Desastre em Alagoas e menores margens levam prejuízo da Braskem a R$ 4,5 bilhões em 2022
A Braskem se tornou alvo ainda de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) no Senado
Foto: José Cruz | Agência Brasil
A Braskem registrou prejuízo de R$ 4,5 bilhões em 2023, contra um resultado negativo de R$ 366 milhões no ano anterior. O desempenho, segundo a empresa, foi provocado por menores margens de venda e por aumento de provisões para lidar com o desastre de Maceió.
Uma das gigantes globais do setor petroquímico, a Braskem é alvo de interesse da estatal de Abu Dhabi Adnoc, que negocia a compra da participação da Novonor (ex-Odebrecht). Sócia da empresa, a Petrobras também avalia a operação.
A Braskem se tornou alvo ainda de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) no Senado, que apura responsabilidades sobre o desastre de Maceió, que já provocou a remoção de milhares de pessoas de suas casas diante do risco de colapso de minas de sal-gema.
Em 2023, após o colapso de uma das minas na área, a Braskem decidiu ampliar em R$ 2,3 bilhões as provisões feitas para remediação da crise. Durante o ano, desembolsou R$ 3,8 bilhões em indenizações e medidas compensatórias.
Em entrevista para detalhar o balanço, o diretor financeiro da empresa, Pedro Freitas, disse que as novas provisões têm o objetivo de cobrir custos durante a paralisação das atividades após o colapso da mina 18 e a decisão de preencher seis minas que não seriam preenchidas.
No fim de 2023, o valor total provisionado para enfrentar a crise era de R$ 5,2 bilhões. Freitas afirmou que e empresa vem colaborando com a CPI do Senado, entregando documentos solicitados pela comissão. "Vamos contribuir sempre que formos chamados."
Segundo ele, o resultado da empresa foi afetado também com aperto nas margens de produtos petroquímicos durante o ano, reflexo da desaceleração da economia global em um período de aumento da capacidade de produção.
No quarto trimestre, a Braskem teve prejuízo líquido de R$ 1,6 bilhão, queda de 8% em relação ao resultado negativo do mesmo período de 2022.
Com estratégias para enfrentar a queda de margens, como priorizar a produção em plantas mais competitivas, a empresa fechou o trimestre com Ebitda recorrente, indicador que mede a geração de caixa, positivo em R$ 1 bilhão, contra desempenho negativo no quarto trimestre do ano anterior.
Ainda assim, considerando gastos não recorrentes, teve consumo negativo de caixa de R$ 843 milhões, contra geração de R$ 155 milhões um ano antes.
Freitas disse esperar melhora no desempenho do setor em 2024, com as margens evoluindo tanto pela melhor relação entre oferta e demanda quanto por disrupções logísticas, com a seca no canal do Panamá e a crise geopolítica no canal de Suez.
Ele informou que os processos de avaliação da companhia, conhecidos como "due dilligence", já foram praticamente concluídos por Adnoc e Petrobras. Nenhuma das duas companhias, porém, confirmou ainda se fechará negócio.
A Braskem a sexta maior fabricante de produtos químicos do mundo, com fábricas em três países, além do Brasil. Sua controladora, a Novonor, quer sair do negócio para pagar cerca de R$ 15 bilhões em dívidas com bancos e destravar seu processo de recuperação judicial.
Sócia minoritária da petroquímica, a Petrobras tem como opções vender sua fatia ou até comprar a participação da Novonor pelo mesmo valor ofertado pela futura compradora. Pode também permanecer como sócia do novo controlador, cenário mais provável atualmente.
A Braskem terminou o 2023 com US$ 3,6 bilhões (R$ 18 bilhões) em caixa, sem considerar linha disponível de crédito rotativo de US$ 1 bilhão que vence em 2026.
A alavancagem da empresa ao final do ano passado era de 8,12 vezes em dólar, considerando um bond híbrido, ante 12,21 vezes ao fim de setembro e 2,42 vezes no encerramento de 2022.
Mesmo com o cenário adverso, decidiu antecipar investimentos para aproveitar linha de crédito aberta pelo governo para o setor. Na entrevista desta quinta-feira (19), a direção da empresa elogiou as medidas de apoio e defendeu foco na questão do preço do gás natural, hoje um empecilho à competição com produtos dos Estados Unidos.