Estudo inédito identifica proteína do organismo associada a casos graves da Covid-19
Pesquisa foi realizada pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP
Foto: Antônio Luiz/EPTV
Uma pesquisa inédita apontou que o agravamento no quadro clínico de pacientes infectados pela Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, está ligado ao grau de ativação dos inflamassomos no organismo. Segundo o estudo, que foi realizado pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, tais proteínas atuam como soldados, desencadeando uma inflamação controlada para proteger os órgãos e, ao mesmo tempo, combater os elementos invasores.
Contudo, nos pacientes com Covid-19, esse sistema de defesa ficou desorganizado, o que contribuiu para o agravamento da doença. Em um período de oito meses, mais de 40 cientistas focaram os estudos em um grupo de 128 voluntários infectados pelo Sars-Cov-2. Naqueles que apresentavam sintomas mais graves da doença, foi identificado um processo inflamatório fora do comum.
De acordo com o coordenador do estudo, Dario Zamboni, ao serem ativados, os inflamassomos promovem o controle das infecções. Caso o processo seja extremo, o organismo produz uma resposta exagerada, podendo lesar tecidos e piorar o quadro. “Fazendo uma analogia seria como se nosso corpo fosse uma casa e essas proteínas são o fogo. A gente precisa do fogo, a gente usa para cozinhar, para acender uma vela, para fazer um churrasco. Mas, ao mesmo tempo, se ela está superativada, descontrolada, pode incendiar a casa inteira e sair do controle. Então, as proteínas que fazem a defesa do nosso corpo, têm que ser muito controladas. Esse vírus, o coronavírus, Sars-Cov-2, ele ativa demais essas proteínas e elas podem piorar o quadro clínico”, afirma Zamboni.
Diante das informações obtidas em laboratório, os pesquisadores identificaram que é possível aumentar a chance de sobrevivência de pacientes em estado grave com Covid-19. Durante a pesquisa, a média de dias de internação de pacientes no centro intensivo, que precisavam de respiradores, caiu de sete para três dias.
“Cada quadro clínico é diferente. Muitas pessoas têm uma doença muito leve, né? Nesse caso, é melhor não tomar esses medicamentos, porque essas proteínas podem até estar contribuindo para o controle da doença. Em alguns casos mais graves, aí, sim, seria importante usar o medicamento.” Os resultados obtidos em Ribeirão Preto foram publicados em novembro deste ano no Journal of Experimental Medicine, um dos mais importantes jornais médicos científicos do mundo.