Salvador

Dia da Baiana de Acarajé: mais de 3.500 profissionais atuam em Salvador

Entenda como surgiu uma das profissões mais tradicionais do estado

Por Da Redação
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Dia da Baiana de Acarajé: mais de 3.500 profissionais atuam em Salvador

Foto: Divulgação

Uma das profissões mais antigas e mais presentes em território baiano é a das baianas de acarajé. Reconhecidas desde 2012 como patrimônio imaterial da Bahia, as figuras das mulheres com saias brancas exuberantes marcam uma forte presença em pontos turísticos de Salvador como o Centro Histórico, Farol da Barra, Largo do Rio Vermelho e outros. De acordo com a Associação Nacional das Baianas de Acarajé (Abam), atualmente existem cerca de 3.500 em Salvador e 8.000 em todo o Estado da Bahia. 

No dia 19 de janeiro de 2010 foi estabelecido que o dia 25 de novembro seria conhecido nacionalmente como o Dia das Baianas de Acarajé, celebrando a importância histórica que essas profissionais representam para a construção da identidade baiana e brasileira.

A baiana também por profissão, Marinalva Santos da Conceição de 62 anos, começou o ofício ainda na juventude mesmo sem nenhuma tradição familiar. Em 2004 ela encarou o desafio da profissão para conseguir sobreviver em meio as dificuldades financeiras, mas com o passar do tempo a necessidade aperfeiçoou o talento.

“Uma antiga patroa notou que eu tinha talento para fazer acarajé, ninguém me ensinou. Antes eu fazia cocada, sequilho, salgados. O acarajé surgiu como uma experiência, mas as coisas foram dando certo, aí segui. De Valença, parei aqui em Salvador, no bairro do Beiru, cheia de medo, mas com um sonho. Aqui estou, há 19 anos, prestes a inaugurar meu primeiro self-service de acarajé”, conta. 

Marinalva Santos / Divulgação

A profissão fez Marinalva conquistar grandes sonhos, mas a lista ainda é longa. Seu primeiro ponto de tabuleiro foi na cidade de Valença, há 42 anos, e até hoje segue em funcionamento. O sabor do acarajé de Marinalva se tornou conhecido em Salvador e Lauro de Freitas, onde moram alguns de seus familiares, a ponto de aprendizes começarem a vender seus quitutes.

Marinalva opera o Point do Acarajé em um bairro periférico de Salvador, e ajuda a contribuir com opções de lazer para os moradores e fortalecer a economia local, além de garandir o seu sustento. Quando questionado qual seu próximo sonho, ela responde sem pensar muito que é ''descansar e cuidar das plantas'', demonstrando a necessidade de um descanso para o corpo e para as mãos que tanto trabalham.

A história das baianas de acarajé

Segundo a Revista Eletrônica do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), a história da baiana de acarajé começa no período da escravidão, quando os negros chegaram à Bahia a partir do século XVI trazendo consigo seus costumes e religiões e as escravas de ganho saiam para vender doces e salgados nas ruas de Salvador, recife e Rio de Janeiro para levar o lucro aos seus senhores.

A ligação com as religiões de matriz africana eram extremamente fortes, e a massa do acarajé era feita dentro do próprio terreiro, onde as baianas geralmente cumpriam as obrigações a seus Orixás. Através de um canto tradicional, elas iam chamando o povo para comprar e comer os famosos bolinhos, usando a expressão em tom e canto ''acará jê''. Acara significa bola de foto e jê significa vender. Tanto o acarajé como o abará além de servir para alimento do corpo, também eram alimentos para o espírito, preparados nos terreiros de Candomblé para cultuar os orixás Iansã e Xangô. 

No final do século XIX, as mulheres escravas tinham a permissão dos seu senhores para sair no final do dia com o tabuleiro na cabeça, protegido por um torço de pano da costa, para vender os acarajés feitos de massa de feijão fradinho descascado, cebola, gengibre e camarão. após a abolição em 1888, a tradição seguiu firme e forte.

Baiana de acarajé em 1885 / Divulgação - Instituto Moreira Salles

Em meados da década de 70 do século XX, as baianas cultivaram o costume de vender os bolinhos apenas pela tarde e pela noite. Não demorou muito para o acarajé conquistar os turistas e se tornar um dos principais cartões de visita da culinária baiana e voltar a ser vendido durante o dia.

Alguns pesquisadores pontuam que a partir da segunda metade do século passado, as baianas de acarajé começaram a ser mais reconhecidas e valorizadas de forma nacional e se transformaram em ícones da cultura soteropolitana. Em 2009 foi criado o Memorial da baiana de acarajé, com o objetivo de situar a tradição e a história da profissão. Em 2005 o próprio acarajé foi reconhecido como Patrimônio Cultural de Salvador pela Câmara Municipal.

Surgimento da Associação Nacional das Baianas de Acarajé

Fundada em 1992 como uma entidade de direito provado e sem fins lucrativos, a Associação Nacional das Baianas de Acarajé (Abam) localizada no Pelourinho, surgiu com o objetivo de garantir a promoção dos meios necessários para garantir o direito e o bem estar das baianas de acarajé. A entidade conta com aproximadamente 4.000 baianas filiadas, que são capacitadas com cursos profissionalizantes que ajudam na solidificação e manutenção da tradição.

Associação Nacional das Baianas de Acarajé / Reprodução - Valter Pontes / Secom

A Abam possui núcleos nas cidades baianas de Alagoinhas, Caetité, Camaçari, Cruz das Almas, Dias D´Ávila, Ilhéus, Itaparica, Jaguaquara, Lauro de Freitas, Mar Grande, Maragogipe, Santo Amaro da Purificação, Santo Antônio de Jesus, Saubara, Simões Filho e Vera Cruz e também em Brasília, João Pessoa, Manaus e Porto Alegre. 


 

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