Ditadura Militar expulsou pelo menos sete diplomatas gays, aponta documentos secretos
Relatório criado pelo regime indicava que diplomatas homossexuais deveriam ser aposentados compulsoriamente
Foto: Arquivo Público DF/Divulgação
A ditadura militar expulsou pelo menos sete diplomatas e outros seis profissionais administrativos do Ministério de Relações Exteriores porque eles eram gays. A informação consta em um relatório secreto enviado, em 1969, ao então chefe do Itamaraty José de Magalhães Pinto.
Na época, o ministro recebia documentos sigilosos sobre a vida pessoal de profissionais da pasta. O ofício em questão, após meses de análise, indicava resultados da Comissão de Investigações Sumárias (CIS): diplomatas brasileiros devem ter suas carreiras prontamente finalizadas por meio de aposentadoria compulsória.
Os profissionais eram homossexuais e, segundo o entendimento do governo militar, tal “incontinência pública escandalosa” poderia “comprometer o decoro e o bom nome” do país.
Um dos diplomatas é Ricardo Joppert, que foi afastado oficialmente em 29 de abril de 1969, quando atuava no cargo de segundo-secretário no consulado de Gotemburgo, Suécia. O profissional só conseguiu voltar ao cargo quase duas décadas depois
Outros que passaram por situação semelhante nunca conseguiram retornar ao seu cargo. O primeiro-secretário Nísio Medeiros Batista Martins, por exemplo, morreu antes da revisão proposta pela anistia. Já o servente Dionysio Fernandes Borges, que atuava como funcionário administrativo do MRE, lutou pela carreira, mas continuou afastado por causa do preconceito anos depois.
A Comissão de Investigação Sumária de 1969, também conhecida como CIS-69, foi um dispositivo criado por meio do Ato Institucional nº5 e designada por meio de uma portaria, em 3 de fevereiro do mesmo ano.
Seu objetivo era “elaborar um conceito sobre cada funcionário, através de depoimentos dos chefes dos vários órgãos da Secretaria de Estado, de autoridade da Casa, dos Chefes das Missões diplomáticas e repartições consulares, solicitados estes últimos por circular-telegráfico”.
Além da homossexualidade, os motivos indicados pela comissão para expulsar profissionais do Ministério das Relações Exteriores: “Vício de embriaguez; vida irregular, instabilidade emocional, indisciplina funcional, insanidade mental, risco de segurança, uso de entorpecentes e motivos de saúde”.