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Saúde

Estudo brasileiro descobre que mulheres com menor nível de carnitina têm maior chance de ter Alzheimer

Segundo o pesquisador, o estudo também abre caminhos para a busca de novos tratamentos

Por FolhaPress
Ás

Estudo brasileiro descobre que mulheres com menor nível de carnitina têm maior chance de ter Alzheimer

Foto: Imagem ilustrativa/Pexels

Pesquisadores brasileiros descobriram que mulheres com déficit cognitivo tem um menor teor de carnitina no plasma sanguíneo do que homens. A carnitina é uma molécula ligada ao nosso metabolismo de ácidos graxos e gorduras. Os especialistas acreditam que a descoberta pode abrir novos caminhos na busca de alvos para terapias de doenças neurodegenerativas.

O estudo, financiado pelo Instituto Serrapilheira, envolveu uma coorte com 125 pacientes. A partir de uma amostra de sangue dos voluntários, foram analisados os níveis de carnitina no plasma. Em seguida foram feitos tratamentos matemáticos e análises estatísticas para identificar correlações confiáveis. Os resultados mostram que há uma redução significativa da concentração da carnitina no plasma de mulheres, mas não de homens.

"A gente precisa estudar melhor para poder detalhar os mecanismos. É possível que a carnitina seja uma molécula protetora, que acaba desregulada, diminuída", diz Mychael Lourenço, professor do Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Os achados podem explicar porque pessoas do sexo feminino estão mais susceptíveis a doenças como o Alzheimer.

Segundo o pesquisador, o estudo também abre caminhos para a busca de novos tratamentos. Seu grupo de pesquisa pretende dar novos passos e investigar qual o mecanismo metabólico em comum entre a molécula e o Alzheimer para que seja possível, em seguida, levantar alternativas para a ação de medicamentos.

"Não é simplesmente dar um suplemento de carnitina para os pacientes. Sabendo que o uso de gordura pelo corpo está envolvido, precisamos investigar quais os alvos medicáveis", afirma.

A pesquisa, que foi financiada pelo Instituto Serrapilheira, incluiu pacientes saudáveis ou com déficit cognitivo no Brasil e nos Estados Unidos. Contou com a participação do Instituto D’Or e da Universidade da Califórnia e foi publicada na revista científica Molecular Psychiatry, do prestigiado grupo Nature.

Para Ricardo Lima Filho, pesquisador da UFRJ e co-autor do estudo, esse também é um passo importante para encontrarmos novas alternativas de diagnósticos e de biomarcadores da doença.

Usando as medidas de carnitina avaliadas no plasma, os pesquisadores conseguiram melhorar a precisão do diagnóstico dos pacientes. Na clínica médica, identificar o Alzheimer corretamente é um desafio grande, visto que muitas demências possuem características muito similares. Se os resultados da pesquisa se confirmarem em estudos com populações maiores, um simples exame de sangue pode facilitar a tarefa.

O estudo, entretanto, possui limitações. A principal, apontada pelos próprios pesquisadores, é o tamanho da coorte. Com 125 participantes do Brasil e Estados Unidos, os resultados encontrados possuem certa robustez, mas ainda precisam ser avaliados em grupos maiores e de maior representatividade genética.

O Brasil tem vivido, assim como outros países em desenvolvimento, um aumento do número de casos de Alzheimer e doenças neurodegenerativas. Parte desse aumento pode ser atribuída ao envelhecimento da população, mas existe uma grande contribuição do cenário socioeconômico desfavorável.

Um estudo recente mostrou que a desigualdade de renda afeta de forma mais profunda o desenvolvimento de Alzheimer nos países latino-americanos, incluindo o Brasil, do que os Estados Unidos. A pesquisa, que incluiu mais de 2 mil participantes, revelou uma correlação entre prevalência da doença e o índice de Gini, que mensura desigualdades.

"Sedentarismo, má-nutrição, estresse e falta de sono. Tudo isso contribui para o risco de desenvolver doença de Alzheimer", afirma Lourenço. Esses são alguns dos fatores que podem ser associados a um contexto socioeconômico desfavorável.

Ano passado, um grande levantamento coordenado por um grupo de pesquisa da Universidade de São Paulo revelou que mais das metades dos casos de demência no subcontinente poderiam ser evitados se os principais fatores de risco modificáveis da doença fossem controlados. No Brasil, esses fatores incluem a falta de acesso à educação, perda auditiva e obesidade.
 

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