“Decepcionante”, classifica Mandetta sobre decisão da ocupação de militares no Ministério da Saúde
Mandetta foi demitido do cargo pelo presidente Jair Bolsonaro após discordâncias sobre o combate ao vírus
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
O ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM), em entrevista concedida à AFP, voltou a comentar a ocupação de militares no Ministério da Saúde diante da pandemia do novo coronavírus, ao classificar como “decepcionante” e “chato”. Segundo ele, a decisão do presidente Jair Bolsonaro de entregar a pasta na ala militar é incoerente já que “Os médicos não sabem fazer guerra e os generais não sabem fazer saúde”.
Mandetta foi demitido do cargo após discordâncias sobre o combate ao vírus. "A história vai dizer, os números vão dizer, desde que se tenha clareza e que não haja censura a eles”, continuou ele ao lembrar da alteração no protocolo do uso da hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19 , permitida pelo general Eduardo Pazuello.
Mandetta, que é formado em medicina, foi resistente ao fazer essa mudança, já que a hidroxicloroquina, até hoje, não é garantida pela ciência como eficaz contra a doença.
“Não é uma questão de torcer a favor ou contra. Vemos aqui uma estratégia militar nesse tipo de publicação, quando um presidente capitão propõe e um ministro general publica esse protocolo. Me parece o mais próximo de um estudo às cegas. Eles são duas pessoas que não têm nenhum compromisso com a área da saúde, eles têm compromisso com a área política e da lógica militar. Infelizmente o ministério da Saúde hoje não exerce hoje uma função de gestão da saúde, é um ministério sob ocupação militar e de números militares”.
Em outro momento, ele falou sobre o posicionamento do Ministério da Saúde quando o órgão parou de exibir os casos e óbitos por Covid-19 em sua totalidade , mantendo no registro oficial apenas os dados das últimas 24 horas. “Toda vez que você muda a metodologia de número, aquilo quebra a confiança da população”, explicou. A questão, segundo ele, não é afirmar se há credibilidade, mas avaliar a postura da pasta “junto a entidades e à sociedade civil”.