Consciência Negra: mostra resgata história e ancestralidade do povo brasileiro
‘Vivedores de Ganho, Ontem e Hoje!’ fica disponível em novembro, na SPD
Foto: Camila Carrera
No mês da Consciência Negra, celebrado em novembro, a Associação Protetora dos Desvalidos (SPD) recebe a mostra coletiva ‘Vivedores de Ganho, Ontem e Hoje!’. A ação, idealizada pelo Ateliê Sérgio Amorim Artes, apresenta, através das artes visuais, a ancestralidade e a contemporaneidade de sobrevivência do povo brasileiro e do trabalhador, em sua maioria descendentes de negras e negros escravizados, em paralelo com as profundas consequências sociais e econômicas que assolam o Brasil.
A SPD, instituição que sedia a exposição, tem uma importância histórica e cultural enorme para a capital baiana. Fundada em 1832, por Manoel Victor Serra, a Associação é a primeira organização civil negra no Brasil. Manoel era um africano livre, que vivia de ganho e comercializava água nas imediações da Ladeira Preguiça. Além de toda bagagem histórica, a SPD é reconhecida pelos trabalhos que desenvolve para proteger a população negra brasileira. Desde o início do século XX a instituição, hoje presidida por Lígia Margarida Gomes, funciona no mesmo casarão azul, próximo ao Cruzeiro de São Francisco, no Centro Histórico de Salvador.
Adinelson Filho, artista plástico e curador da mostra, disse ao Farol da Bahia que o maior legado da SPD foi “ter organizado, muito antes da definição de um estado nacional brasileiro, o primeiro instituto previdenciário exclusivo para trabalhadores negros africanos e crioulos”. Para ele, é de extrema importância que a mostra seja realizada no mês em que é celebrado a consciência negra justamente porque todo o projeto ajuda a fomentar a importância das raízes ancestrais.
“Sendo este o mês em que celebramos as nossas potências e refletimos sobre a nossa história e condições sociais, tratar de um segmento formado em sua maioria pela população negra descendente de pessoas que foram escravizadas e que deram toda a sua força para movimentar a economia das grandes cidades do Brasil através da arte é, além de oportuno, necessário. Mostrando a linha contínua entre os vivedores e as vivedoras de ganho do passado e os de hoje demonstramos as condições sociais em que se encontram esta parte da população”, afirmou o artista.
Ele afirma, ainda, que a arte contribui para a valorização da cultura negra. “A arte é uma linguagem, e como linguagem pode vincular ideias, valores e informações que ajudem a sociedade brasileira a compreender a importância da contribuição das culturas negras na sociedade brasileira. São contribuições econômicas, políticas, sociais, estéticas, éticas e filosóficas”, disse.
A mostra, que faz parte do projeto Arte e Ancestralidade, é gratuita e fica disponível para visitação entre os dias 1 e 30 de novembro, de segunda a sexta-feira, das 9h às 11h30 e das 14h às 16h30, e aos sábados das 9 às 11h30 na SPD. Com curadoria de Sérgio Amorim, Luzimar Azevedo, Adinielson filho e Yara Gomes, a exposição recebe obras de pintura a óleo sobre tela, santeria em cerâmica, fotografia, escultura em argila e resina, mosaico, aquarela e nanquim, pintura acrílica sobre tela, trançado e papietagem, escultura, poesia, aquarela sem papel, feltro bordado, artes visuais e escultura em metal.
Ainda em entrevista, Adinelson Filho disse que a mostra visa, além de todas as contribuições já citadas, dar visibilidade à SPD. Para ele é importante que as pessoas conheçam a história da instituição e “toda a sua importância na vida dos vivedores e vivedoras de ganho da cidade de Salvador”. “Também queremos apresentar novos e talentosos artistas à sociedade baiana, muito deles e delas vivedores da sua arte”, concluiu.