Estudo da Fiocruz revela novos corredores de transmissão da febre amarela no Brasil
Pesquisadores geraram 147 genomas do vírus, gerando uma análise mais precisa da disseminação da doença
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Um estudo coordenado por várias unidades da Fiocruz e publicado na revista Science analisou a dinâmica de transmissão do vírus da febre amarela no Brasil nos últimos sete anos, identificando novos corredores de propagação. Utilizando dados epidemiológicos e estudos filogenéticos, que analisaram amostras de macacos e seres humanos infectados, os pesquisadores geraram 147 genomas do vírus, permitindo uma análise mais precisa da disseminação da doença.
A pesquisa revelou a existência de três linhagens do vírus (Ia, IIb e IIIc), sendo esta última, a IIIc, uma descoberta inédita associada a um corredor espacial de transmissão que liga o Norte do país à região conhecida como Bacia Extra-Amazônica, abrangendo os estados de Goiás, Distrito Federal, Minas Gerais e Sul do Brasil. Isso representa a primeira evidência desse novo corredor de disseminação.
As três linhagens apresentaram diferentes padrões de transmissão, com a linhagem Ia se espalhando do Norte de Minas Gerais em direção ao Sudeste e Nordeste, e a linhagem IIb dispersando-se inicialmente de Goiás para o Sudeste, atingindo Minas Gerais, Espírito Santo e São Paulo, com uma expansão para o Sul do país.
Os resultados também mostraram uma sincronicidade entre o risco estimado de disseminação do vírus e os picos epidêmicos, indicando a influência das mudanças climáticas nas condições propícias para a transmissão. A pesquisa apontou que o aumento da temperatura e da precipitação em algumas áreas pode estar contribuindo para a manutenção de focos de transmissão do vírus.
Além disso, o estudo observou que as alterações na legislação florestal em vigor desde 2016 contribuíram para a degradação dos ambientes florestais, aumentando a exposição dos trabalhadores rurais adultos, que atuam na exploração madeireira e na agricultura, ao vírus. Essa observação está em consonância com a incidência da doença, que foi maior entre homens com idade entre 45 e 49 anos, envolvidos nesse tipo de atividade.
O estudo ressalta a importância do monitoramento genômico do vírus da febre amarela e de outras doenças, considerando variáveis como condições climáticas, cobertura vacinal e incidência da doença para aprimorar a vigilância e o controle das doenças no país.