Entenda o vai e vem do governo sobre a alta do IOF

Após a repercussão negativa no mercado, Fernando Haddad recuou em relação a alguns pontos nas mudanças

Por Erika Azevedo
Ás

Entenda o vai e vem do governo sobre a alta do IOF

Foto: Diogo Zacarias/MF

Após comunicar o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) como medida arrecadatória, o governo voltou atrás, ainda de forma parcial e em menos de 12 horas, devido à reação negativa do mercado.

O entendimento de que o decreto poderia ser utilizado como método de controle cambial fez com que houvesse reuniões emergenciais no Palácio do Planalto e à decisão da Fazenda de continuar com as alíquotas sobre investimentos no exterior.

O Ministério da Fazenda divulgou, na última quinta-feira (22), vários ajustes no IOF com o intuito de fortalecer a arrecadação federal e conseguir cumprir a meta fiscal. O esperado é que haja mais de R$ 60 bilhões em dois anos com as mudanças.

Contudo, o comunicado das alterações teve uma grande reação negativa no mercado, que apresentou uma desconfiança com o decreto publicado pelo governo. As providências ainda foram acusadas de ser um mecanismo indireto de controle cambial por agentes do setor financeiro.

O secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, disse que as medidas não possuem a intenção de ter algum tipo de intervenção cambial e negou que o governo planeja conter a valorização do dólar, em uma coletiva de imprensa.

Após a repercussão, houve uma reunião de emergência no Palácio do Planalto e o resultado foi o Ministério da Fazenda recuando em dois pontos específicos: o aumento do IOF sobre fundos com aplicação no exterior e sobre remessas de investimentos de pessoas físicas para fora do país.

A alíquota do IOF sobre aplicações de fundos nacionais no exterior, que tinha aumentado para 3,5%, passou a ser de 0%. Mas a alíquota sobre remessas ao exterior com a finalidade de investimentos continua em 1,1%.

Contudo, as outras medidas permaneceram. De acordo com o governo, a arrecadação prevista somente para este ano é de R$ 18 bilhões com as alterações no IOF.

O congelamento de R$ 31,3 bilhões no Orçamento também contribuiu para a repercussão negativa no mercado. Ao juntar um entrave fiscal com uma providência de forte impacto arrecadatório causou um burburinho entre investidores e analistas.

Ainda que o governo tenha recuado em alguns pontos e tenha sido bem recebido por uma parte do mercado, a outra metade encarou com desconfiança a estabilidade e a previsibilidade das decisões econômicas.

Com o objetivo de controlar a repercussão, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, convocou uma coletiva de imprensa para esclarecer a alteração na postura, na última sexta-feira (23).

“Depois do anúncio de ontem, às 17h, recebemos uma série de subsídios de pessoas que operam no mercado salientando que aquilo poderia acarretar algum tipo de problema e passar uma mensagem que não era o que queria pelo Ministério da Fazenda”, declarou Haddad.

O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmou que é contra a utilização do aumento do IOF como instrumento de arrecadação.

“Em debates passados, quando se discutia o uso do IOF como alternativa para atingir a meta fiscal, eu, pessoalmente, nunca tive muita simpatia pela proposta. Não gostava da ideia”, afirmou Galípolo.

O que dizem os especialistas

De acordo com a economista-chefe da Galapagos Capital, Tatiana Pinheiro, e Fabio Graner, analista-chefe do JOTA, o principal ruído estava na tributação de transferências de ativos no exterior por fundos brasileiros. A avaliação do mercado era que a cobrança inviabilizaria todo o setor. Gestores argumentavam que a medida não fazia sentido, pois o aporte e a retirada eram em reais, não configurando operação cambial.

Ao WW da CNN Brasil, Tatiana disse que a volta atrás ajudou a acalmar o mercado, pois o anúncio inicial gerou dúvidas se o governo queria controlar o câmbio ou abandonar o regime flutuante, o que "feria um pouco a credibilidade", já que o regime flutuante estava muito consolidado há anos.

O jornalista Fábio Graner, também no WW da CNN, classificou o episódio do “vai e vem do IOF” como uma “ideia ruim para um problema ruim”, destacando que tanto o problema fiscal quanto a proposta de aumento do imposto foram mal formulados. Para ele, o recuo foi “necessário e correto”, mas acabou causando um desgaste político, comprometendo a vitória que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, teria ao convencer o presidente Lula a aprovar um corte de R$ 31 bilhões em gastos públicos.

Segundo Graner, o plano do Ministério da Fazenda agora é manter parte das medidas do IOF, especialmente o encarecimento do crédito, para evitar uma perda adicional de arrecadação de até R$ 18,5 bilhões, o que inviabilizaria bloqueios de gastos maiores. A estratégia também visa colaborar com o Banco Central no processo de desaceleração da economia, permitindo uma possível redução da Selic ainda este ano. “Essa é a lógica. Vai dar certo? Aí já é uma grande questão que a gente não sabe”, concluiu o jornalista.

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