Dólar sobe após 12 quedas seguidas, com dados econômicos e tensão entre EUA e China no radar
Na terça, o dólar fechou em forte queda de 0,79%, cotado a R$ 5,769, no que foi a 12ª sessão de perdas consecutivas para a moeda norte-americana
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O dólar à vista tinha forte alta ante o real e a Bolsa subia nesta quarta-feira (5), à medida que investidores repercutiam dados econômicos do Brasil e dos Estados Unidos e observavam os desdobramentos do conflito comercial entre as duas maiores economias do mundo.
Às 12h52, a moeda americana subia 0,53%, cotada a R$ 5,799, após abrir a sessão com queda de 0,14%. Já a Bolsa tinha variação positiva de 0,42%, aos 125.676 pontos.
Lá fora, o dólar recuava diante da cesta das principais divisas globais e também da cesta de emergentes, enquanto se valorizava entre a maioria das moedas de países da América Latina. O índice DXY, que mede a força do dólar americano em relação a uma cesta de moedas estrangeiras, recuava 0,49%.
Na terça, o dólar fechou em forte queda de 0,79%, cotado a R$ 5,769, no que foi a 12ª sessão de perdas consecutivas para a moeda norte-americana. Essa é a maior sequência negativa em 20 anos, desde o período entre 24 de março e 13 de abril de 2005, quando fechou em baixa por 14 dias seguidos.
Já a Bolsa caiu 0,65%, aos 125.147 pontos.
O movimento nos mercados na véspera foi resultado dos desdobramentos do conflito comercial entre Estados Unidos e China e da divulgação da ata do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central, que reafirmou a necessidade de aumento da taxa Selic.
Na sessão desta quarta, os agentes inanceiros repercutiam dados da produção industrial brasileira divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que cresceu 3,1% no acumulado de 2024, apesar da perda de força no fim do ano.
Em dezembro, a produção da indústria teve queda de 0,3% em relação a novembro, terceiro mês consecutivo no vermelho, período em que acumulou perdas de 1,2%.
"De modo geral, o crescimento do setor industrial em 2024 pode ser entendido a partir de alguns fatores, como o maior número de pessoas incorporadas pelo mercado de trabalho, a queda na taxa de desocupação, aumento na massa de salários e o incremento no consumo das famílias, beneficiado pelos estímulos fiscais, maior renda e a evolução na concessão do crédito", disse André Macedo, gerente da pesquisa no IBGE.
O resultado mensal, no entanto, corrobora as expectativas de perda de força da economia no final do ano passado e de desaceleração em 2025, em meio ao aumento da taxa de juros, desvalorização do real e inflação elevada, mesmo com um mercado de trabalho robusto.
"Essa perda de dinamismo da indústria guarda uma relação com a redução nos níveis de confiança das famílias e dos empresários, explicada, em grande parte, pelo aperto na política monetária, com o aumento das taxas de juros a partir de setembro de 2024, a depreciação cambial, impactando os custos, e a alta da inflação, especialmente de alimentos", disse Macedo.
Na cena internacional, também foram divulgados os dados de emprego nos EUA, que são monitorados com atenção uma vez que mostram o quão aquecida está a economia do país.
A depender do resultado, o Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano) pode manter a taxa de juros em patamares elevados o que fortalece o dólar.
Segundo o Relatório Nacional de Emprego da ADP (Automatic Data Processing), foram criadas 183 mil vagas de trabalho no setor privado americano em janeiro, acima das expectativas. Economistas consultados pela Reuters previam abertura de 150 mil empregos no setor privado.
O Departamento de Comércio americano divulgou que as importações aumentaram 24,7%, saltando para US$ 98,5 bilhões em dezembro, nível recorde até então e acima do esperado pelo mercado o maior valor havia sido em março de 2022.
Além disso, a atividade do setor de serviços dos Estados Unidos desacelerou em janeiro, segundo o PMI (Índice de Gerentes de Compras), caindo de 54,0 em dezembro para 52,8 no mês passado um PMI acima de 50 indica crescimento no setor de serviços.
O mercado seguia repercutindo a política tarifária do presidente Donald Trump, tônica da sessão de terça. No sábado (1º), o republicano assinou um decreto que aplicava taxas adicionais sobre todas as importações do Canadá, México e China.
De lá para cá, porém, Trump costurou acordos com as lideranças dos países vizinhos e manteve as medidas contra os chineses.
Em conversas na segunda, Trump suspendeu a imposição de tarifas sobre o México e o Canadá por um mês depois de ambos os países reforçarem a segurança nas fronteiras com 10 mil agentes de cada lado.
Claudia Sheinbaum, presidente do México, anunciou o acordo pelo X (ex-Twitter). "Tivemos uma boa conversa com o presidente Trump, com muito respeito à nossa relação e soberania", escreveu ela.
O reforço nas fronteiras será "para evitar o tráfico de drogas para os Estados Unidos, em especial de opioides fentanil". Já os EUA se comprometeram em "trabalhar para evitar o tráfico de armas poderosas ao México".
Já em relação ao Canadá, o primeiro-ministro do país, Justin Trudeau, concordou em enviar "10 mil funcionários da linha de frente" para a fronteira para "parar o fluxo de fentanil". No X, disse que teve uma boa conversa com Trump e que o Canadá implementará um plano de US$ 1,3 bilhão para proteger as fronteiras.
Em ambos os casos, as suspensões darão espaço para negociações entre os países, visando um acordo econômico final. A manobra demonstrou a disposição de Trump em usar tarifas como barganha ante parceiros comerciais importantes, apesar de potenciais efeitos negativos para a própria economia americana.
Até então, tarifas de 25% sobre importações do México e do Canadá, impostas no decreto de sábado, seriam uma espécie de sanção para os fluxos de imigrantes indocumentados para os Estados Unidos e de opioides fentanil.
Trump, porém, manteve as tarifas adicionais de 10% sobre produtos da China, que entraram em vigor nesta terça. A medida resultou em represália. Os chineses retaliaram com taxas sobre as importações dos EUA, renovando a guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo.
O Ministério das Finanças da China anunciou que vai impor taxas de 15% para carvão e gás natural dos EUA e 10% para petróleo bruto, equipamentos agrícolas e alguns automóveis, como caminhões elétricos da Tesla, de Elon Musk. Também terão início investigações antimonopólio sobre o Google, da Alphabet.
As novas tarifas da China sobre as exportações norte-americanas começarão em 10 de fevereiro, dando a Washington e Pequim tempo para tentar chegar a um acordo que as autoridades chinesas indicaram que esperam alcançar com Trump.
Segundo a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, esforços estão sendo feitos para agendar um telefonema entre Trump, e o presidente da China, Xi Jinping, "muito em breve".
A imposição de tributos mais altos pode afetar fluxos comerciais, aumentar custos e provocar retaliações. Na economia doméstica dos EUA, ainda há o risco de um repique inflacionário, o que pode comprometer a briga do Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano) contra a inflação e forçar a manutenção da taxa de juros em patamares elevados o que fortalece o dólar.