Saúde

Estudo aponta que dormir pouco pode aumentar o risco de demência

Pesquisa tem limitações e alguns pontos fortes

Por Da Redação
Ás

Estudo aponta que dormir pouco pode aumentar o risco de demência

Foto: Reprodução

Um novo estudo relata algumas das descobertas mais persuasivas sobre como o sono se relaciona com o declínio cognitivo, sugerindo que as pessoas que não dormem o suficiente na casa dos 50 e 60 anos podem ter maior probabilidade de desenvolver demência quando forem mais velhas.

A pesquisa, publicada esta semana na revista Nature Communications, tem limitações, mas também vários pontos fortes. Ela acompanhou quase 8 mil pessoas na Grã-Bretanha por cerca de 25 anos, começando quando elas tinham 50 anos de idade. E descobriu que aquelas que relataram consistentemente dormir em média seis horas ou menos por noite durante a semana tinham cerca de 30% mais probabilidade do que as pessoas que dormiam regularmente sete horas (índice definido como sono "normal" no estudo) de serem diagnosticadas com demência três décadas depois.

De acordo com o Dr. Erik Musiek, neurologista e codiretor do Centro de Ritmos Biológicos e do Sono da Universidade de Washington em St. Louis, que não esteve envolvido na nova pesquisa, mudanças cerebrais pré-demência, como o acúmulo de proteínas associadas ao Alzheimer, são conhecidas por começar cerca de 15 a 20 anos antes de as pessoas apresentarem problemas de memória e raciocínio, então os padrões de sono dentro desse período podem ser considerados um efeito emergente da doença. 

Com base em registros médicos e outros dados de um proeminente estudo com funcionários públicos britânicos chamado Whitehall II, que começou em meados da década de 1980, os pesquisadores rastrearam quantas horas 7.959 participantes disseram ter dormido em relatórios preenchidos seis vezes entre 1985 e 2016. No final do estudo, 521 pessoas foram diagnosticadas com demência, com uma idade média de 77 anos.

Os pesquisadores foram capazes de ajustar os cálculos conforme vários comportamentos e características que podem influenciar os padrões de sono das pessoas ou o risco de demência, disse a autora do estudo, Séverine Sabia, epidemiologista do Inserm, centro francês de pesquisa em saúde pública. Entre estes, tabagismo, consumo de álcool, atividades físicas, índice de massa corporal, consumo de frutas e vegetais, nível de escolaridade, estado civil e condições como hipertensão, diabetes e doenças cardiovasculares.

Segundo especialistas, o estudo teve limitações que o impedem de provar que o sono inadequado pode ajudar a causar demência. A maioria dos dados do sono foi autorrelatada, uma medida subjetiva que nem sempre é precisa.

"É sempre difícil saber o que concluir com esse tipo de estudo", escreveu Robert Howard, professor de psiquiatria do envelhecimento na University College London, um dos vários especialistas que enviaram comentários sobre o estudo à Nature Communications. "Os insones - que provavelmente não precisam de mais motivos para ficarem revirando na cama", acrescentou ele, "não devem ficar achando que vão ter demência se não dormirem imediatamente".

Existem teorias científicas convincentes sobre por que dormir pouco pode exacerbar o risco de demência, especialmente de Alzheimer. Estudos descobriram que os níveis de amilóide no líquido cefalorraquidiano, uma proteína que se aglomera em placas nos casos de mal de Alzheimer, "aumentam se você não consegue dormir", disse Musiek. Outros estudos de amilóide e outra proteína de Alzheimer, a Tau, sugerem que "o sono é importante para limpar as proteínas do cérebro ou limitar sua produção", disse ele.

Musiek afirma que uma teoria diz que, quanto mais tempo as pessoas passam acordadas, mais tempo seus neurônios ficam ativos e mais amilóide é produzida. Outra teoria defende que, durante o sono, o fluido que flui no cérebro ajuda a eliminar o excesso de proteínas, então um sono inadequado significa mais acúmulo de proteína, disse ele. Alguns cientistas também acham que ter tempo suficiente em certas fases do sono pode ser importante para limpar as proteínas.

O novo estudo "fornece uma evidência bastante forte de que o sono é importante na meia-idade", disse Musiek. "Mas ainda temos muito que aprender sobre isso, como essa relação de fato se dá nas pessoas e o que fazer a respeito".
 

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