Cisne vermelho III
Confira o artigo de Matheus Oliva
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Foto: Divulgação
“Ouço bebês chorando
E os vejo crescer
Eles aprenderão muito mais
Do que eu jamais saberei
E eu penso comigo
Que mundo maravilhoso”
Últimos versos da icônica canção norte americana "What a Wonderful World", criada por Bob Thiele e imortalizada por Louis Armstrong em 1967.
A nação mais rica do mundo é uma democracia resiliente. Trump é uma pessoa de negócios, fato. Quem faz dos negócios seu meio de vida, por óbvio, nega o ócio. Também é fato que não é uma pessoa política. No sentido original, “política” significava assuntos afeitos à pólis, portanto, à comunidade, à sociedade. Mas, no sentido contemporâneo, a prática da política travestiu-se em uma carreira em defesa de benefícios e privilégios para grupos específicos.
Nos negócios, a execução é a linha que separa o sucesso do fracasso. Ter boas intenções não basta—é preciso agir com eficiência. Assim como um jardim precisa de poda para não ser sufocado por ervas daninhas, uma empresa precisa cortar desperdícios e ineficiências. Sem asseio, o limo inutiliza a rampa do estaleiro, assim como a falta de gestão adequada paralisa qualquer empreendimento. E, sem profilaxia, infecções matam o paciente—do mesmo modo que a negligência em decisões estratégicas pode condenar um negócio. No fim, o que determina o êxito não é o desejo de fazer o bem, mas a capacidade real de entregar resultados.
Em sua retórica televisiva, Trump rompe com modos e costumes da classe política carreirista, prestando contas ao seu eleitorado e exprimindo franqueza caricata a todos seus interlocutores. Seu caráter controverso e inescrupuloso, paradoxalmente, tenta lançar luz no salão da democracia. Em poucos dias executou a auditoria e o congelamento de repasse de recursos à Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (“USAID”), criada pelo presidente Kennedy. Os descaminhos identificados despertaram a ira de corruptos da esquerda demagógica, pegos com a boca na botija. O Cisne Vermelho levanta os tapetes e sacode a poeira de um Salão Oval habituado a conchavos sigilosos e discursos vazios. A aristocracia burocrática, responsável por um estado perdulário e permissivo, está zonza como baratas borrifadas por veneno.
Seria proveitoso para os EUA que universidades, artistas e demais formadores de opinião ocidentais, em vez de propalar uma agenda que acusa Israel e absolve o Hamas, tivessem a hombridade e sensatez de ouvir Yasmin Mohammed, mulher que foi forçada a casar e procriar com um líder da Al Qaeda. Ela escapou dos horrores a que estava condenada, arriscando a vida para se refugiar na liberdade ocidental, onde pode sentir a luz do sol e respirar sem o filtro de uma burca. Richard Gere e Robert de Niro poderiam produzir um filme sobre o livro de Mosab Hasan Yousef, "O Filho do Hamas". Filho de um dos fundadores do Hamas, jurado de morte e constantemente ameaçado, vive hoje livre e próspero nos EUA. Recentemente, estudantes defenderam o Hamas no campus da prestigiada Harvard. Enquanto Richard Gere poderá desfrutar algum paraíso espanhol nos próximos quatro anos, jovens americanos anônimos, de todas as cores, gêneros e comunidades, seguem sustentando um Estado hipossuficiente por obesidade.
Nas tarifas comerciais, Trump luta boxe, Xi Jinping responde com Tai Chi Chuan em movimentos lentos e equilibrados. A China não é a mesma de 2018 e apesar da suntuosidade aparente, há muitas vidas em situação de precariedade. Ela precisa do consumismo frenético e irresponsável dos EUA. O mesmo vale para a América Latina. Quem melhor entendeu o jogo jogado pelo Cisne Vermelho foi Claudia Scheinbaum, a elegante presidente mexicana, que concordou, sem delongas ou bravatas, em fechar a porteira da imigração ilegal e enfrentar o terrorismo do crime na fronteira norte do México.
A Europa também precisa dos EUA, mais do que o inverso. Lá, Trump joga boliche com a bola de fogo da Ucrânia sobre todos os pinos europeus da OTAN. Quando se levantarem e se entenderem entre si, terão que encarar a Rússia de frente. A capital da Dinamarca é muito mais próxima de Moscou do que São Paulo de Fortaleza. Em sua simplicidade comunicativa, Trump fala obviedades fáceis de entender: “Tem um oceano Atlântico entre nós e a Europa. A guerra é um problema deles.”. A Dinamarca fica em dificuldade para defender a Groenlândia, território que coloniza há centenas de anos. E é ali, no Ártico, no norte global, que está se desenhando um teatro de guerra a olhos vistos. Os EUA compraram o Alasca há 157 anos, aquisição fundamental para sua defesa territorial. O que Trump pretende com os golpes diretos nas faces Canadenses e Dinamarquesas é defender o Ártico da influência sino-russa, em vez de defender as ricas nações europeias.
Foto: Crianças brincando com xadrez no jardim
Crédito: Matheus Oliva
O jogo mudou. Kasparov bem sabe. O exilado enxadrista russo, que derrubava reis no tabuleiro, hoje enfrenta um czar de carne e osso. No xadrez da geopolítica, quem joga na defesa já perdeu. Crítico feroz de Putin, enxerga com clareza o tabuleiro onde outros veem caos. No jogo da geopolítica, quem reage já perdeu. Trump joga no ataque.
Enquanto isso, muitas lideranças políticas de espectro extremado à esquerda sofrem de artrite cognitiva, tornando dolorido o pensar diferente e adaptar-se ao novo xadrez.