Cidades recordistas em calor tentam reforçar respostas emergenciais

Dados são do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet)

Por FolhaPress
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Cidades recordistas em calor tentam reforçar respostas emergenciais

Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

Em 2024, dez cidades brasileiras registraram recordes de calor, com termômetros acima dos 43°C. Goiânia e Cuiabá atingiram 44,5°C e 44,1°C, respectivamente, em outubro. No Rio de Janeiro, a estação de Guaratiba marcou 43,2°C em novembro. Os dados são do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).

A capital goiana, líder no ranking, instituiu um Gabinete de Crise Climática no último dia 15, após a cidade registrar o segundo maior volume de chuva em 24 horas de sua história. A iniciativa, no entanto, ainda não inclui ações específicas contra o calor.

Uma medida semelhante em São Paulo deve ocorrer com a criação do Conselho Estadual de Mudanças Climáticas (CEMC), divulgado na quarta-feira (22), responsável por acompanhar as estratégias do estado para enfrentar eventos climáticos extremos.

"Os recordes climáticos tornaram o calor uma prioridade, especialmente devido ao risco que ele representa para a saúde. Na verdade, como estamos observando, não se trata apenas de um problema local, mas de uma questão global", afirma Gislani Mateus, superintendente de Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro.

Nos últimos quatro anos, a cidade afirma ter destinado R$ 3,3 bilhões para mitigar os impactos das chuvas e do calor. O Plano Verão, com 488 ações de prevenção e resposta emergencial, é resultado da colaboração de 36 órgãos, secretarias, empresas públicas e subprefeituras.

Em novembro de 2024, um ano após a morte de Ana Clara Benevides, 23, por exaustão térmica no show de Taylor Swift, a prefeitura também lançou um plano de contingência voltado ao enfrentamento do calor extremo.

O protocolo classifica o calor em cinco níveis de risco (NC1 a NC5), com base na temperatura e umidade relativa do ar, e inclui ações de assistência e monitoramento para prevenir complicações como desidratação e insolação.

Entre as iniciativas estão a criação de 52 pontos de resfriamento em espaços públicos e uma rede de apoio com centros de hidratação. O plano também prevê adaptações para atividades externas, ampliação de serviços e a possibilidade de adiamento ou cancelamento de grandes eventos.

A superintendente diz acreditar que as iniciativas podem servir como modelo para outras cidades, especialmente em grandes centros urbanos, onde a necessidade de adaptação climática é cada vez mais urgente.

No Ceará, que não figura na lista do Inmet, mas também sofre com fortes ondas de calor, a Secretaria das Cidades passou a adotar blocos de concreto intertravado no lugar do asfalto.

O material absorve menos a radiação solar, o que resulta em um aquecimento menor, que pode reduzir a sensação térmica em até 10°C. Além disso sua permeabilidade ajuda na prevenção de alagamentos e no equilíbrio hídrico nas áreas urbanas.

O investimento, de cerca de R$ 40 milhões, abrange 300 mil m² em 18 municípios. Segundo o secretário Zezinho Albuquerque, o objetivo é expandir a ação para todos os 184 municípios do estado em 2025.

"Os prefeitos do estado do Ceará estão cada vez mais conscientes da importância de adotar o concreto intertravado. Ele é mais duradouro, gera empregos e facilita a manutenção. Além disso, o asfalto aquece demais, o que impacta negativamente o clima urbano", diz.

O monitoramento climático em Mato Grosso do Sul é realizado pelo Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima (CEMTEC), que emite alertas sobre ondas de calor à Defesa Civil, que fica responsável pela coordenação das respostas.

Foi também anunciada uma medida para simplificar o licenciamento do Manejo Integrado do Fogo (MIF), que autoriza queimadas controladas para prevenir incêndios, que contribuem para sensações térmicas cada vez maiores em regiões pantaneiras.

O estado também planeja a criação de um programa de proteção ao pantanal, integrando áreas como educação, saúde e segurança pública. O bioma, o mais afetado pelas queimadas em 2024, teve 1,9 milhão de hectares consumidos pelo fogo, área equivalente a 12 vezes o tamanho da cidade de São Paulo.

A reportagem tentou contato com as administrações municipais de Cuiabá, Indiaporã, Santa Salete, Valparaíso, no interior de São Paulo, Aragarças, Corumbá, Coxim, e Santo Antônio de Leverger, mas não obteve resposta até a publicação deste texto.

Cidades com máxima acima de 43°C em 2024

- Goiânia (GO) - 44,5°C em 6 de outubro
- Cuiabá (MT) - 44,1°C em 6 de outubro
- Indiaporã (SP) - 43,3°C em 8 de outubro
- Aragarças (GO) - 43,3°C em 3 de outubro
- Rio de Janeiro (RJ), na estação do bairro Guaratiba - 43,2°C em 28 de novembro
- Corumbá (MS), na estação de medição de Nhumirim - 43,2°C em 6 de outubro
- Coxim (MS) - 43,1°C em 6 de outubro
- Santa Salete (SP) - 43,1°C em 8 de outubro
- Valparaíso (SP) - 43,1°C em 8 de outubro
- Santo Antônio de Leverger (MT) - 43,0°C em 6 de outubro

Fonte: Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet)

RS REFORÇA AÇÃO CONTRA CHUVAS INTENSAS

No Rio Grande do Sul, a preparação para a temporada de chuvas inclui um investimento de R$ 550 milhões em medidas para melhorar a resposta a desastres naturais.

A tenente Sabrina Ribas, da Defesa Civil estadual, explica que as ações incluem a ampliação do monitoramento meteorológico, com a aquisição de três novos radares, e a modernização da frota, que contará com 46 novas caminhonetes e outros veículos.

O Programa Estadual de Gestão de Riscos e Desastres inclui monitoramento hidrológico em tempo real para antecipar eventos extremos e projetar áreas de inundação. Outros R$ 90 milhões foram destinados à integração de tecnologia avançada para monitoramento e resposta rápida, mesmo em falhas nos sistemas de energia e comunicação.

O governo gaúcho firmou um termo de cooperação com o Ministério Público para criar protocolos de contingência e anunciou a construção de Centros Regionais de Defesa Civil em nove municípios, com custo aproximado de R$ 180 milhões, para aprimorar a resposta local às crises.

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