Consumo de álcool deixa marcas genéticas que podem causar câncer de esôfago
Cientistas examinaram 552 genomas de pacientes com o tipo de câncer em oito países
Foto: Reprodução
Um estudo realizado por pesquisadores do Instituto Nacional de Câncer (Inca) e publicado pela revista Nature Genetics, mostrou que o consumo de álcool pode deixar marcas físicas nas células do esôfago e ocasionar câncer no órgão. Os cientistas examinaram 552 genomas de pacientes com o tipo de câncer em oito países: Brasil, China, Irã, Japão, Kenya, Malawi, Reino Unido e Tanzânia, pelo período de cinco anos.
O câncer de esôfago é o oitavo tipo mais incidente no mundo e o sexto de maior mortalidade, segundo dados da Agência Internacional para Pesquisa em Câncer (IARC). No Brasil, a doença é a sexta mais incidente, de acordo com dados do Inca, e a quinta de maior mortalidade entre os homens.
De acordo com o Inca, do total das estruturas genéticas investigadas, 5,4% são de brasileiros. No país, um dos fatores de risco para a doença é o consumo de álcool, seguido pelo uso do tabaco e bebidas em altas temperaturas, como chás e chimarrão, por exemplo.
A partir do material coletado, que incluiu amostras de tecido tumoral e de sangue dos pacientes, os pesquisadores procuraram pela chamada “assinatura mutacional”, que é um padrão específico de mutações no DNA de alguns tipos de câncer. A ideia é que, ao sequenciar todo o genoma de um tumor, seja possível encontrar o perfil dessas assinaturas e assim indicar quais componentes foram responsáveis por levar ao desenvolvimento do câncer naquele paciente.
Envelhecimento
Outro fator que pode estar relacionado a essas marcas genéticas é o envelhecimento precoce que, segundo os pesquisadores, pode estar associado ao baixo índice de desenvolvimento humano dos grupos voluntários.
“Ou seja, além de fatores já destacados, como o consumo de tabaco e de do álcool, o fator em comum e que pode estar por trás das assinaturas observadas nesses cânceres parece ser o baixo nível socioeconômico”, explica uma das pesquisadoras Sheila Coelho Lima.
A análise faz parte do projeto Mutographs, liderado pela Agência Internacional para Pesquisa em Câncer/Organização Mundial da Saúde (IARC/OMS) e pelo Instituto Sanger do Reino Unido, que conta com um grupo de cientistas de dez países. O INCA representa o Brasil e a América Latina no projeto, com os pesquisadores Sheila Coelho Soares Lima e Luis Felipe Ribeiro Pinto, chefe do Programa de Carcinogênese Molecular e coordenador de pesquisa do Instituto. O estudo também contou com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj).