Entidades criticam supostas falas de Milton Ribeiro e cobram transparência do MEC
Suposta atuação de pastores e do ministro seria um gabinete "às margens da legalidade", apontam
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
Entidades do âmbito da educação emitiram uma nota, nesta terça-feira (22), repudiando uma suposta afirmação do ministro da Educação, Milton Ribeiro, sobre repassar verbas para municípios indicados por dois pastores, a pedido do presidente Jair Bolsonaro (PL). De acordo com a pela União Nacional dos Estudantes (UNE), União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES) e Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG), a situação se trata de um gabinete paralelo que funciona "às margens da legalidade".
"No momento em que vivemos a maior crise da educação brasileira, quando milhares de jovens evadem das escolas e universidades e pós-graduandos padecem com 9 anos de bolsas congeladas, realidade que exigiria do Ministro um grande esforço para reverter esse cenário, vimos o ministério ser transformado num grande balcão de negócios a céu aberto para alimentar esquemas eleitorais do presidente", afirma trecho da nota.
Na nota, as entidades também cobraram transparência e impessoalidade na utilização dos recursos públicos e defenderam que Ribeiro "perdeu todas as condições" de permanecer como ministro da pasta. Além disso, a nota pede ainda que o Congresso Nacional, o Ministério Público Federal e autoridades judiciárias tomem providências.
Em áudio divulgado durante uma reunião de Milton Ribeiro, divulgado pelo jornal "Folha de S.Paulo", o ministro teria afirmado que repassa verbas para municípios indicados pelos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura, que não têm cargo no governo, mas participaram de várias reuniões com autoridades nos últimos anos.
Atualmente, Gilmar Santos é presidente da Convenção Nacional de Igrejas e Ministros das Assembleias de Deus no Brasil Cristo Para Todos (Conimadb). Arilton Moura também é da Assembleia de Deus. O repasse seria feito a pedido do presidente Jair Bolsonaro (PL).
"Foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim sobre a questão do [pastor] Gilmar", teria dito o ministro em um dos áudios. "Porque a minha prioridade é atender primeiro os municípios que mais precisam e, segundo, atender a todos os que são amigos do pastor Gilmar".
Em nota, o Ministério da Educação negou favorecimento a pastores e afirmou que Bolsonaro não pediu atendimento preferencial.
Confira a nota das entidades na íntegra:
"A UNE, UBES e ANPG vêm a público manifestar indignação com as estarrecedoras gravações em que o ministro da Educação admite, de viva voz, beneficiar amigos de determinados pastores na liberação de verbas públicas do MEC, atendendo ordem direta do próprio presidente da República. Trata-se do funcionamento de um gabinete paralelo, funcionando às margens da legalidade e sob critérios políticos e ideológicos nada republicanos.
No momento em que vivemos a maior crise da educação brasileira, quando milhares de jovens evadem das escolas e universidades e pós-graduandos padecem com 9 anos de bolsas congeladas, realidade que exigiria do Ministro um grande esforço para reverter esse cenário, vimos o ministério ser transformado num grande balcão de negócios a céu aberto para alimentar esquemas eleitorais do presidente.
Por isso, a UNE, UBES e ANPG repudiam a negociata em curso e exigem transparência, impessoalidade e projeto amplamente discutido com a sociedade para a utilização dos recursos do cidadão brasileiro.
A Educação precisa ser pilar para reconstrução nacional e de geração de oportunidades para nossa juventude. Se antes, por não lutar por avanços na educação brasileira, já não reunia condições de seguir à frente do MEC, diante deste escândalo, o ministro perdeu todas as condições de permanecer no cargo. A Educação precisa ser pilar para reconstrução nacional e de geração de oportunidades para nossa juventude. Se antes, por não lutar por avanços na educação brasileira, já não reunia condições de seguir à frente do MEC, diante deste escândalo, o ministro perdeu todas as condições de permanecer no cargo.
É imperioso que o Congresso Nacional, em sua atividade de fiscalização do Executivo, e o Ministério Público Federal e autoridades judiciárias tomem providências para cessar esse descalabro."