Carnaval de Salvador: segundo ano sem folia reforça sentimento de saudade entre os soteropolitanos
Devido à pandemia, a maior festa de rua terá que esperar mais um ano

Foto: Getty Images
Se não fosse pela pandemia da Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, a folia carnavalesca já estaria tomando conta das ruas da capital baiana. No segundo ano consecutivo sem a maior festa tradicional de rua, os soteropolitanos vivem a base do saudosismo. Quem ainda diz que o ano novo só começa depois da folia, vai ter que descobrir outro meio de renovar as energias. Em 2022, mais uma vez, a festa não vai começar.
Ao recordar a vida antes da pandemia, o Carnaval de Salvador parece um devaneio de um passado bem distante. Muvuca, latinhas de ‘piriguete’ compartilhadas com os amigos sem a necessidade de sequer desinfectá-las com álcool, pegação em alta para os solteiros e, o melhor de tudo, todo mundo sem máscara. Hoje em dia pensar nessa vivência, segundo a estudante Camilla da Matta, de 24 anos, é quase impossível.
“O último Carnaval que fui, em 2020, estava solteira e aproveitei demais com as minhas amigas. Hoje eu não consigo pensar em me jogar numa muvuca, por exemplo. Antes, quando virava o ano, eu já chamava minhas amigas para idealizarmos as fantasias para todos os dias de Carnaval. Era uma agonia massa, não tinha cansaço. A semana toda bebendo, dançando e conhecendo pessoas novas. Espero que um dia nós tenhamos segurança para voltar a festejar dessa forma, porque isso tudo ainda parece impossível”, afirmou a estudante.
Em entrevista ao Farol da Bahia, Camilla afirmou também que sente falta de todos os aspectos que envolvem a festa de rua. “É muito estranho passar pela Avenida Oceânica e não ter nenhuma estrutura de camarote montada. Estamos quase no final de fevereiro e nada? Antigamente, isso nunca aconteceria. O Carnaval de Salvador é, sem dúvidas, muito mágico. Duvido que em outro lugar tenha ambulantes mais autênticos que aqui, sem contar nos ‘tios’ que vendem príncipe maluco. Isso é único”, reforçou.
Partindo do mesmo sentimento de saudade, a engenheira Mirella Nobre, de 24 anos, contou que “olhar fotos antigas é de partir o coração”. “Eu sinto muita falta do Carnaval, de verdade. Era furdunço, fuzuê, muito glitter, fantasia e todo mundo junto e misturado. Era sair pelas ruas sem ter hora de voltar para casa, ficar uma semana sem dormir direito e só sentir dor nas pernas depois. Eu morro de saudade disso tudo. O Carnaval de Salvador é surreal porque tem uma vibração indescritível”, disse Mirella, que também é amiga de Camilla.
Foto: Arquivo Pessoal/Farol da Bahia /Mirella e Camilla
Foto: Arquivo Pessoal/Farol da Bahia /Mirella e Camilla
Os indícios de que Salvador tinha se tornado a cidade do Carnaval, a essa altura, estariam por toda parte. Foi-se o tempo em que as músicas produzidas por artistas de peso, como Léo Santana, Ivete Sangalo e Márcio Victor, disputavam o título de hit do verão. Fica na saudade, ainda, a multidão atrás do trio elétrico.
Folião assíduo, o estudante Maurício Viana, de 22 anos, disse ao Farol da Bahia que, embora o cancelamento da festa cause um espécie de melancolia coletiva, é importante compreender que ainda não é o momento de se aglomerar.
“Agora que está chegando perto, a falta do Carnaval me causa uma mistura de sentimentos. É uma vontade muito grande de poder vivenciar a festa junto com o entendimento de que é necessário o cancelamento nesse período. Acho que nós devemos esperar a segurança necessária para se divertir, pois ainda estamos presenciando pessoas ficando doente e morrendo por conta do novo coronavírus. É um sentimento de frustração também. Muitas pessoas, assim como eu, esperavam que a realização da festa fosse possível este ano devido ao início da vacinação. Infelizmente, não é bem assim. A torcida é que essa seja a última data comemorativa que estejamos com essa situação”, afirmou Viana, que contou também que curtiu demais o Carnaval de 2020.
Foto: Arquivo Pessoal/Farol da Bahia/ Mauricio Viana
Com o tema ‘O Carnaval dos Carnavais’, o último festejo carnavalesco realizado na capital baiana deixou muitas saudades. Com o coração cheio de esperança e com a memória recheada de boas recordações, os foliões vão precisar segurar a emoção e esperar por mais um ano. Nesse período, a chave da cidade continuará bem guardada e à espera de uma nova oportunidade para abrir as portas para a folia mais esperada de todos os tempos.