Eleições

Eleições: Curiosidade e interesse marcam aumento no engajamento de jovens com política

Jovens com menos de 18 anos com título de eleitor tem crescimento em Salvador; número é maior que a média nacional

Por Rebeca Mascarenhas
Ás

Atualizado
Eleições: Curiosidade e interesse marcam aumento no engajamento de jovens com política

Foto: Antônio Cruz / Agência Brasil

Mais um ano de eleições se aproxima e o interesse dos jovens brasileiros em exercer a cidadania tem aumentado, seja através do voto ou da candidatura. Tirar o título de eleitor para poder ter pleno acesso aos direitos políticos tem crescido e contribuído para esse engajamento no campo eleitoral. É o que indica dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Os jovens entre 16 e 17 anos com título de eleitor em Salvador cresceram 105% em comparação com as eleições municipais de 2020. O estudante Guilherme Goés de 17 anos, faz parte da estatística e afirma que decidiu votar mesmo antes de ser obrigatório.

“Acho importante, é bom ter essa consciência de quem irá nos representar, por que dependemos deles para ter um país que nos dê as melhores oportunidades”, declarou. 

Foto: Arquivo Pessoal

No total, 8,4 mil jovens garantiram o direito de voto em Salvador. Na Bahia, o número saltou de 126,6 mil nas eleições municipais de 2020 para 193,3 mil nas eleições de 2024. O número representa um aumento de 52% no Estado, de acordo com o TSE. 

O aumento de novos eleitores na capital baiana também representa um número maior que a média nacional. Os jovens de 16 e 17 anos representam o grupo com maiores crescimentos.  

Aumento de Eleitores em 2024 em comparação com 2020

O advogado e mestre em ciência política, Luiz Pereira, aponta que o engajamento político dos jovens é impulsionado por questões como mudanças climáticas, direitos civis, desigualdade social, racial e demais movimentos sociais. Luiz também indica que a pandemia e os impactos como fatores que aproximam os jovens das discussões sociais. 

Um relevante fator de influência para a participação com essas causas são as redes sociais. “É inquestionável que essas redes sociais se tornaram plataformas poderosas para discriminar informações e acabar conscientizando sobre a importância do voto. Muitos influenciadores, atores, atrizes, pessoas famosas acabam patrocinando campanhas digitais e incentivando os jovens”, afirmou Luiz. 

Redes sociais impulsionam engajamento jovem

A pesquisa “A Cara da Democracia” de 2022 mostrou que 76% dos entrevistados têm preferência por consumir conteúdos sobre política nas redes sociais. Dos entrevistados que não usam as plataformas para se informar sobre temáticas políticas ou não possuem redes, foram 21%. Quando se observa os padrões de consumo dos jovens nos aplicativos de comunicação, a relevância das redes se torna ainda maior. 

O candidato a vereador em Salvador, Sandro Filho (PP), acredita que rede social “é o segredo de tudo hoje, principalmente da política”. Para Sandro, é através das redes sociais que é possível aproximar os jovens dos temas políticos. “Ele não precisa sair nem no conforto da casa dele para conseguir participar. A rede social é o segredo de tudo. [...] A gente tem que fazer conteúdos que incentivem esses jovens a entender o processo eleitoral,” declarou. 

Outro fator apontado como fundamental para aproximar os jovens do processo eleitoral é a educação política. A estudante Gabrielle Mendes de 17 anos afirmou que foi após uma aula de história que decidiu garantir o direito ao voto. “O que realmente me motivou foi a conversa que o professor de história teve com a minha turma sobre alguns fatos históricos. Um deles, foi sobre a conquista do voto feminino em 1926, apesar disso, as brasileiras dos demais estados conquistaram o direito ao voto somente em 1932. Acerca disso, pensei nos direitos que as meninas da minha geração tem, e essa oportunidade de escolher ser uma eleitora , mesmo antes da idade obrigatória,” afirmou. 

Foto: Arquivo Pessoal

Um Projeto de Lei (PL) aprovado pela Comissão de Educação (CE) em 2023 inclui a disciplina "Educação política e direitos da cidadania" na grade curricular obrigatória da educação básica. 

“A educação política nas escolas, ela tem um papel crucial na formação dos cidadãos conscientes, críticos e participativos da sociedade, isso aí é inquestionável. Porém, ainda existem várias áreas que são necessárias, não há determinada evolução para que a educação seja realmente eficaz. Não é só a gente entender que a escola é importante na formação dos cidadãos e simplesmente jogar os alunos e não trabalhar, por exemplo, um determinado currículo. A gente precisa estabelecer um padrão de um currículo onde esse cidadão, ao final, consiga ser formado um cidadão crítico de sociedade, destaca Luiz.

O texto tem como justificativa formar estudantes que saibam usufruir e exercer a cidadania. O PL (4088/2023) foi iniciado na Câmara dos Deputados em 2015 e aprovado em 2023.  Foi aprovado um regime de urgência para deliberação no Plenário do Senado. A pauta segue aprovada para deliberação no Senado desde maio deste ano.  

O Tribunal Superior Eleitoral também investiu em propagandas de incentivo ao primeiro voto do público de 16 e 17 anos. Entre as campanhas estão o documentário “Jovem- A Voz de Quem Faz História” e “Título na mão é sossego na eleição”. Ao total, mais de 417 mil jovens entre 15 e 17 anos solicitaram a primeira via do título.  Desde 2021, adolescentes de 15 anos podem tirar o título, mas votam quando completam 16 anos. 

Participação jovem nos cargos públicos

A identificação em espaços de poder também é um incentivo para os menores tirarem o título de eleitor. O cargo com menor idade permitida é o de vereador, que exige a partir dos 18 anos para se candidatar. Porém, nas eleições em Salvador, há apenas oito candidatos, o que representa aproximadamente 0,9%, segundo o Tribunal Superior Eleitoral. 

Para Sandro Filho, o jovem tem sido usado como “capital político” para eleger outros representantes. Ao vincular a imagem de um candidato mais velho a uma figura política jovem, aproxima-se das pautas da juventude, conseguindo alcançar o eleitor mais jovem.  

“O tempo vai passando e essa pessoa nunca tem a oportunidade de realmente disputar um cargo político. Disputar um cargo dentro da Câmara, um cargo dentro da Assembleia Legislativa ou da Câmara Federal. Então, eu acho que para a gente aumentar a participação dos jovens, principalmente no processo eleitoral, a gente precisa romper esses laços que prendem o jovem a políticos antigos, dar o ponto final,” declarou.

Foto: Reprodução 

A candidata a vereadora em Salvador, Valesca Barreto (UP), de 24 anos, evidencia a importância de candidaturas jovens para que a juventude possa tomar decisões, colocar em pauta as demandas e cobrar dos políticos. “A nossa cidade é construída para que a juventude não tenha acesso a muita coisa. Não tenha acesso à política, ao conhecimento, então é muito difícil. Isso não é incentivado dentro das escolas. Na universidade até tem, mas principalmente nas escolas públicas não se fala sobre política, há necessidade disso”. 

Foto: Arquivo pessoal 

Valesca participa de uma chapa coletiva com a estudante Louise Ferreira (UP) de 21 anos e ambas defendem a importância da juventude participar ativamente das decisões políticas. “A gente faz um chamado aos jovens que estão nas escolas, nas universidades, em cada bairro para reconhecer esse potencial combativo que a juventude tem para fazer mudança e construir essas lutas”, declarou Louise. 

Apesar de ser assunto tratado por alguns como complexo, a política pode ser algo interessante. Mas afinal, você sabe por onde começar?

Confira a seguir cinco dicas de como dar o primeiro passo:

1- Estude sobre como funciona o sistema político brasileiro

Muitos cidadãos não sabem como funciona o equilíbrio dos três poderes ou o que cada cargo é responsável. Você pode saber mais em vídeos ou artigos na internet. 

2- Acompanhe veículos de notícias e jornais

As principais notícias da política serão publicadas pelos principais veículos jornalísticos do país. É recomendável acompanhar jornais com cobertura nacional e os mais específicos para cada região. Acompanhando o Farol da Bahia, você estará sempre atualizado. 

3- Pesquise os termos que você não entende

Muitos brasileiros consomem as notícias envolvendo política, mas não entendem alguns termos técnicos usados. Caso a informação não seja o suficiente para o entendimento pleno, pesquise mais sobre o assunto. 

4- Pesquise os históricos dos políticos antes de votar

Para exercer um voto consciente é fundamental confirmar se o histórico do político. O que ele fez enquanto esteve no cargo, se existe ou não algum indício de corrupção são os dois questionamentos iniciais.

5- Após as eleições, fiscalize

A participação política é muito mais do que exercer o seu direito de voto. Por isso, acompanhe e fiscalize quais são as ações, causas e planos de leis que os políticos eleitos estão trabalhando. É possível acompanhar por jornais, páginas oficiais das câmaras municipais e pelas redes sociais. 

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