Dinheiro pela janela, itens de luxo e ligação com políticos e juízes: relembre os três meses da Operação Overclean
Investigação contra esquema de desvio de emendas parlamentares tem empresários e políticos como alvo

Foto: Redes Sociais/Reprodução | Valdomiro Lopes/CMS | Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados
A operação Overclean, deflagrada em 10 de março de 2024 pela Polícia Federal (PF), completou três meses de uma série de desdobramentos e apreensões na última segunda-feira (10). A investigação analisa um esquema de desvio de emendas parlamentares, com recursos destinados a prefeituras através de contratos fraudulentos, por meio do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), que teria movimentado cerca de R$ 1,4 bilhão.
A PF mira o empresário baiano José Marcos de Moura, conhecido como “Rei do Lixo”, e outras 16 pessoas, a exemplo de Lucas Maciel Lobão Vieira, ex-coordenador do DNOCS, o vereador Francisco Nascimento, primo do deputado federal Elmar Nascimento, e os irmãos Alex Rezende Parente e Fábio Rezende Parente. Todos esses nomes são apontados como peças centrais do esquema.
Até então, já foram apreendidos R$ 3,3 milhões em dinheiro vivo encontrados em diferentes situações durante as diligências. Das 16 pessoas presas, 11 foram soltas por determinação do Tribunal Regional Federal (TRF) em dezembro, incluindo o Rei do Lixo. A desembargadora Daniele Maranhão Costa, que liberou o Rei do Lixo da prisão, inclusive, recebeu a medalha de cidadã soteropolitana no ano de 2019 das mãos do vereador Kiki Bispo, líder do partido do prefeito Bruno Reis na Câmara Municipal.
Veja os principais pontos dos três meses da Operação Overclean:
Protagonismo do Rei do Lixo e ligação com ACM Neto
A investigação da PF identificou o empresário José Marcos de Moura, conhecido como “Rei do Lixo”, como um dos 'cabeças' do esquema fraudulento de desvio de emendas parlamentares. Moura é proprietário de um grupo empresarial que atua no ramo de limpeza urbana em dezessete estados do País.
Filiado ao União Brasil, o empresário é ligado ao ex-prefeito de Salvador, ACM Neto (União Brasil). A PF, inclusive, apontou indícios de que era o ex-prefeito quem facilitava os negócios do grupo empresarial por meio de desvios de emendas.
Após os desdobramentos da Operação Overclean apontarem integrantes da cúpula nacional do União Brasil investigados por fraude licitatória e desvio de dinheiro público, as contas do Instituto Índigo, comandado pelo ex-prefeito de Salvador ACM Neto, entraram na mira de dois integrantes do Conselho Fiscal do partido após uma reunião e devem ser encaminhadas ao Ministério Público Federal (MPF) e ao Tribunal de Contas da União (TCU).
Sacola de dinheiro pela janela
Ainda no início das investigações, uma situação inusitada chamou a atenção de quem acompanhava os desdobramentos da Operação Overclean: o vereador Francisquinho Nascimento (União Brasil), primo do deputado federal Elmar Nascimento (União Brasil), jogou uma sacola de dinheiro com R$ 220.150 pela janela antes de ser preso. A PF conseguiu recuperar a quantia.
Itens de luxo apreendidos
Ao longo da operação, uma série de itens de luxo, como joias e carros, foram apreendidos. Na casa do empresário Marcos de Moura, a PF apreendeu documentos, carros de luxo e joias de grifes italianas, suíças, britânicas, francesas, alemãs, americanas e brasileiras. Algumas delas eram usadas pelo Rei do Lixo no momento da prisão.
O acervo era composto por uma coleção de 18 relógios que, além dos Rolex, exemplares da Cartier, Bvlgari, TAG Heuer, Hublot, Richard Mille, Emporio Armani, Hugo Boss, Dolce & Gabbana e H. Stern.
Também foram apreendidos 13 anéis, incluindo Cartier, Bvlgari, H. Stern e da joalheria baiana Carlos Rodeiro. Estão na lista ainda 28 pulseiras (Damiani, H. Stern, Carlos Rodeiro e One Joias, outra joalheria de Salvador), nove colares (Louis Vuitton, Damiani e H. Stern), 12 brincos (Tiffany, Cartier, Louis Vuitton, H. Stern e Carlos Rodeiro), seis braceletes (H. Stern) e cinco correntes (Cartier e Carlos Rodeiro).
Alguns dos itens não tiveram a marca identificada pela, como dois pingentes e três argolas de grife.
Os carros apreendidos foram uma Mercedes-Benz E250 2016 blindada, uma Land Rover Discovery e uma Land Rover Defender, além de um Jeep Compass 2021 blindado. O valor do tesouro do empresário não foi determinado pela PF. Todos os itens estão sob custódia da corporação.
Elmar Nascimento e STF
Menções ao deputado federal Elmar Nascimento levaram a operação Overclean a parar no Supremo Tribunal Federal (STF). A legislação estabelece que, quando uma investigação em instâncias inferiores se depara com fatos relacionados a uma autoridade com prerrogativa de foro, ela deve ser remetida a instâncias superiores.
Apesar disso, o relator do caso na Corte, ministro Nunes Marques, determinou que a investigação da Polícia Federal deve seguir na Bahia.
Além da relação com o vereador Francisquinho Nascimento, o primo que é um dos presos da operação, Elmar comprou um imóvel avaliado em R$ 3 milhões da empresa da filha do empresário Marcos Moura. O apartamento, em Salvador, é investigado na Operação Overclean.
Nova Lava Jato: Judiciário e Congresso temem investigação
Integrantes do Judiciário na Bahia, especialmente da Justiça Eleitoral, temem que as relações pessoais e profissionais com o empresário Marcos Moura, conhecido como "Rei do Lixo", venham à tona no âmbito da investigação da Operação Overclean. A informação foi divulgada pela coluna de Igor Gadelha, do Metrópoles.
Além disso, a jornalista Natuza Nery apontou, durante o programa Central da Globonews, que o esquema criminoso tem causado temor no Congresso Nacional. Já Daniela Lima chamou atenção para o fato do ‘rei do lixo’ ser ligado ao União Brasil, partido do presidente do Senado, Davi Alcolumbre, e do ex-presidente de Salvador, ACM Neto.
O Farol da Bahia divulgou ainda que um político baiano ligado a Marcos Moura e envolvido na Operação Overclean, decidiu se antecipar e - para evitar uma busca e apreensão - entregou seu passaporte na Polícia Federal.