‘Esse apartamento é de meu pai’, diz governador do Acre ao negar que imóvel de R$ 5 milhões seja propina
Gladson Cameli é acusado de organização criminosa, lavagem de dinheiro, corrupção passiva, peculato e fraude a licitação
Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado
O governador do Acre Gladson Cameli prestou depoimento nesta terça (5), no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Ele é réu desde maio desse ano por organização criminosa, corrupção passiva, peculato, lavagem de dinheiro e fraude à licitação. O depoimento ocorreu após um pedido de adiamento feito pela defesa do gestor e aceito pela própria Justiça.
Ao final do depoimento, o governador não quis gravar entrevista. Os advogados de defesa declararam à imprensa que o processo está em fase de diligências finais e que a defesa deve apontar falhas no processo. Eles ainda pontuaram sobre HDs apreendidos que, aparentemente, não foram periciados e um relatório de inteligência financeira com informações “inconsistentes”.
'Apartamento é do meu pai', declara Gladson
Gladson Cameli disse, durante o depoimento, que o imóvel na grande São Paulo, avaliado em mais de R$ 5 milhões, não é dele. Falou ainda que a compra foi uma decisão da família, mediada pelo irmão. Segundo as investigações, o apartamento foi comprado pouco tempo após as eleições de 2018, quando Gladson foi eleito governador.
Ainda durante as investigações, a Construtora Rio Negro, pertencente ao irmão do governador ,Gledson Cameli, que foi apontada como responsável pelo pagamento de ao menos R$ 647 mil em parcelas de um apartamento na capital paulista e cujo verdadeiro dono seria o Gladson. Além disso, pagou 81% do valor de um veículo de luxo que, aponta a apuração, também pertencia a Cameli.
“Eu não tinha condições de pagar. Meu pai tinha condições financeiras. E a compra do imóvel era para criar uma situação confortável pro meu pai em São Paulo, que estava em tratamento contra o câncer", disse Gladson no depoimento desta terça (5).
Cameli ainda justificou que o irmão, Gledson, foi o 'grande negociador' que tratou das questões burocráticas envolvidas enquanto o pai tratava o câncer. Gledson também é um dos investigados da Ptolomeu. “Afirmo com toda segurança, esse apartamento é de meu pai. Totalmente dele, não é meu, não tem nada a ver comigo", afirmou.
Entenda quais são as acusações contra Gladson Cameli
A denúncia da PGR envolve um contrato assinado em 2019 pelo governo do Acre com uma empresa de engenharia do Distrito Federal chamada Murano. No valor de R$ 24,3 milhões, que previa manutenção predial.
De acordo com a investigação, a Murano não tinha escritório no Acre e nunca tinha atuado no estado antes. Para contratar a empresa, o governo acreano adotou a uma ata de registro de preços de um instituto de educação de Goiás. Com isso, evitou fazer uma licitação, em que mais empresas poderiam ter concorrido pelo o contrato.
De acordo com a investigação, um dia após a assinatura do contrato com o governo do Acre, a Murano celebrou parceria com a empresa Rio Negro, que tem entre os sócios Gledson Cameli, um dos irmãos do governador. Foi a Rio Negro quem passou a ser responsável pela execução dos serviços.
A relatora da ação no STJ, a ministra Nancy Andrighi, comentou no voto, que a Controladoria-Geral da União (CGU) apontou que o esquema permitiu a contratação “indireta” da Rio Negro pelo governo do Acre e configurou uma “tentativa de dar aparência legal de contratação sem licitação”.
Para os investigadores, esse esquema foi criado para permitir o desvio de verbas que beneficiaram o governador do Acre e seus familiares. A análise da CGU indicou aumento de preço de mais de R$ 8 milhões e superfaturamento de R$ 2,9 milhões no contrato assinado com a Murano.
De acordo com a denúncia da PGR, é “inegável o desvio de recursos públicos, os quais deveriam ser empregados na execução das obras, mas foram desviados em favor de familiares” de Cameli.