Clima forçou 250 milhões a deixarem suas casas na última década, diz ONU
O documento foi lançado nesta segunda-feira (10) durante a COP30, em Belém (PA)

Foto: Imagem ilustrativa/Pexels
GEOVANA OLIVEIRA
Na última década, a crise climática obrigou 250 milhões de pessoas a saírem de suas casas, uma média de 70 mil por dia, segundo novo relatório da Acnur (Agência das Nações Unidas para Refugiados). O documento foi lançado nesta segunda-feira (10) durante a COP30, em Belém (PA).
O número contabiliza todas as movimentações ocasionadas por eventos climáticos extremos dentro do mesmo país, incluindo remoções temporárias de pessoas. Trata-se de contagem diferente da OIM (Organização Internacional para as Migrações), que calcula o total de pessoas deslocadas ao final de cada ano.
Segundo Filipo Grandi, o alto comissário da Acnur, agência das Nações Unidas para refugiados, o relatório é necessário para provar como as pessoas mais vulneráveis são as mais impactadas pela crise climática e, entre essas pessoas, especificamente os refugiados e pessoas forçadas a deixarem suas casas geralmente, devido a conflitos armados, situações de violência ou violações de direitos humanos.
O documento mostra que os refugiados são afetados tanto por precisar se deslocar forçadamente devido a fatores como a elevação do nível do mar, quanto por vivenciar eventos climáticos extremos nos novos países que os abrigam após fugirem de conflitos.
No último ano, por exemplo, as pessoas nas 15 maiores concentrações de refugiados do mundo experienciaram cem dias de calor extremo, diz Grandi, e a previsão é de que em 2050 esse número aumente para 200 dias.
"Mesmo nos países mais desenvolvidos, já se experimenta calor extremo no verão. Pensa o que seria isso durante 200 dias por ano em lugares em que não há ar condicionado. Essa é a mensagem de uma organização como a nossa: o problema é muito dramático e muito concreto", diz Grandi.
O relatório aponta ainda que a mudança climática afeta pessoas que estão retornando para seus países após o fim de conflitos. É o caso da Síria, diz Grandi. Segundo ele, cerca de 2 milhões de refugiados finalmente estão retornando ao país na Ásia Ocidental, mas agora estão lidando com uma seca extrema.
Por isso, diz o alto comissário da Acnur, a organização pede ajuda. Na segunda análise da agência sobre a relação entre mudança climática, conflitos e o deslocamento forçado, um dos focos é a falta de financiamento climático para as pessoas obrigadas ou induzidas a fugir de suas casas.
"Devido a recentes cortes no orçamento de ajuda internacional, nossa capacidade de proteger refugiados e famílias deslocadas dos impactos do clima extremo foi reduzida, tornando essencial que outros intervenham e ajudem", diz o documento da Acnur.
Países frágeis e afetados por conflitos que abrigam milhões de refugiados recebem apenas um quarto do financiamento climático do qual necessitam, segundo o relatório. Os dados apontam que esses países recebem cerca de US$ 2 por pessoa em fundos de adaptação, enquanto países mais desenvolvidos recebem cerca de US$ 160 por pessoa.
"O cenário não é muito otimista tanto para alcançar a paz, quanto para mitigar a crise climática, então precisamos ajudar essas pessoas a se adaptar", diz Grandi. Segundo ele, a Acnur cortou um terço dos executivos apenas em 2025, em um momento em que os problemas estão aumentando. "Por favor, nos ajudem".

