Comerciantes Brasileiros preveem queda nas vendas com limitação de parcelas sem juros
Os estudo foi encomendado por associações representativas do setor de comércio
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Uma pesquisa conduzida pelo Instituto Locomotiva revelou que 72% dos comerciantes no Brasil acreditam que uma limitação no número de parcelas sem juros no cartão de crédito resultaria em uma queda nas vendas. Os dados foram divulgados na quarta-feira (18), e o estudo foi encomendado por associações representativas do setor de comércio e serviços. O levantamento, realizado entre os dias 30 de agosto e 22 de setembro de 2023, coincide com os debates sobre possíveis alterações nesse modelo de compras.
O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, se reuniu na última segunda-feira (16), com representantes de bancos e empresas dos setores de pagamentos e varejo para discutir uma proposta de limitar a 12 prestações o parcelamento sem juros. Essa medida teria implicações significativas sobre a modalidade de rotativo do cartão de crédito.
Fontes presentes na reunião relataram que o presidente da autoridade monetária ressaltou a ausência de consenso e instou todos os envolvidos a cederem em suas posições. Uma disputa entre bancos e setores do comércio está em curso.
O presidente da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), José Roberto Tadros, enfatiza que o parcelamento sem juros estimula as compras e aumenta o valor médio das vendas, atraindo consumidores que preferem diluir o pagamento em parcelas sem encargos adicionais. "Todas as restrições a essa forma de pagamento teriam implicações enormes no consumo de bens duráveis, por exemplo. Isso representaria um problema econômico de grandes proporções", avalia Tadros.
Ele acredita que muitos consumidores podem repensar suas decisões de compra, optando por adiar ou reduzir gastos caso haja um limite no número de parcelas. Isso pode resultar em uma diminuição na frequência de compra e uma redução nos volumes de transações para os comerciantes. O setor da construção civil, por exemplo, oferece parcelamentos de até 18 vezes.
Os bancos condicionam mudanças no rotativo a uma reformulação no modelo de parcelamento oferecido pelo varejo. Eles argumentam que o uso do parcelado é incentivado pelas empresas de maquininhas, que oferecem pagamento antecipado aos varejistas em troca de taxas de desconto. Isso obriga as instituições financeiras a aumentar os juros no rotativo para compensar a falta de cobrança de taxa em parcelamentos longos. De acordo com o Instituto para o Desenvolvimento do Varejo (IDV), oito em cada 10 compras parceladas sem juros no Brasil são feitas em até seis vezes.
O rotativo do cartão de crédito é uma linha de crédito pré-aprovada no cartão, acionada por quem não pode pagar o valor total da fatura na data de vencimento. Em caso de inadimplência, o banco deve parcelar o saldo devedor ou oferecer outra forma de quitação da dívida, em condições mais vantajosas, em um prazo de 30 dias.
Essa é considerada a linha de crédito mais cara do mercado. Segundo o Banco Central, em junho de 2023, o rotativo do cartão de crédito tinha o maior nível de inadimplência (49,1%). A taxa média de juros cobrada pelos bancos nesse tipo de operação ficou em 445,7% ao ano em agosto.