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Escolinha de Salvador lança feira científica pautada em produções africanas

Projeto une instituição, alunos e famílias em reconhecimento de saberes diaspóricos

Por Ane Catarine Lima
Ás

Escolinha de Salvador lança feira científica pautada em produções africanas

Foto: Divulgação

Visando fomentar o conhecimento acerca dos saberes ancestrais e afrodiaspóricos, a Escolinha Maria Felipa lançou nesta semana a feira científica Afrotech. Trata-se de um projeto baseado no livro “História Preta das Coisas”, de autoria da professora e doutora Bárbara Carine, que tem o objetivo de tornar visível produções científicas africanas que foram fundamentais para o desenvolvimento humano. A diretora da escolinha, a pedagoga Cristiane Coelho, disse ao Farol da Bahia que o racismo estrutural na sociedade brasileira é responsável pela ocultação das histórias e narrativas da população negra no Brasil e, por isso, é importante um trabalho de desconstrução. 

“Diante do processo de apagamento, a gente se depara com essa questão estrutural do racismo. Há o apagamento de invenções desenvolvidas pelo povo negro como, por exemplo, tecnologias, ciência, música, escrita e matemática. O que acontece é que as pessoas passam a referenciar a esse povo coisas negativas. Isso porque o processo de construção foi pautado pelo apagamento. Com o nosso projeto, a gente vem e descortina isso. Além disso, proporcionamos uma outra narrativa de produções científicas áfricas", afirmou Cristine Coelho.

Ainda segundo a pedagoga, a Afrotech também surgiu por uma motivação de melhorar o engajamento com a família dos alunos. Após precisar passar por um longo processo de reclusão devido à pandemia, a escolinha, segundo Cristiane Coelho, desenvolveu o projeto no momento de retomada das atividades presenciais e, através da feira, começou a trazer a família dos estudantes para protagonizar junto a eles um diálogo importante para a afroformação. 

A AfroTech, além de oferecer literatura base para o desenvolvimento das criações e replicações das invenções africanas e do povo preto, deu apoio,  incentivo e liberdade criativa e subjetiva a todos que participaram do projeto. 

"Apresentar às crianças invenções científico-tecnológicas de pessoas negras é de fundamental importância por diferentes fatores: as crianças passam a associar a ancestralidade negra à potência e não ao escravismo; elas passam a compreender na prática que pessoas negras são igualmente intelectualizadas, portanto, igualmente humanas; elas começam a acessar uma história outra que não história única brancocêntrica e eurocêntrica; as crianças brancas passam a reconhecer e valorizar a potencialidade das pessoas para além do seu círculo étnico-cultural; assim como as crianças negras passam a se empoderar desenvolvendo uma subjetividade altiva e positivada, dentre outros", afirmou  Bárbara Carine, que também é idealizadora e consultora pedagógica da Escola. 

Neste alinhamento entre ciência e conhecimento, os responsáveis e familiares se tornam protagonistas da feira junto com as crianças, em uma investigação dessas invenções. "É muito bom me ver aprendendo junto com meu filho um conteúdo que não me foi ensinado. Para além de importante para o meu desenvolvimento intelectual, é também importante para o meu desenvolvimento enquanto mulher negra, uma forma de fortalecer minha identidade e de exemplificar para meu filho e para a minha rede que todas as pessoas são capazes e não só algumas como foi evidenciado em toda a minha vida escolar", disse Maju Passos, mãe de Ayo, de 3 anos, aluno da turma G3 da escolinha.

História Preta das Coisas

Referência e base para a Afrotech, o livro A História Preta das Coisas, que é de autoria de Bárbara Carine e foi lançado em maio deste ano, pela Editora Livraria Física, apresenta produções científico-tecnológicas ancestrais e contemporâneas em afroperspectiva, buscando ressignificar as bases intelectuais ocidentais.

Ao problematizar "o milagre grego" - narrativa mitológica que assenta a origem de grande parte dos saberes ocidentais à civilização grega - e pautar a primazia kemética nas bases dos conhecimentos científicos, traz conceitos fundamentais para o entendimento deste apagamento histórico, como: pilhagem epistêmica e genocídio epistêmico, além de destacar 50 produções científicas pretas que foram fundamentais para o desenvolvimento humano impulsionado pela ciência e tecnologia africana e afrodiaspórica.

O livro ainda traz o fundamento da filosofia Ubuntu para compreensão de outras possibilidades de ser e estar no mundo, produzindo ciência a partir de outros marcadores existenciais e metodológicos.

Crédito: Paula Fróes

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