Ex-pastor que matou a pedradas mulheres que saíram da igreja é condenado
A pena total foi fixada em 32 anos de prisão em regime fechado, sendo 16 anos para cada homicídio

Foto: Reprodução
Após nove anos do crime, o ex-pastor Edimar da Silva Brito foi condenado a 32 anos de prisão em regime fechado pelo assassinato da pastora e professora universitária Marcilene Oliveira Sampaio e sua prima Ana Cristina Santos Sampaio, em janeiro de 2016, na cidade de Vitória da Conquista, Bahia.
A decisão foi proferida pelo Tribunal do Júri da Comarca de Vitória da Conquista. A defesa já entrou com um Habeas Corpus para tentar anular o julgamento, mas o pedido ainda está em análise pela Primeira Câmara Criminal do TJ-BA (Tribunal de Justiça da Bahia).
O crime foi motivado por uma disputa na igreja liderada pelo então pastor Edimar da Silva Brito. Marcilene Oliveira Sampaio, que antes era uma de suas principais líderes religiosas, decidiu romper com o ex-pastor e fundar um novo templo, levando consigo parte dos fiéis da antiga congregação.
Segundo os autos do processo, Edimar não aceitou a dissidência e a perda de seguidores, o que teria sido o estopim para o crime. "O réu não aceitava a dissidência religiosa e a perda de fiéis que migraram para o novo templo fundado pelas vítimas", destacou a juíza Ivana Pinto Luz na sentença.
Depoimentos colhidos durante a investigação revelam que Edimar via Marcilene como uma traidora e considerava que sua nova igreja estava enfraquecendo sua autoridade religiosa e financeira. "A disputa pelo controle da igreja e dos fiéis se tornou uma questão pessoal para o réu, que decidiu eliminar aquelas que considerava responsáveis por seu declínio", afirmam os autos do processo.
O crime ocorreu na noite de 19 de janeiro de 2016, em uma estrada na região de Barra do Choça, no sudoeste da Bahia. Segundo a Polícia Civil, Edimar e dois cúmplices - Adriano Silva dos Santos e Fábio de Jesus Santos - seguiram as vítimas até um trecho deserto da estrada e interceptaram a picape em que viajavam.
No carro estavam:
Marcilene Oliveira Sampaio, pastora e professora universitária.
Ana Cristina Santos Sampaio, prima de Marcilene.
Carlos Eduardo de Souza, marido de Marcilene, que sobreviveu ao ataque.
Carlos Eduardo foi espancado e sequestrado pelos criminosos, mas conseguiu escapar após se jogar do carro em movimento. Ele sobreviveu e denunciou Edimar à polícia.
Enquanto isso, Marcilene e Ana Cristina foram brutalmente assassinadas a pedradas. Segundo os autos, os criminosos obrigaram as vítimas a sair do carro e caminhar até um local isolado, onde foram executadas.
A perícia indicou que os golpes foram direcionados principalmente à cabeça, com força tão intensa que os corpos ficaram irreconhecíveis. A juíza responsável pelo caso destacou na sentença a crueldade do ato. "O crime foi praticado com extrema violência, causando sofrimento intenso às vítimas antes da morte. O meio empregado demonstra a frieza dos executores".
A polícia prendeu Adriano e Fábio em 20 de janeiro de 2016, e ambos confessaram participação, apontando Edimar como o mandante. O ex-pastor, por sua vez, fugiu e permaneceu foragido até ser preso em 26 de janeiro, em uma fazenda no distrito de Ibitupã, em Ibicuí.
Durante o interrogatório, Edimar negou envolvimento e alegou que foi coagido pelos executores a acompanhá-los até o local do crime, versão descartada pela investigação.
JULGAMENTO E CONDENAÇÃO
O julgamento aconteceu em março de 2025 e durou mais de 10 horas. O Conselho de Sentença aceitou a tese do Ministério Público, condenando Edimar por homicídio qualificado, devido à premeditação e ao meio cruel utilizado nos assassinatos.
A juíza Ivana Pinto Luz destacou na sentença que o crime foi planejado e motivado por vingança. "A escolha do local, a forma de abordagem e os relatos testemunhais reforçam que os homicídios foram meticulosamente planejados pelo réu".
A pena total foi fixada em 32 anos de prisão em regime fechado, sendo 16 anos para cada homicídio. O tempo que ele já cumpriu na prisão - 2 anos, 5 meses e 20 dias - será descontado da pena total, mas isso não altera o regime fechado determinado pela Justiça.
O QUE DIZ A DEFESA?
O advogado de Edimar da Silva Brito, Antonio Rosa dos Santos, afirmou que a defesa considera a condenação um erro judiciário e que houve falha na prestação jurisdicional durante o julgamento. Ele já entrou com um pedido de habeas corpus. Se aceito, pode anular o julgamento e levar o caso a uma nova análise.
Um dos principais argumentos é que Carlos Eduardo de Souza, marido de Marcilene e principal testemunha da acusação, não compareceu ao Tribunal do Júri. Segundo a defesa, havia nos autos uma certidão de 17 de fevereiro informando que ele não foi localizado.
A defesa também argumenta que, diante da ausência da testemunha, o depoimento gravado de Carlos Eduardo deveria ter sido exibido aos jurados. A juíza autorizou a exibição do vídeo, mas problemas técnicos na Vara do Júri impediram que ele fosse apresentado.
A defesa entende que a juíza deveria ter dissolvido o Conselho de Sentença e marcado um novo julgamento, garantindo que todas as provas pudessem ser apresentadas adequadamente. Como isso não ocorreu, a estratégia agora é tentar reverter a condenação no TJ-BA.