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Bahia

CEN emite nota de repúdio contra ação da PM que deixou três pessoas mortas na Gamboa

Coletivo ainda cobrou que o governador Rui Costa abra uma investigação para apurar os fatos

Por Da Redação
Ás

CEN emite nota de repúdio contra ação da PM que deixou três pessoas mortas na Gamboa

Foto: Reprodução/Redes sociais

O Coletivo de Entidades Negras (CEN) publicou uma nota de repúdio, nesta terça-feira (01), contra uma ação da PM que resultou na morte de três pessoas na comunidade Solar do Unhão, que fica na região da Gamboa. O caso aconteceu por volta das 2h da madrugada.

Segundo a PM, o trio foi morto em uma troca de tiros com os agentes, onde uma pessoa teria sido feita de refém. No entanto, testemunhas negam essa versão e afirmam que os policiais chegaram ao local jogando gás lacrimogêneo e atirando. 

"O Coletivo de Entidades Negras (CEN) vem a público manifestar o mais amplo repúdio às ações da Polícia Militar do Estado da Bahia nas comunidades periféricas, desta vez com especial atenção voltada para as comunidades da Gamboa e do Solar do Unhão, localizadas ambas às margens da Avenida Contorno, e que são alvo da violência contra corpos negros e das incessantes ações de extermínio que vitimizam a população negra das periferias soteropolitanas", publicaram. 

Além de repudiar, o coletivo de entidades também solicitou ao governador Rui Costa que o caso fosse devidamente investigado. "Nesta oportunidade, cobramos do Governador do Estado da Bahia, que silencia as mortes de negros e negras das periferias baianas em nome da boa relação com um projeto genocida, a imediata investigação e punição dos(as) polícias militares envolvidos nestas ações.", seguiram. 

Na operação, foram atingidos e mortos três jovens. Um de 20 anos, que estava na casa da namorada no momento do tiroteio, identificado como Alexandre dos Santos, além de um segundo rapaz identificado como Patrick Sapucaia e uma mulher de 30 anos, que teria deficiência intelectual. O nome da última vítima ainda não foi divulgado.

Confira a nota na íntegra:

"O Coletivo de Entidades Negras (CEN) vem a público manifestar o mais amplo repúdio às ações da Polícia Militar do Estado da Bahia nas comunidades periféricas, desta vez com especial atenção voltada para as comunidades da Gamboa e do Solar do Unhão, localizadas ambas às margens da Avenida Contorno, e que são alvo da violência contra corpos negros e das incessantes ações de extermínio que vitimizam a população negra das periferias soteropolitanas.

No dia 27/02, polícias armados, em plena luz do dia, agrediram um jovem negro, na entrada da Comunidade Solar do Unhão, durante o exercício do seu ofício enquanto guardador de veículos, desempenhado ao lado de outros moradores locais. Na madrugada de 28/02 para 01/03, a mesma Polícia Militar do Estado da Bahia, realizou a "Operação  Força Total", que segundo o Comandante Geral apreendeu diversas armas, mas que teve como "efeito colateral" (palavras do Comandante) o extermínio a sangue frio de 3 jovens negros da Comunidade da Gamboa, sem que estes pudessem reagir.

Mais uma vez, famílias foram destruídas pelas balas da PM baiana. Mães sofrem desesperadas com a perda dos seus filhos, como são capazes de mostrar imagens do protesto ocorrido após a operação. Até quando choraremos sobre o sangue dos nossos jovens negros periféricos? Até quando a morte da juventude negra periférica será tratada pelo Governo da Bahia como efeito colateral?

A Polícia Militar do Estado da Bahia institucionalizou a pena de morte à revelia do ordenamento legal. Essa pena de morte tem validade tão somente para pessoas negras das comunidades periféricas baianas. Trata-se do braço armado do Estado a serviço da higienização étnica da sociedade baiana, que continua a se valer dos privilégio da Casa Grande e da manutenção das relações coloniais em um estado que possui mais de 80% da sua população formada por negros e negras.

Em regra, também são negros e negras que vestem a farda da Polícia Militar do Estado da Bahia e que, investidos da função de policiais militares, esquecem as suas origens e vínculos ancestrais para agir como capitães do mato a serviço de um projeto de elite, burguês, que quer fazer as nossas história e ancestralidade escorrerem em poças de sangue. Estes são policiais (de)formados para matar seus iguais e apagar das próprias memórias os seus locais de origem, ou ainda para onde retornam todos os dias após se despir da farda, as periferias da cidade.

Nesta oportunidade, cobramos do Governador do Estado da Bahia, que silencia as mortes de negros e negras das periferias baianas em nome da boa relação com um projeto genocida, a imediata investigação e punição dos(as) polícias militares envolvidos nestas ações.

Não aceitaremos, sem reações sociais e políticas, sem denúncias Internacionais, que vidas nossas sejam tiradas como se fôssemos animais à espera do abate. Acionaremos os organismos de Direitos Humanos globais e regionais das Américas para denunciar o Estado da Bahia, como fizemos em outros casos de violações graves, a exemplo da violência sofrida por religiões de matriz africana. Estamos dispostos a expor o Estado da Bahia em tribunais internacionais pela sua prática fascista e persecutória contra os negros das favelas! 

Toda ação policial que tenha a morte como resultado, seja de um civil ou de um militar, é uma ação mal sucedida, o que faz  da Polícia Militar do Estado da Bahia um exemplo de fracasso, ineficiência e imprecisão técnica.  Continuaremos sem nos calar jamais ao extermínio das vidas negras! Continuaremos nas frentes de batalha pela vida do nosso povo. 

Convocamos as entidades do movimento negro baiano e toda a sua militância para que seja organizado ato de repúdio contra o extermínio das vidas negras. A reunião de organização será realizada no dia 03/03, 10 horas, na sede do Coletivo de Entidades Negras - Rua das Laranjeiras, n° 25, Pelourinho, Salvador/BA."

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