante Ustra, que encarcerou dezenas de militantes do Partido Comunista Brasileiro (PCB) na Bahia e minha avô, Clara Charf, estava no exílio. Desde muito jovem, me vi profundamente atravessada pela luta por Memória, Verdade, Justiça e reparação e pela defesa dos direitos humanos Para mim, princípios inegociáveis.
Por isso, em 2016, durante a votação da admissibilidade do impeachment da presidenta Dilma, a cena do golpe, ao ouvir o atual presidente, então deputado, dedicar seu voto ao torturador Ustra e sair sem ser responsabilizado, entendi que algo deu muito errado no Brasil. Que não havíamos ocupado os parlamentos e esse era um espaço onde precisávamos estar.
Aqui em Salvador, organizamos a ManifestA ColetivA, movimentação cidadã de ocupação da política institucional que afirma a cultura no centro da sociedade que queremos e a construção de políticas para todas as pessoas.
Na Câmara Municipal de Salvador, defendemos a participação social, os direitos das trabalhadoras e trabalhadores e é de minha autoria a Lei que instituiu o Dia municipal da Dignidade Menstrual.
Aprovamos as emendas que incluíram o eixo da cultura, mobilidade, acolhimento noturno e a segurança alimentar e nutricional no Plano da Infância e Adolescência de Salvador. Somos autoras também da prioridade para mulheres no programa CREDSALVADOR.
No Plano Municipal de Cultura incluímos por emenda a territorialização da política a partir de critérios específicos para a superação da desigualdade socioespacial e racial.
Criamos, junto à sociedade civil, a Frente Parlamentar Mista Ambientalista de Salvador e atuamos em diversas comissões parlamentares na promoção dos debates centrais para a Cidade.
Foi entendendo essa eleição de 2022 como um chamado contra a barbárie, atendendo a um manifesto com mais de 200 assinaturas, que coloco meu nome à disposição dessa disputa por uma vaga na Câmara Federal. Entendendo que a eleição do presidente Lula é fundamental, mas que é no Parlamento que poderemos afirmar as agendas tradicionais com as lutas desse tempo. Com a ManifestA ColetivA e junto aos movimentos sociais, lutamos por um Brasil sem fome, soberano, feminista, antirracista e anticapacitista, que valorize a cultura e a memória do nosso povo e proteja a vida das nossas infâncias e juventudes.
Reivindicamos uma educação e comunicação emancipadoras. Denunciamos o patriarcado e a violência política e defendemos a ocupação da política institucional por uma outra cultura política - de acolhimento e solidariedade. Um levante pela refundação do Brasil.