Europa reage a Trump e defende mais gasto militar

O novo presidente americano quer que a Otan, aliança militar liderada por Washington, eleve a meta de despesa com defesa de seus 32 membros de 2% para 5% do PIB de cada país

Por FolhaPress
Ás

Atualizado
Europa reage a Trump e defende mais gasto militar

Foto: Reprodução

Líderes europeus reagiram à pressão feita por Donald Trump e disseram que o continente precisa aumentar seu gasto militar, além de ter uma estratégia de defesa própria.

O novo presidente americano quer que a Otan, aliança militar liderada por Washington, eleve a meta de despesa com defesa de seus 32 membros de 2% para 5% do PIB de cada país. Ele voltou a pedir isso na segunda (20), ao tomar posse.

Reunidos nesta quarta (22) em Paris, o presidente francês, Emmanuel Macron, e o premiê alemão, Olaf Scholz, foram diretos ao comentar a volta do republicano ao poder que exerceu de 2017 a 2021. "O presidente Trump será, e isso já está claro, um desafio", disse o germânico.

"A Europa precisa não só gastar mais, mas ter uma estratégia própria de defesa", afirmou o francês. Ambos os políticos estão em apuros domésticos, mas lideram os países mais importantes da perna europeia da Otan, ao lado do Reino Unido.

Eles também buscaram demonstrar união contra as ameaças de guerra tarifária por parte de Trump, dizendo se opor ao mecanismo.

As divergências geopolíticas ainda se concentram na resolução da Guerra da Ucrânia: a Otan até aqui vinha alimentando a máquina de guerra de Kiev para resistir, mas o presidente já disse querer forçar uma negociação mesmo que às expensas de perdas territoriais dos invadidos por Vladimir Putin.

Além disso, o republicano adicionou um tema polêmico ao cardápio, dizendo que quer comprar a Groenlândia, território estratégico do ponto de vista militar e rico em minerais, da colega de Otan Dinamarca provocando dura reação europeia.

Uma radical opositora de Putin, a chefe da diplomacia da UE (União Europeia), clube econômico e político que quase espelha a composição da Otan no continente, com a notável exceção britânica, fez uma defesa da posição de Trump.

Em entrevista nesta quarta, a estoniana Kaja Kallas disse que ele está certo acerca do gasto militar europeu. Comentando a invasão russa da Ucrânia, ela disse que "o tempo não está do lado da Rússia, mas não está do nosso também porque não estamos fazendo o suficiente".

Em uníssono, neste mesmo dia, o premiê polonês, Donald Tusk, disse que a pressão de Trump faz sentido. "Nós não devemos ficar irritados. Nós não devemos ficar atônitos", disse ele, cujo país está na presidência rotativa de seis meses da UE, no Parlamento Europeu.

A Polônia é o país que mais gasta, em proporção do PIB, com defesa na Otan. Com 4,12% de dispêndio, supera mesmo os EUA de Trump, com 3,38%. Por óbvio, são dados nominais incomparáveis: os americanos controlam 41% do gasto militar de todo o planeta.

O movimento de Trump não é inédito. Quando assumiu pela primeira vez, em 2017, fez exatamente a mesma crítica e propôs que a meta de 2%, válida desde 2006, fosse elevada para 4%.

O mundo era outro naquele momento, em especial na Europa.

A Rússia havia acabado de anexar a Crimeia em 2014, mas ninguém esperava uma guerra total em solo europeu. Assim, a crítica de que os europeus gastavam pouco com defesa era correta no geral: há dez anos, a Alemanha, país mais rico do continente, só dispendia 1,19% do PIB no setor, segundo dados da Otan.

A alienação dos colegas europeus da Otan por Trump foi tão grande que o mesmo Macron, já no poder, disse em 2020 que a aliança estava "em morte cerebral". À pressão do republicano foi somada a realidade, quando os tanques de Putin cruzaram a fronteira ucraniana em 24 de fevereiro de 2022.

A partir daí, o perfil do gasto europeu na Otan mudou completamente, com o maior aumento mundial em 2023, segundo os dados mais recentes do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (Londres): 40% de crescimento, chegando a 17% do dispêndio mundial total. O Canadá, com baixa despesa, também entra nessa conta.

Se em 2014 apenas 3 dos então 28 membros da Otan ultrapassavam a meta dos 2%, dez anos depois são 24 de 32 integrantes do clube. Trump, como de costume, diz que isso foi uma vitória exclusiva dele, ignorando o papel preponderante de Putin no feito.

Já no campo da desinformação, o americano segue sugerindo que os EUA bancam a defesa da Europa. É uma meia verdade, sendo gentil, porque se por um lado a estratégia militar e o grosso das armas nucleares da Otan emanam de Washington, Trump aqui compara dos orçamentos de defesa.

Como a extensa operação americana com as guerras de Israel no Oriente Médio desde o 7 de outubro de 2023 mostra, a projeção global de poder dos EUA ultrapassa e muito as fronteiras europeias.

Uma régua mais correta, o orçamento da Otan para sua manutenção e operações conjuntas, desmente Trump. Em 2024, ele foi de relativamente poucos 4,6 bilhões (R$ 28,7 bilhões hoje). Os EUA e a Alemanha são os países que mais contribuem para a conta, com 15,9% do gasto total cada.

Depois deles vêm, respeitando grosso modo os PIBs de cada país, o Reino Unido (10,9%) e a França (10,19%). Sob essa métrica, a fatura é rachada de forma relativamente proporcional com vantagem na hora do pagamento para os americanos, cuja economia é mais de seis vezes maior do que a alemã.

Apesar da promessa de gastar mais, pedir 5% do PIB é irrealista para países com economias maiores. Scholz e outros líderes já rejeitaram a meta, embora o novo secretário-geral da Otan, o holandês Mark Rutte, tenha admitido que os 2% já não refletem a realidade e podem ser reajustados.
 

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