Comer doce aumenta o desejo por açúcar? Estudo diz que não
Questões genéticas é uma hipótese para explicar por que alguns tendem a ter um paladar mais propício a alimentos açucarados

Foto: Imagem ilustrativa | Pexels
Uma pesquisa apresentada neste mês concluiu que não existe uma associação direta entre o consumo de doces e o aumento do desejo por esse tipo de alimento. A conclusão destoa da ideia de que quanto mais alguém ingere doces, maior seria o interesse de continuar consumindo alimentos adocicados.
Kees de Graaf, professora da divisão de nutrição e saúde humana da Universidade de Wageningen, nos Países Baixos, e uma das autoras da pesquisa, afirma que a associação entre consumo e desejo por doces "é uma narrativa muito difundida". No entanto, faltavam estudos sobre o tema.
A nova pesquisa foi apresentada no congresso Nutrition 2025 por Eva Cad, também associada à Universidade de Wageningen. O estudo envolveu 180 participantes que foram divididos em três grupos. O primeiro consumia uma baixa quantidade de alimentos doces, seguindo recomendações nutricionais. O segundo acessou um número razoável de doces, enquanto o terceiro consumiu uma quantidade alta desse tipo de alimento.
Os participantes seguiram essa dieta por seis meses e tiveram o consumo mensurado a partir de marcadores presentes na urina. Durante esse período, a preferência por alimentos doces também foi medida pelos pesquisadores.
O resultado é que não houve uma associação entre ingerir doces e o aumento do desejo por eles. Para Graaf, essa conclusão não foi muito surpreendente.
"Já fizemos estudos de curto prazo anteriormente com resultados semelhantes, mas nunca um de longo prazo com uma metodologia tão rigorosa", explica a professora.
No entanto, Durval Ribas Filho, médico nutrólogo, presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran) e sem relação com o estudo de Graaf, afirma que o número de participantes da pesquisa é um fator limitante. Ribas Filho diz que "apesar da pesquisa ser importante e certamente vai contribuir muito para outros estudos", é necessário o desenvolvimento de outras investigações com uma amostra maior.
O presidente da Abran também aponta que "a metodologia pode ter vários vieses de aceitação porque o controle dessa população é muito difícil", já que os participantes não estavam isolados e não eram monitorados ininterruptamente em relação ao consumo de doces.
Doces e saúde
Os pesquisadores do estudo apresentado no congresso Nutrition 2025 também compilaram dados sobre a saúde dos participantes, como no caso de ganho de peso, aparecimento de marcadores biológicos para diabetes ou caso de doenças cardiovasculares. Igualmente, o consumo de doces em altas doses não aparentou levar a essas complicações de saúde. No entanto, Graaf afirma que, para questões de saúde, como no caso da obesidade, "é muito importante reduzir o consumo de bebidas açucaradas".
Por enquanto, o plano de Graaf e dos outros autores da pesquisa é publicar o artigo em um periódico científico. Para o futuro, os pesquisadores querem realizar o mesmo estudo com crianças. Outra possibilidade é investigar o que molda o desejo por doces. A conclusão do estudo observou que o alto consumo desse tipo de alimento aparenta não ser um fator para tal interesse, mas não foi um objetivo da investigação desenvolver outras hipóteses para o tema.
Questões genéticas é uma hipótese para explicar por que alguns tendem a ter um paladar mais propício a alimentos açucarados. Certeza, no entanto, ainda não existe. "Esta ainda é uma das questões mais importantes neste campo que clama por uma resposta", afirma Graaf.