Despesas com juros em 2023 superam gastos em áreas prioritárias
Dados revelam que despesas com juros da dívida pública do Governo Central ultrapassaram os investimentos em Saúde, Educação e Assistência Social no ano passado
Foto: José Cruz/Agência Brasil
No ano de 2023, as despesas com juros da dívida pública do Governo Central do Brasil ultrapassaram os gastos combinados dos Ministérios da Saúde, da Educação e do Desenvolvimento e Assistência Social. Essa constatação veio à tona por meio do Painel do Orçamento, mantido pelo Ministério do Planejamento e Orçamento, e das estatísticas das contas públicas divulgadas pelo Banco Central.
Os números revelam que as despesas pagas pelo Ministério da Saúde totalizaram R$ 170,26 bilhões no ano passado, enquanto as do Ministério da Educação e do Desenvolvimento Social somaram, respectivamente, R$ 142,57 bilhões e R$ 265,291 bilhões, totalizando R$ 578,13 bilhões. Por outro lado, as despesas com juros da dívida pública alcançaram R$ 614,55 bilhões em 2023, superando os R$ 503 bilhões registrados em 2022.
É importante destacar que as despesas com juros estão incluídas no orçamento financeiro, diferente do orçamento dos ministérios, e ambas têm impacto na dívida pública. Essa situação reflete o aumento do endividamento do setor público, que voltou a subir em 2023 após dois anos de queda. Esse indicador é monitorado de perto pelo mercado financeiro e investidores, pois afeta a capacidade de pagamento do país e pode resultar em taxas de juros mais altas na compra de títulos públicos.
Para enfrentar esse desafio, o governo implementou uma nova regra fiscal em 2023, limitando o crescimento dos gastos ao aumento da arrecadação e fixando uma meta de déficit zero para o ano. No entanto, as críticas ao alto patamar da taxa de juros brasileira persistiram durante boa parte do primeiro ano do governo Luiz Inácio Lula da Silva. A redução dos juros só começou após o Banco Central iniciar um ciclo de cortes em agosto de 2023.
Além disso, é importante observar que dentro das despesas classificadas como "juros" da dívida pública, não estão apenas os gastos com a taxa básica de juros (Selic), mas também outros indexadores, como a inflação. Operações com derivativos realizadas pelo Banco Central também impactam essas despesas.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, alertou esta semana sobre os custos de empréstimos elevados enfrentados pelos países em desenvolvimento, classificando-os como uma "armadilha da dívida". Ele enfatizou a necessidade de reformas na arquitetura financeira global para enfrentar esses problemas e garantir o financiamento do Desenvolvimento Sustentável.