Dia do combate à gordofobia: 97,8% das pessoas consideradas não magras já foram vítimas de preconceito
Em entrevista, coordenadora do ‘Vai Ter Gorda’ reforça necessidade de ações afirmativas no Brasil
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A sociedade impõe um padrão de beleza e saúde que cultua a magreza e, portanto, atribui ao corpo gordo inúmeros estereótipos negativos. Um preconceito muitas vezes disfarçado de cuidado e preocupação, a gordofobia nega espaço e oportunidade a pessoas gordas. Dados da Pesquisa Mapeamento da Gordofobia no Brasil mostram, por exemplo, que 97,8% das pessoas não magras já foram vítimas desse preconceito no país. Além disso, 29,2% afirmam ter dificuldades de acesso ao mercado de trabalho.
Em entrevista ao Farol da Bahia, Adriana Santos, coordenadora do coletivo de mulheres “Vai Ter Gorda”, reforçou que a gordofobia está presente não apenas nas ofensas, mas em detalhes, como no transporte público, no ambiente de trabalho e na falta de acessibilidade. Segundo ela, a sociedade ainda não está preparada para lidar de forma igualitária com todos os tipos de corpos. Há seis anos, o coletivo atua no combate ao preconceito contra as pessoas gordas na capital baiana e em outros estados brasileiros.
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“O coletivo vem dando protagonismo e visibilidade a mulheres gordas, principalmente as baianas e soteropolitanas. A gente propõe à sociedade esse olhar de humanidade e respeito à diversidade corporal. Entre os nossos principais debates, questões ligadas à acessibilidade merecem uma atenção especial. Esse é um dos maiores enfrentamentos que nós, mulheres gordas, precisamos lidar constantemente. Nós sofremos com a falta de acessibilidade nos espaços. O transporte público, infelizmente, ainda é um grande desafio”, afirmou Adriana.
“A empregabilidade também é uma pauta diária nos nossos debates. Isso porque muitas mulheres gordas têm, além da acessibilidade, o seu direito ao mercado de trabalho negado por conta do fardamento e do vestuário. Na maioria das vezes, as empresas só trabalham com o tamanho padrão de roupa. Portanto, a gente luta para quebrar esses padrões e estereótipos dentro do mercado de trabalho também. Essas mulheres precisam ser inseridas nesses ambientes”, completou.
Ainda de acordo com a pesquisa, 56,1% dos brasileiros enfrentam constrangimento por conta de uniformes. Além disso, 41% apontam cabines de banheiro estreitas nos ambientes de trabalho e 8% relatam que as empresas preferem que a pessoa gorda não tenha contato direto com cliente e fique no backstage. “O preconceito com a pessoa gorda é tão crucial e cruel que muitas vezes nos nega espaço, nos deixa de fora desse ambiente”, reforçou Adriana.
Promovida pela jornalista Thamiris Rezende, a Pesquisa Mapeamento da Gordofobia no Brasil mensura quais são os fatos cotidianos que escancaram o preconceito e a segregação social pelo corpo. O levantamento, que tem margem de erro de 4 pontos percentuais para mais ou para menos e confiança de 95%, contou com a participação de 603 respondentes de todo o Brasil.
“Sem números não há problema. Para entendermos a complexidade de uma problemática como a gordofobia, é preciso mapear estatisticamente para então refletirmos como sociedade quais são as ações concretas e políticas públicas que devem ser adotadas no combate ao preconceito e exclusão social”, disse a idealizadora.
Combate à gordofobia
Celebrado neste sábado (10), o Dia de Combate à Gordofobia, segundo Adriana Santos, serve para conscientizar a sociedade sobre a importância da diversidade. “É um dia que toda a sociedade, inclusive com a participação do poder público, deve incentivar ações afirmativas. É muito importante conscientizar as pessoas. Essa é uma oportunidade que a gente tem de se mostrar e se posicionar enquanto pessoa gorda na sociedade”, afirmou.
O coletivo Vai Ter Gorda promove neste sábado, no espaço Hora da Criança, em Salvador, um evento em comemoração ao mês da visibilidade gorda. A iniciativa, realizada das 8h às 17h, oferece diversos serviços para essa população, como emissão de documento, exames de ultrassom e palestras.