Diretor de Política Econômica do BC explica por que os juros estão altos, mesmo com inflação em queda
Segundo Diogo Guillen, a próxima batalha do Brasil é superar a pressão sobre os preços no setor de serviços
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O diretor da Política Econômica do Banco Central, Diogo Guillen, afirmou que o Brasil venceu a primeira etapa do combate à inflação, mas ainda precisa superar a batalha mais difícil que é a pressão sobre os preços no setor de serviços. As informações são de uma entrevista dada ao jornal O Globo, publicada na quinta-feira (11).
Guillen foi questionado sobre o motivo de os juros continuarem altos, já que a inflação está em queda e, segundo ele, o processo de desinflacionar é feita em dois estágios.
"O primeiro estágio, que aconteceu, digamos, no fim do ano passado e início deste ano, era o mais fácil. Ele é mais concentrado em itens administrados e fora do núcleo de inflação. O segundo é esse em que você vai atingir a inflação de serviços e os núcleos de inflação. Estamos neste segundo estágio. O processo de desinflação é mais lento, por isso exige paciência e serenidade. A política monetária deve ficar restritiva", explica.
Na entrevista, ele também elenca os principais riscos do cenário. "Tem um risco para cima, que é uma inflação mais resiliente, a inflação de serviços e núcleos, o segundo estágio da inflação. O segundo é o risco fiscal, que diminuiu, porque os riscos de cauda (riscos inesperados) diminuíram depois da apresentação do arcabouço", diz.
"Mas eu acho que o mais importante a responder é como o arcabouço afeta a dinâmica inflacionária, porque não há relação mecânica entre o arcabouço e a política monetária. Quando você pensa como o fiscal mais afeta a política monetária, o principal é o canal expectacional, como isso muda prêmios de risco, ativos e expectativas. É esse o canal que faz ter uma ligação maior entre o fiscal e o monetário", acrescenta.
Sobre o efeito do arcabouço fiscal mencionado, ele esclarece se com relação ao dólar ou condições financeiras. "O que acontece com o dólar, com as expectativas, as condições financeiras que são afetadas (pelo arcabouço). O terceiro ponto, pensando no balanço de riscos, é a parte da desancoragem. Estamos vendo as expectativas desancoradas, mas se ela fica desancorada por muito tempo ou se ela desancora mais, ela pode levar a uma mudança na dinâmica de reajuste de preços. Há também resiliência da inflação de serviços".