Ex-chefe da PF na Bahia diz que Torres pediu operação conjunta com PRF, mas negou pois achava inadequado
Delegado Leandro Almada prestou depoimento à PF na investigação das blitz da PRF no segundo turno das eleições de 2022
Foto: Agência Brasil
O delegado de Polícia Federal Leandro Almada, superintendente da PF na Bahia no ano passado, prestou depoimento aos investigadores em Brasília e afirmou que houve pedido para atuação conjunta com a Polícia Rodoviária Federal (PRF) nas blitz no estado no segundo turno das eleições de 2022.
O pedido de atuação conjunta da PF com a PRF, segundo Almada, partiu do então ministro da Justiça, Anderson Torres, e Márcio Nunes, então diretor-geral da PF.
O delegado Leandro Almada, no entanto, diz que não atendeu aos pedidos de Torres e Nunes por “achar inadequado”.
“No que tange à questão da PRF, como eu já tinha conversado com outro delegado dois ou três dias antes, quando surgiu essa primeira linha, eu já tinha falado com ele que achava inadequado. Em que pese naquela frente ali com o ministro, no dia, a gente falou que usaria todo o apoio necessário sem problema. Mas, de fato, a gente alinhou depois dessa reunião, quando eles foram embora, que a gente não faria, entendendo inadequado essa ação conjunta. A gente atuaria sozinhos, dentro do nosso planejamento da PF. No padrão da PF, sem necessidade desse apoio ou de equipes integradas. E foi isso que ocorreu”, relatou o delegado no depoimento, por videoconferência.
Segundo o depoente, o objetivo da reunião foi tratar da questão eleitoral. “Pediram para reforçar bastante a nossa parte ostensiva no dia do segundo turno, porque eles ouviram relatos de uma compra de votos muito grande que estaria ocorrendo no estado da Bahia. E vários crimes eleitoral, tanto em relação a compra de votos, como é… de que facções criminosas em Salvador estariam apoiando candidato do PT. Que estariam constrangendo eleitores em seções eleitorais com armas de fogo”.
“A gente conversou sobre isso, tinha realmente um buchicho lá na cidade né. Mas eu expliquei que isso já tinha acontecido no primeiro turno. Em relação às questões de facções criminosas apoiando candidato que ele citou, a gente já tinha visto que era uma fake news. A gente explicou. Olha, isso não procede.”
O delegado afirmou que a reunião, basicamente, tratou durante todo o tempo da questão da desconfiança sobre compra de votos e de uma “suposta anormalidade na Bahia”.
“O diretor-geral, a todo momento falou que era, dentro do escopo do que já tinha determinado, que era para reforçar [o policiamento] ao máximo possível. Eu falei que já tinha colocado mais de 70%, eles falaram “coloque mais ainda. O máximo possível”. Para não ficar ninguém parado. Eu falei que seria atendido, sem problema nenhum né. A gente atenderia aquilo ali.”
De acordo com o delegado Leandro Almada, houve também um pedido formal da Secretaria de Operações Integradas (Seopi), do Ministério da Justiça, questionando quantos policiais rodoviários federais trabalhariam com a PF na ação.
“Houve, ainda, uma sugestão para a gente, e na verdade essa sugestão já havia sido passada pela Seopi, do Ministério da Justiça. Cobrando a questão de quantos PRFs que trabalhariam com a gente no segundo turno das eleições. Nesse dia também, além do reforço, foi sugerido que a gente atuasse em conjunto com a PRF. Que eles tinham um efetivo grande na Bahia também. E que poderíamos atuar juntos”, explicou.
O depoimento de Leandro Almada contesta as versões de Anderson Torres e Márcio Nunes, que disseram à PF que não pediram apoio da PF nas ações da PRF no estado.
Em depoimento, Márcio Nunes confirmou a versão do ex-ministro e afirmou que o objetivo da visita foi verificar obras realizadas no prédio da Superintendência da PF na Bahia.
Já o ex-ministro negou qualquer “determinação” para atuação conjunta da PF e PRF da Bahia, nos bloqueios em rodovias, no dia das eleições.