Com redução na remessa, Índia não entregará vacinas prometidas para a Covax em abril
Estados Unidos darão suporte para reforçar produção de doses
Foto: Reprodução/Agência Brasil
Afetada pela devastação envolvendo a segunda onda de Covid-19, a Índia não vai entregar as vacinas que prometeu para os meses de abril e maio para a Covax, mecanismo global para distribuição equitativa de doses, de acordo com a apuração feita pelo Valor Econômico e divulgada nesta segunda-feira (26).
O número de infecções e mortes aumenta de forma acelerada e a capital, Nova Déli, só exportou 1,2 milhão de doses na primeira metade do mês, comparado com 64 milhões nos três primeiros meses do ano, e ampliando agora o atraso. “Países da África não pararam a vacinação ainda, mas devem atrasar (a campanha), já que as remessas da Índia para abril e maio não vão sair”, disse uma fonte da publicação em Genebra.
Entre a primeira e a segunda dose da vacina produzida pelo Serum Institute da Índia, o maior produtor global de vacinas, é possível um intervalo de até 12 semanas. Nesse cenário, dizem observadores, a Organização Mundial da Saúde (OMS) espera que haja doações dos países com excesso de doses para ajudar a manter o ritmo de imunização na África e em outros países.
A Covax tem a AstraZeneca como principal fornecedor, representando três quartos das cerca de 40 milhões de doses que distribuiu até este mês. E grande parte das doses desse laboratório sueco-britânico é fabricada na Índia. Segundo informações da agência Bloomberg, os Estados Unidos devem enviar à Índia matérias-primas e aumentarão a ajuda financeira para a produção local das vacinas da AstraZeneca.
No caso do Brasil, dois lotes totalizando oito milhões de doses, prometidos pela Covax para ser entregues até maio também vêm da AstraZeneca, mas de outro produtor, a SK Bio, da Coreia do Sul. No entanto, com maior escassez global, não se pode excluir ajustes na redistribuição pelo mecanismo global. A Covax sempre deixa uma ressalva sobre as entregas, porque não tem controle sobre todas as variáveis no recebimento das vacinas, diz uma fonte.
O conselho de acionistas da Covax Facility deve se reunir em meados de maio. Ao mesmo tempo, produtores de vacinas passaram a alertar para outra potencial crise: barreiras na exportação de componentes para produção de vacinas anti-covid que podem atrasar mais a imunização em diferentes partes do mundo, com os Estados Unidos sendo apontados como uma das causas do problema.
Em comunicado, a Federação Internacional de Fabricantes e Associações Farmacêuticas (IFPMA), a Rede de Fabricantes de Vacinas dos Países em Desenvolvimento (DCVMN) e a Biotechnology Innovation Organization (BIO) consideraram “particularmente preocupante” a escassez global de alguns dos mais de 100 componentes e ingredientes necessários para a fabricação de vacinas.
Notaram que, embora a ênfase tenha sido colocada em garantir que haja frascos ou seringas suficientes, hoje a indústria enfrenta escassez de lipídios necessários nas vacinas de mRNA (RNA mensageiro), de tubos e de sacos plásticos que são usados no processo de produção de muitas vacinas.