CNJ pede informações a Bretas após acusação de parcialidade na Lava-Jato
Juiz da operação no Rio é acusado de favorecer Fernando Cavendish para obter delação

Foto: Reprodução/Diário do Rio
A corregedora nacional de Justiça, ministra Maria Thereza de Assis Moura, decidiu nesta sexta-feira (11) pedir informações ao juiz Marcelo Bretas, titular da 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, após ele ter sido acusado pelo advogado e delator Nythalmar Dias Ferreira Filho de atuar com parcialidade e negociar acordos de colaboração premiada de investigados no braço fluminense da Lava-Jato.
No despacho, ao qual a revista Veja teve acesso, Moura negou o pedido da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) para que o magistrado fosse afastado de suas funções até a elucidação dos fatos, mas requisitou esclarecimentos sobre pontos cruciais apontados pelo delator.
Em um dos anexos da delação de Nythalmar, o advogado diz que o juiz Marcelo Bretas atuou pessoalmente para que o empresário Fernando Cavendish, dono da empreiteira Delta, confessasse seus crimes aos investigadores do Rio e prometeu de antemão “aliviar” a pena que daria ao empresário.
Cavendish era alvo de operações policiais que apuravam crimes em diferentes estados, como lavagem de dinheiro em obras do Estádio do Maracanã (RJ), pagamento de propina por aditivos na ampliação da Marginal Tietê (SP), e fraude em licitações em rodovias no Ceará e no Maranhão.
Segundo o advogado, ele precisava apontar conexões entre fatos de uma das investigações, a Saqueador, que expôs o esquema de empresas de fachada da Delta, e a Operação Calicute, que prendeu o ex-governador Sergio Cabral e que era de responsabilidade de Bretas.
Nythalmar disse à Procuradoria-Geral da República (PGR) que apenas uma confissão do próprio investigado às autoridades do Rio confirmaria a conexão e manteria o caso nas mãos de Bretas. Para garantir a confissão e a tramitação na 7ª Vara, Bretas participou de uma conversa com o procurador regional Leonardo Cardoso de Freitas, então coordenador da Lava-Jato no Rio.
No diálogo, gravado pelo advogado e apresentado à PGR, o juiz atua como uma espécie de mediador da confissão de Cavendish. O empresário queria garantias de que lhe rendesse benefícios judiciais. Bretas então se propôs a fazer o meio de campo entre defesa e acusação e discutir com o procurador a colaboração de Cavendish junto à força-tarefa.
Na mesma conversa, Marcelo Bretas também relata a Nythalmar que pretendia pegar leve na sentença do empreiteiro porque existia uma negociação prévia da defesa do empresário e representantes do MP para a redução de pena em troca de uma confissão.