Confira como o Brasil conseguiu enviar mensagens aos EUA para aliviar tarifaço

Alckmin liderou o esforço e teve o apoio de ministros, diplomacia brasileira e o setor privado

Por Da Redação
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Confira como o Brasil conseguiu enviar mensagens aos EUA para aliviar tarifaço

Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

O Brasil conseguiu enviar mensagens para autoridades dos Estados Unidos, por meio de um movimento articulado por ministros, diplomatas e líderes do setor privado, para diminuir o impacto do tarifaço imposto ao Brasil pelo presidente Donald Trump.

A estratégia foi realizada assim que o governo brasileiro teve conhecimento sobre a resistência da Casa Branca em ter qualquer diálogo formal com seus representantes.

Trump havia ordenado o bloqueio dos canais institucionais. Por isso, o vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin (PSB), esteve à frente de um esforço conjunto que mobilizou várias áreas do governo e atores não estatais.

A iniciativa contou com um trabalho coordenado entre o Itamaraty e empresas com presença ativa em Washington.

O Itamaraty colaborou para abrir portas junto a oficiais e agências do governo americano, além de articular estratégias de aproximação. Alckmin conversou com diversos setores e empresários dos dois países. O Ministério da Fazenda iniciou articulações com agentes econômicos de ambos os lados.

Uma fonte envolvida nas negociações afirma que todos os interlocutores brasileiros levaram uma mensagem unificada: tarifas amplas e lineares seriam economicamente prejudiciais para os dois lados, sobretudo para empresas e consumidores dos EUA.

Outro ponto importante foi a rejeição categórica do governo brasileiro em tratar de questões políticas ligadas ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A independência entre os Poderes e a solidez da democracia brasileira foram reafirmadas em todas as negociações.

Motivação política

As articulações foram realizadas com discrição, para evitar possíveis sabotagens de atores políticos interessados em aumentar o confronto entre o Brasil e Trump.

Fontes diplomáticas afirmaram que, nos bastidores, ao longo das tratativas, ficou clara a falta de disposição de Trump para qualquer tipo de negociação real.

Esse fator reforçou a avaliação de que suas medidas tiveram motivação política, mas também deu mais força à determinação de Brasília em manter o foco exclusivo na agenda econômica. Além disso, foi definido que o diálogo com autoridades não diretamente ligadas à Casa Branca e com atores não governamentais deveria ser ampliado.

Na última semana, diplomatas receberam sinais definitivos de que Trump não voltaria atrás na decisão. Ele avançaria com as tarifas, embora ainda não estivesse claro se elas seriam lineares ou se isentariam alguns poucos setores.

Diante da margem para tentar atenuar os efeitos do tarifaço e ampliar a lista de exceções, o governo insistiu. Reuniões com diferentes agências e empresários americanos foram realizadas nos dias seguintes.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) concedeu mais entrevistas à imprensa internacional, sobretudo à americana, afirmando que respeitava os Estados Unidos, mas que a soberania brasileira não podia ser negociada.

Os ministros mantiveram a mesma linha no Brasil, com uma presença mais constante na imprensa e evitando atritos na reta final das negociações. Os esforços ajudaram a ampliar a lista de exceções, e setores importantes foram retirados da relação de produtos tarifados.

Ainda que haja a consciência de que os americanos agiram, sobretudo, com base em seus próprios interesses, o governo considera que o trabalho foi essencial para aumentar a compreensão sobre o impacto das tarifas e abriu caminho para futuras negociações.

Na última quarta-feira (30), ocorreu o maior reconhecimento desse trabalho, com a primeira reunião entre o chanceler Mauro Vieira e o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio.

Negociações em andamento

Ainda assim, o governo não demonstrou satisfação com os resultados alcançados, já que diversos setores, empresas e trabalhadores serão afetados diretamente pelas tarifas americanas.

Brasília também está ciente de que os Estados Unidos permanecem com diversos instrumentos de pressão política contra o Brasil.

Contudo, apesar das dificuldades, há uma avaliação de que o trabalho desempenhado nas últimas semanas foi essencial para alcançar um resultado concreto, decorrente da reunião entre Mauro Vieira e Marco Rubio.

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