Consignado CLT tem estreia de sucesso com chance para quitar dívidas com juros altos; entenda riscos e benefícios
Nos três primeiros dias, dados indicam 40,2 milhões de simulações de empréstimo via Carteira Digital de Trabalho

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Lançado oficialmente na última sexta-feira (21), o Programa Crédito do Trabalhador na Carteira Digital de Trabalho - chamado popularmente de consignado CLT - tem sido objeto de grande interesse dos trabalhadores. Às 18h do domingo, o sistema Dataprev indicava 40,2 milhões de simulações de empréstimo via Carteira Digital de Trabalho. Dados divulgados pela CNN na segunda-feira (24) mostravam que mais de 5 milhões de pessoas já solicitaram propostas de empréstimo.
A resposta para tamanho entusiasmo do proletariado em relação à nova modalidade de crédito é o endividamento. Em entrevista ao Farol da Bahia, o economista e vice-presidente do Corecon-Ba, Edval Landulfo, explicou que a necessidade de recompor a renda e quitar outros empréstimos motivaram um grande número de pessoas a solicitar o consignado. Isso será possível porque o novo programa oferece juros menos caros do que os praticados atualmente no mercado e permitirá a portabilidade de crédito - que consiste na transferência do saldo devedor para um banco que ofereça melhores condições de pagamento - a partir de junho deste ano.
“Há a possibilidade de redução de juros por causa da garantia real, que corresponde a 10% do FGTS mais os 100% dos 40% da multa e, se isso não for suficiente, no próximo emprego com carteira assinada, as pessoas que pegaram empréstimo voltarão com a dívida corrigida a pagar na folha de pagamento. Então, há a possibilidade de troca, é mais dinheiro que ficaria na conta dos trabalhadores para uso devido à diminuição dos juros mais altos por juros mais baixos”, destacou Edval.
O economista comparou, por exemplo, uma dívida no cartão de crédito ou no cheque especial, que têm juros mais altos, com a nova modalidade de empréstimo. “Neste caso, pegar um empréstimo com um juros bem menor, a renda agradece. Quando há um planejamento financeiro para que esse pagamento seja na sua totalidade, vai valer a pena, mas para pagar apenas uma parte da dívida, não”, afirma.
Fabio Torelli, CEO da Oneblinc, chama atenção ainda para outras vantagens importantes do novo consignado que tem atraído os trabalhadores, como o modelo de leilão de taxas operado pela Dataprev. “Esse sistema [leilão] permitirá que as instituições financeiras disputem a concessão de crédito com base nas melhores condições oferecidas, promovendo maior transparência e competitividade. Isso levará a uma redução natural das taxas cobradas, beneficiando os consumidores”, explicou.
Torelli citou ainda a ausência de necessidade de vínculo entre banco e empregador como uma vantagem. Segundo ele, enquanto antes apenas grandes empresas com convênios firmados podiam oferecer a modalidade aos seus colaboradores, agora, todo trabalhador da modalidade CLT poderá “entrar no jogo”. “Isso amplia drasticamente o alcance do crédito consignado privado”, avaliou.
Atenção aos riscos
Embora tenha sido avaliado como algo positivo, o alto número de consultados ao consignado CLT levantou preocupações em relação aos objetivos das solicitações.
“Tem pessoas que pretendem pegar o empréstimo para fazer uma compra de consumo, e isso é pensar de uma maneira equivocada que vai contribuir para mais um endividamento. Não se pega empréstimo porque é um empréstimo, para realizar alguma compra de bem ou serviço. Há uma preocupação em relação aos números que estão sendo informados. Trabalhadores e trabalhadoras têm que ter consciência da necessidade desse dinheiro para não virar uma bola de neve”, destacou Edval.
Fabio Torelli destaca ainda o cuidado que os trabalhadores devem ter quanto à troca de emprego. Neste caso, se o trabalhador mudar de empresa, ele poderá usar 10% do FGTS e 100% da multa rescisória como garantias. Caso isso não seja suficiente, porém, ele continua devendo e há uma interrupção no pagamento. “O funcionário não consegue pegar outro enquanto ela não quitar o empréstimo atual. Ele poderá procurar o banco para acertar uma nova forma de pagamento, que poderá ser retomado quando a pessoa conseguir outro emprego CLT. É preciso ter consciência sobre todos esses pontos antes de se buscar essa modalidade de crédito”, aconselha.
O ministro do Trabalho e Emprego (MTE), Luiz Marinho, também orientou os trabalhadores a não se precipitarem na hora de contratar o crédito. Ele recomendou que as pessoas interessadas esperem o prazo de 24 horas para que todas as instituições financeiras habilitadas enviem as propostas, garantindo assim melhores condições de juros.
O economista e ex-BBB Gil do Vigor, por vez, criticou a medida nas redes sociais. "Em um cenário em que as famílias estão endividadas, não conseguem pagar nem o que estão devendo, elas vão fazer mais dívidas”, analisou.
Dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) divulgados no início de fevereiro mostram que, apesar da queda no endividamento, cerca de 76% das famílias brasileiras ainda estão endividadas.