Depoimentos de ex-membros da PF confirmam versão de Torres sobre ausência de interferência na PRF
Segundo ex-diretor-geral, ex-ministro pediu ação conjunta, mas para evitar fraudes eleitorais
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Dois depoimentos de ex-membros da cúpula da Polícia Federal confirmaram a versão do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres, sobre ele não ter interferido na Polícia Rodoviária Federal (PRF), no segundo turno de eleições de 2022.
Os depoimentos são do ex-diretor-geral da PF, Márcio Nunes, e do ex-superintendente da corporação na Bahia, Leandro Almada. De acordo com os dois, houve um pedido de Torres para atuação conjunta, mas que o motivo alegado seria o combate a fraudes eleitorais.
Segundo Nunes, ele viajou com Torres para a Bahia cinco dias antes do segundo turno das eleições. Ele convidou o ex-ministro porque Torres não compareceu à cerimônima de posse do superintendente no estado e que por isso Anderson estaria em dívida, pois "havia uma reclamação porque o MJSP [ministro da Justiça e Segurança Pública] estava indo mais a eventos da PRF do que da própria PF".
Em uma conversa informal, segundo Nunes, Torres e outras pessoas teriam mencionado sobre eleições, já que se aproximava a data. O ex-diretor-geral então pediu ao chefe da PF na Bahia reforço máximo no policiamento ostensivo da PF e que apenas teria sugerido o uso de efetivo da PRF para auxiliar no combate a crimes eleitorais no estado.
O delegado Leandro Almada, ex-superintendente da PF na Bahia, confirmou que foi o ex-diretor-geral quem pediu o reforço no trabalho ostensivo da corporação. Ele citou a suposta preocupação de Nunes e do ministro Torres. "Eles ouviram relatos de uma compra de votos grande na Bahia, vários crimes eleitorais, tanto em relação à compra de voto... E que facções criminosas em Salvador estariam nitidamente apoiando o candidato do PT. Que estariam constrangendo eleitores em seções com armas de fogo", disse.
Quanto à orientação de trabalhar em integração com a PRF, ele disse que já tinha posto 70% do efetivo da Polícia Federal para o segundo turno das eleições, mas que "eles falaram coloque ainda mais, para não ficar ninguém parado" e que, se fosse preciso, eles poderiam contar com o reforço de "30, 40 da PRF à disposição para integrar a equipe".
O delegado disse ao então diretor-geral e ao então ministro que usaria todo apoio necessário, mas, quando eles foram embora, alinhou outra estratégia. "Entendo inadequada essa ação conjunta, a gente atuaria sozinho, dentro do nosso planejamento da PF, no padrão da PF, sem necessidade de equipes integradas. E foi isso que ocorreu", afirmou no depoimento.
A PF ainda quer ouvir as outras quatro testemunhas da reunião em Salvador: o ex-secretário-executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública, brigadeiro Antônio Lorenzo, e três delegados lotados na Superintendência da Polícia Federal da Bahia — Flávio Albergaria, atual superintendente no estado, Marcelo Werner e Rodrigo Carvalho.