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Estudo: 41% dos profissionais negros do futebol dizem ter sofrido racismo

Pesquisa da CBF revela dados alarmantes sobre discriminação racial, religiosa, orientação sexual e origem

Por Da Redação
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Estudo: 41% dos profissionais negros do futebol dizem ter sofrido racismo

Foto: Fernando Torres/Agência Brasil

Uma iniciativa inédita sobre diversidade, idealizada pelo Observatório da Discriminação Racial no Futebol, em parceria com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e a Nike, traz à tona os resultados de um levantamento que contou com a participação de 508 profissionais do futebol brasileiro e abordou questões relacionadas a raça, religião, orientação sexual e origem. A pesquisa aponta que 41% dos profissionais negros que atuam no Brasil afirmam que já sofreram racismo durante o exercício da atividade.

O estudo apresenta reflexões em torno de dados coletados entre julho e agosto, com atletas, comissão técnica, staff dos clubes e arbitragem – atuantes nas Séries A e B do Campeonato Brasileiro masculino, além das Séries A1 e A2 do feminino na temporada 2023. Foram entrevistados profissionais como atletas, membros de comissão e arbitragem. 

"O levantamento em parceria com o Observatório da Discriminação Racial e a Nike é um retrato, um recorte importante sobre os efeitos nocivos do racismo. O combate diário e incansável a esse crime é uma das principais bandeiras da minha gestão. E com esse diagnóstico vamos trabalhar ainda mais para banir estas e outras práticas discriminatórias do futebol, seja dentro ou fora dos campos. Não podemos tolerar o racismo, o medo e a discriminação. Que cada vitória no combate a esse, que é um mal global, possa reverberar não só na cadeia do futebol brasileiro, mas em toda a sociedade", afirmou o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues.

Segundo o presidente da confederação, a CBF já adotou práticas que respeitam a igualdade, inclusão e transparência em todas ações internas e externas da entidade. "Também fomos pioneiros na inclusão de penas desportivas, que vão de perda de mando de campo, portões fechados até perda de pontos para o clube, para os casos de racismo. Hoje, somos referência mundial nesse tema. Cada passo deve ser  trilhado rumo a novas conquistas para o fim do racismo", completou. 

Preconceito racial e intolerância para religiões de matriz africana: um chamado à mudança

A CBF destaque que em um país onde 56% da população é negra, chama a atenção que 41% dos profissionais do futebol pertencentes a essa raça tenham sofrido racismo ao exercerem suas atividades. Os números de ataques oriundos de torcidas em estádios (53,9%) e redes sociais (31%) mostram que é urgente campanhas educativas e mais rigor nas punições. Ao mesmo tempo, 11,4% dos participantes afirmaram ter sofrido casos dentro de centros de treinamentos e concentrações, o que evidencia que o problema está longe de se restringir às ocasiões mostradas pelas telas que cobrem os jogos de futebol.

Aproximadamente 4,23% dos entrevistados declararam não ter religião específica, enquanto 5,08% se identificaram com candomblé e umbanda. Apenas 2,75% dos praticantes dessas religiões de origem de matriz africana sentem que suas crenças são respeitadas no contexto do futebol.

“A fotografia dos times de futebol no Brasil nos apontava para um espaço democrático e com a grande presença de atletas negros. No entanto, o percentual de atletas era uma questão que o Observatório sempre quis saber, e esse levantamento foi a oportunidade para conhecermos esses dados. Além disso, o atual estágio da luta contra a discriminação racial nos indica que precisamos saber onde estão os negros e que cargos ocupam para além das quatro linhas, afinal na luta contra o racismo precisamos promover a diversidade e a inclusão. Além disso, nós precisamos expandir nosso olhar para todos os atos discriminatórios e foi justamente isso que buscamos com esse primeiro passo. Os dados desse levantamento certificam nossa desconfiança de que o futebol brasileiro está longe de ser um local democrático e com respeito às diferenças”, comentou Marcelo Carvalho, diretor executivo do Observatório da Discriminação Racial no Futebol.

Pontos de atenção: orientação sexual entre os homens e melhor compreensão sobre xenofobia

Os resultados também destacam os desafios enfrentados pela comunidade LGBTQIAP+ no futebol. Apenas 1% dos homens entrevistados se declararam homossexuais ou bissexuais. A CBF aponta que o número contrasta com as estimativas nacionais e internacionais que sugerem uma representação de 8,5% na população brasileira. A confederação afirma que o dado revela a importância de avaliar o impacto do medo de represálias, como achincalhamento público, perda de contratos e falta de oportunidades, sobre a autenticidade das respostas.

O levantamento mostra que 61% dos casos de homofobia relatados são diretamente cometidos pela torcida - sendo 36% pela adversária e 25% da torcida do próprio time.

O relatório identificou que 21,06% dos participantes relataram ter sofrido xenofobia, no entanto, apenas 3% decidiram denunciar tal comportamento. Muitos dos casos não foram reportados devido à falta de compreensão de que a xenofobia é um crime, conforme estabelecido pela Lei 9.459 de 1997, que altera os artigos 1º e 20 da Lei 7.716/89, sobre os crimes resultantes de preconceito de raça ou cor.

Inclusão de mulheres no futebol para além dos campos

Considerando o número total de participantes, 28% são mulheres. Desse número, 57% são atletas e 35% ocupam cargos como técnicas, assistentes, dirigentes, assessoria e equipe médica, também do futebol feminino. Apenas 8% delas atuam no futebol masculino, sobretudo nas áreas de comunicação e saúde. Em contrapartida, 18% dos homens trabalham nas divisões do Brasileirão Feminino em cargos diversos. Essa proporção deixa claro que quase metade - exatamente 45% - das pessoas que atuam nas Séries A1 e A2 do campeonato feminino são homens. Este recorte evidencia a urgência de esforços para qualificar e incentivar a abertura de espaço para mulheres em cargos de liderança e direção, tanto em competições masculinas quanto femininas. 

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