Cinco mulheres quilombolas foram mortas desde o caso Mãe Bernadete, aponta Conaq
Líder quilombola foi morta na região metropolitana de Salvador, em agosto de 2023
Foto: Conaq
Cinco mulheres quilombolas foram mortas no Brasil desde o assassinato de Bernadete Pacífico, conhecida como Mãe Bernadete, em agosto de 2023, na Bahia.
Os dados foram divulgados em um levantamento feito pela Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (Conaq). O estudo revela que mais da metade (60%) das mulheres quilombolas vítimas de violência exerciam papel de destaque ou eram alguma liderança na cidade em que viviam. 20% dos assassinatos ocorreram em um contexto de conflito por posse de terra.
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A violência contra mulheres quilombolas se intensificou no país nos últimos anos, sobretudo a partir de 2017. Desde 2008, foram registrados 24 casos de assassinatos ou tentativas de assassinato contra mulheres quilombolas, 19 deles entre 2016 e 2024, uma média de dois casos por ano no período.
Apenas entre os meses de janeiro de 2023 e julho deste ano, o país registrou seis assassinatos, o equivalente a uma média de uma morte a cada três meses. Em 2022, segundo o estudo, houve uma morte. No ano anterior, duas, e em 2020, uma.
Houve um pico em 2019, com cinco casos de assassinatos. Uma morte foi registrada em 2018. Já em 2017, foram três. Os anos de 2016 e de 2015 registraram um assassinato cada.
Também se destaca o emprego de requintes de crueldade contra as vítimas. As armas de fogo são utilizadas na maioria dos casos (41%), mas há registros de uso de outros materiais, como faca e foice (25%).
Os fazendeiros são maioria nos ataques perpetrados contra essas mulheres (79,3% dos casos). Muitas vezes os agentes agressores são pistoleiros, jagunços, policiais e empresas de segurança privada contratada a mando de fazendeiros, produtores rurais e proprietários vizinhos dos quilombos.
Em 78% dos casos, as ameaças partiram de setores da agro-indústria. Entre os crimes estão grilagem de terra e ocupação à força (38%), seguidos de crimes ambientais (20,69%) e incêndios criminosos (17%). O desmatamento é a principal consequência dos ataques.
Mãe Bernadete
A ialorixá Mãe Bernadete era líder quilombola da comunidade Pitanga dos Palmares, na cidade de Simões Filho, Região Metropolitana de Salvador (RMS), ex-secretária de Políticas de Promoção da Igualdade Racial de Simões Filho, e líder da Conaq.
Ela foi assassinada no dia 17 de agosto de 2023, na sede da associação quilombola, seis anos após a morte de um de seus filhos, Fábio Gabriel Pacífico dos Santos, o Binho do Quilombo, em 2017.
A Polícia Civil concluiu que Mãe Bernadete foi morta a mando de um líder do tráfico de drogas. Ao todo, seis pessoas foram indiciadas pelo crime, sendo cinco pelo assassinato, e uma sexta por posse ilegal de arma, segundo o Ministério Público da Bahia (MP-BA).