Em um ano, Fiocruz emitiu ao menos 20 alertas sobre colapsos do SUS
Pesquisadores destacam pedidos de isolamento social e dizem que governo e parte da população ignoraram a ciência
Foto: Reprodução / Agência Brasil
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), desde o início da pandemia provocada pelo novo coronavírus, publicou ao menos 20 notas técnicas de alertas sobre o agravamento nacional da situação, com possibilidade de colapso do SUS, e sobrecarga dos profissionais de saúde, pedidos de lockdown, orientações de isolamento social, fechamentos das praias e recomendação do uso da máscara.
O alerta é da instituição que é subordinada ao Ministério da Saúde e que recebeu a missão de produzir vacinas em larga escala para ajudar no combate a Covid-19 no País. Ainda assim, a maioria dos pedidos foram ignorados por parte da população, e também pelos gestores das esferas municipal, estadual e federal que, não raro, em diversos momentos, seguiram na linha contrária ao que diziam os cientistas.
“As notas eram no sentido de orientar e mostrar a real situação. A intenção era que essas publicações chegassem aos gestores. Mas alguns deles achavam que soluções mais simples iriam funcionar e não foi o que aconteceu. Eles acabaram ignorando as recomendações. E a população ficou o ano todo ouvindo informações divergentes”, disse a CNN, o pesquisador Diego Xavier, um dos responsáveis por alguns desses alertas emitidos pela Fiocruz.
O Brasil agiu ao contrário do que aconteceu em outros países que conseguiram frear o avanço da doença seguindo o isolamento social e que hoje já começam a planejar uma reabertura gradual. Para Diego Xavier, "se tivéssemos ouvido a ciência e colaborado, estaríamos numa fase bem melhor da pandemia. Mas o que temos nesse momento é um cenário terrível e ainda com muitas mortes até que a pandemia esteja controlada no Brasil. Não foi por falta de aviso", concluiu.
Um dos entraves à implementação de medidas mais rígidas de restrição, na visão de muitos gestores, é o impacto que causa à economia. No entanto, de acordo com o economista Manoel Pires, consultado pela CNN, é inevitável que se adote medidas de restrições mais severas.
"Acho isso inevitável. Se não tiver apoio, o lockdown vai acontecer de forma muito parcial e vai prolongar ainda mais a crise na saúde e na economia. Lembrando que a gente já demorou bastante para controlar a primeira onda e as coisas agora estão piores. Entendo que está sendo mais caro deixar as coisas como estão, do que fazer, de fato, um lockdown eficiente", avaliou Pires, que coordena o Observatório de Política Fiscal do IBRE/FGV e é pesquisador da Universidade de Brasília (UNB).