"É um crime do estado fazer isso", critica especialista sobre responsabilizar pais sobre retorno das aulas
Hermano Castro falou que a desigualdade social dentro das escolas pode agravar a proliferação da doença

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Em entrevista ao UOL Debate, realizada nesta segunda (17), o médico pneumologista e diretor da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Hermano Castro, afirmou que a decisão do Conselho Nacional de Educação, órgão ligado ao Ministério da Educação, em passar a responsabilidade para os pais sobre o retorno dos alunos às escolas é considerado como um "crime de estado" e destacou que a desigualdade social dentro das escolas pode ser um agravante para a proliferação da covid-19 entre os estudantes de famílias de baixa renda.
"A gente não pode transferir essa responsabilidade para a família. É um crime do estado fazer isso. Nós cometemos esse mesmo erro no começo da pandemia. Eu, como médico pneumonologista, alertava que não dá para transferir para a família, principalmente a de baixa renda que não tem médico para chamar de seu, 'caso leve, fica em casa'. Uma coisa é que 'caso leve, fica em casa' numa família da Europa; outra, é para uma família da favela, que não tem a menor condição de saber qual momento se leva pra uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento)", disse o especialista.
Em outro trecho da entrevista, o médico falou sobre a dificuldade de controlar a proliferação da doença em um ambiente escolar e defendeu que a reabertura prematura pode gerar novos surtos da covid-19. "A escola é um foco de contaminação. Esse controle é muito difícil. A escola não é uma redoma", completou.
Já a presidente do Conselho Nacional de Educação, Suely Menezes, defendeu a discussão da decisão entre o Ministério e as famílias e completou dizendo que "Se não for um processo compartilhado, nós não vamos vencer. É fundamental considerar que tem de aprender a viver esse novo normal, e essa revolução vem de dentro".


