Composições que marcaram história: a trilha atemporal dos 40 anos de Axé
O Farol da Bahia reuniu depoimentos de artistas e pesquisadores do movimento sobre histórias de como nasceram grandes clássicos que marcaram essas quatro décadas
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Foto: Farol da Bahia
Em 2025, o Axé Music completa 40 anos, data baseada no disco "Magia" de Luiz Caldas, considerado o marco zero do ritmo. Em comemoração, o Farol da Bahia reúne depoimentos de figuras importantes para o movimento em uma série de cinco matérias especiais.
Algumas músicas não pertencem apenas ao tempo em que foram criadas. Elas são capazes de atravessar décadas, marcar gerações e se tornar verdadeiros hinos. Dessa arte o Axé Music entende bem.
O que não falta ao movimento são clássicos que, quando cantados de cima do trio elétrico, balançam do mais novo dos foliões, ao que consegue lembrar exatamente a época em que aquela melodia tocou pela primeira vez nas rádios.
Das batidas inconfundíveis e refrão chiclete de "Faraó", à explosão de "Eva", cada clássico do Axé carrega sua própria identidade e ajudou a construir uma trajetória repleta de sucessos. Mas, afinal, o que faz uma música se tornar atemporal no Axé?
Em entrevista ao Farol da Bahia, a cantora e compositora Sarajane, voz pioneira do gênero, aponta que a resposta está na força da ancestralidade encontrada nos acordes das melodias.
“A energia. É sobre você se identificar [...] A música baiana é um comportamento, você ouve a música de Salvador e você bate o pé porque é uma música de energia, o tambor está ali”.
Lucas Rangel no Studio WR
Reprodução
Historicamente, o Studio WR foi um dos pilares da construção do Axé como conhecemos hoje. Fundado por Wesley Rangel, em Salvador, o estúdio se tornou um dos principais centros de produção musical do gênero, sendo responsável pela gravação de diversos sucessos de artistas como Gerônimo, Sarajane, Margareth Menezes, Olodum, Ilê Ayê, Banda Mel, Ivete Sangalo, Daniela Mercury, entre outros.
O engenheiro de som e diretor do documentário baiano “WR Discos”, Nuno Penna, revelou ao Farol da Bahia que as histórias por trás de algumas canções que embalaram carnavais transpassavam as salas das gravações e eram feitas em cenários curiosos.
“Carlinhos Brown fez uma música porque a WR estava devendo uma grana e eles começaram a cantar no roll ‘eu quero um vale, eu quero um vale’. Depois Sarajane gravou e virou sucesso. Tem muitas músicas que acontecem nas escadas do prédio. Xibom Bombom, por exemplo, foi feita na lanchonete da WR”, contou.
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Os depoimentos de quem faz parte do movimento mostram que o processo de criação dessas composições é sempre muito particular, reunindo ideias que nascem em cima do trio, relatos tirados de livros de história e até letras escritas no asfalto, como o caso de “Crença e Fé”, de Beto Jamaica.
“Eu fiz em casa, não tinha caneta para escrever, escrevi no passeio do vizinho e rezei para não chover, porque eu perderia a ideia. Quando eu cheguei lá estava tudo certinho, Deus me deu a oportunidade. Aí foi um sucesso, Banda Mel gravou, em seguida Ilê Ayiê”, contou Beto em entrevista ao Farol da Bahia.
Ainda que não tenha uma fórmula definida, uma coisa é certa: no Axé, a música é mais do que um som, é celebração, resistência e identidade. Cada composição carrega a força de quem viveu e vive essa história, mantendo acesa a chama. E quando a gente menos espera, um novo hit surge para nos lembrar: essa festa nunca acaba.
Confira depoimentos completos de Sarajane, Nuno Penna, Beto Jamaica, Bell Marques e Paulo Miguez: